Venezuelana citada em vazamento da Lava Jato publicou delação sigilosa
Luisa Ortega Díaz identifica-se até hoje como procuradora-geral da Venezuela, mas no exílio. Destituída por Nicolas Maduro em agosto de 2017, a dissidente chavista veio ao Brasil dias depois de fugir para a Colômbia, acusando o presidente venezuelano de perseguição política. Indicada por Hugo Chávez, ocupou o cargo por mais de uma década, e acabou atuando contra o esquema de corrupção venezuelano depois de deixar o posto, levando todas as provas com ela quando deixou o país.
Ortega esteve em Brasília para participar de uma reunião de Procuradores do Mercosul --e é esta a visita celebrada por procuradores da Operação Lava Jato como uma oportunidade para vazar dados sigilosos da delação premiada da Odebrecht, segundo mensagens divulgadas pelo site Intercept Brasil e pelo jornal Folha de S. Paulo.
Ela começou a desentender-se com Maduro em 2016 por não concordar com a prisão de alguns líderes políticos. Fugiu da Venezuela com o marido, o deputado opositor Germán Ferrer —foram até Aruba e, de lá, embarcaram para a Colômbia. Quando foi removida do cargo por Maduro, precisou deixar a sede na procuradoria venezuelana de motocicleta, em fuga para não ser presa.
Ainda como procuradora, após romper com o chavismo, acusou o governo chavista de pagar para a empreiteira US$ 30 bilhões por obras inacabadas. "É o que o Estado venezuelano desembolsou e pagou para a Odebrecht por 11 obras de infraestrutura que estão incompletas, entre elas a terceira ponte sobre o rio Orinoco e o Metrô de Caracas", disse Ortega em uma entrevista coletiva do dia 1° de agosto, antes de ser destituída. Ao deixar a Venezuela, gravou um vídeo afirmando ter detalhes do esquema de corrupção em toda a América Latina, envolvendo Maduro e a construtora brasileira Odebrecht.
De Bogotá, Ortega partiu para o Brasil. Chegou aqui no dia 22 de agosto de 2017, quando, segundo as mensagens, o procurador do MPF Paulo Roberto Galvão diz: "Vcs que queriam leakar [vazar] as coisas da Venezuela, tá aí o momento. A mulher está no Brasil [referindo-se à procuradora]". A procuradora Jerusa Viecili então sugere: "Vamos convidar ela para vir na FT" [Força-Tarefa], e o procurador Roberson Pozzobon então brinca: "Junto com o Tacla [...] e dai quando eles estiverem na sala de reunião....". Jerusa ri. O advogado Rodrigo Tacla Duran declarou recentemente, em entrevista ao UOL, que pagou para não ser preso e relatou ter sido alvo de extorsão de advogado que cobrou US$ 5 mi na Lava Jato.
Em Brasília, a procuradora destituída reuniu-se com o então procurador-geral Rodrigo Janot e participou da reunião de chefes de ministérios públicos do Mercosul e países associados. No encontro, ela voltou a acusar Maduro de ter sido beneficiado pelo esquema de corrupção que envolvia agentes públicos do país e a empreiteira Odebrecht. Ela ainda se ofereceu para colaborar com as investigações. O ex-chanceler Aloysio Nunes chegou a dizer que concederia asilo político se Ortega solicitasse, recebendo-a de "braços abertos". Ortega retornou para a Colômbia, onde o governo tinha garantido a sua proteção.
Em seguida, fez um tour acusando Maduro. Esteve na Costa Rica, onde visitou a Corte Interamericana de Direitos Humanos; no México, onde entregou documentos de interesse da Procuradoria mexicana; e no Peru, onde todos os ex-presidentes são investigados por corrupção envolvendo construtoras brasileiras e por países europeus. Por onde passou, entregou provas de envolvimento de corrupção venezuelana que interessavam à Justiça.
Ela estava em Genebra, reunida com autoridades da ONU, quando divulgou o primeiro vídeo da delação da Odebrecht que estava sob sigilo determinado pelo STF brasileiro. A publicação foi feita semanas depois da visita ao Brasil. Nas imagens, o ex-presidente da Odebrecht na Venezuela, Euzenando Prazeres de Azevedo, afirmou ter entregue US$ 35 milhões para a campanha de Maduro para a presidência, na eleição após a morte de Chávez.
Segundo as mensagens publicadas pela Folha e pelo Intercept, não há como saber quem vazou a delação sigilosa —nem para quem teria sido vazado o documento. Pozzobon pergunta aos procuradores como o áudio publicado por Ortega foi vazado, e Galvão responde: "Nos não passamos... Só se foi Vlad", "Ou Orlando, escondido" —em referência aos procuradores Vladimir Aras e Orlando Martello.
Consultado neste domingo, o site de Luisa Ortega já não tem informações publicadas sobre a Odebrecht, e a página da procuradora no Facebook está indisponível. O vídeo com a delação de Azevedo ainda está disponível no Twitter.
Entre as delações divulgadas pela Lava Jato de forma oficial, o empresário Emílio Odebrecht confessa em depoimento que pediu que ex-presidente Lula interviesse junto com o ex-presidente venezuelano, Hugo Chávez, em defesa do grupo, que disputava um contrato na época contra a construtora Andrade Gutierrez.
Ortega esteve ainda em Haia, na Holanda, onde denunciou Maduro ao TPI (Tribunal Penal Internacional) por crimes contra a humanidade, apresentando documentos para comprovar os abusos do governo chavista. Hoje ela vive entre a Colômbia e a Espanha, e apoia o presidente autoproclamado Juan Guaidó.
Durante o governo Chávez, a construtora firmou diversos contratos importantes com o país e tem hoje, no total, 11 projetos inacabados, entre elas obras no metrô de Caracas, uma terceira ponte sobre o rio Orinoco, a construção de uma usina hidrelétrica e obras de modernização no Aeroporto de Maiquetía, nos arredores de Caracas.
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