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Eleito como antiesquerdista, Witzel se alia a petista que preside Alerj

Wilson Witzel (d) e André Ceciliano (e) participam de solenidade juntos; o governador define o presidente da Alerj como "importante parceiro" - Rafael Wallace/Alerj/Divulgação
Wilson Witzel (d) e André Ceciliano (e) participam de solenidade juntos; o governador define o presidente da Alerj como "importante parceiro" Imagem: Rafael Wallace/Alerj/Divulgação

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

13/07/2019 04h00

Eleito com a bandeira do antipetismo, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), tem no presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), André Ceciliano (PT), um dos principais fiadores do seu mandato.

Foi a parceria entre Witzel e o petista que possibilitou o anúncio de projetos exaltados nas redes sociais do governador, como a expansão do programa Segurança Presente para a Baixada Fluminense e a convocação de mais de 3 mil policiais concursados, graças a mais de R$ 200 milhões liberados pela Alerj. O parlamentar também é apontado na Assembleia como responsável por possibilitar a aprovação de projetos de lei de interesse do Executivo.

Em evento realizado nesta quarta-feira (10), Witzel falou sobre a parceria com o petista e fez um agradecimento público. Na ocasião, Ceciliano estava entre os agraciados com a Medalha do Mérito Coronel Assunção, concedida pela PM (Polícia Militar).

"Registro a minha gratidão ao André Ceciliano, que tem sido um grande parceiro colaborando para o Segurança presente e para a ampliação dos quadros da Polícia Militar com os policiais que estão em formação. São as economias que os deputados fizeram na Assembleia legislativa que nos permitem superar as dificuldades", declarou o governador.

Já no Twitter, na publicação em que anunciou a implantação do Segurança Presente nos 13 municípios da Baixada Fluminense, Witzel não citou a Alerj nem o petista como seus parceiros na empreitada.

Procurado pela reportagem para comentar as relações que mantém com Ceciliano, Witzel não se manifestou. Pelo telefone, um de seus assessores informou que as declarações foram dadas no contexto institucional, já que se trata do presidente da Alerj, e que as falas não refletem uma "dobradinha" entre PT e PSC.

Ceciliano segue a mesma linha e diz que a relação é "institucional". "O governo tem um déficit de R$ 8 bilhões para este ano e R$ 11 bilhões previstos para o ano que vem. Temos procurado ajudar, repassando as economias que a Assembleia tem feito", afirmou o deputado.

No entanto, ele reconhece que os principais repasses da Alerj ao estado foram voltados para a área da segurança pública --carro-chefe do governo de Witzel. "Nós ainda vamos colaborar para a reforma do IML [Insituto Médico Legal] e bancar a compra de veículos blindados para a PM por R$ 10 milhões", disse.

O presidente da Alerj sabe que para comandar o plenário com 70 deputados, é necessário dialogar com a base governista que conta com o apoio de 12 parlamentares do PSL, maior bancada da assembleia e partido do presidente Jair Bolsonaro.

O petista também vê no horizonte a reeleição para a presidência da Casa, em fevereiro de 2021, e o eventual apoio de Witzel para isso. Questionado, porém, diz que "ainda é cedo" para falar sobre o assunto.

Alerj acelera análise de projetos do Executivo

A sinergia entre Witzel e Ceciliano tem ficado mais clara na Alerj e gera críticas por parte da oposição. No último dia 3, às vésperas do recesso da assembleia, por exemplo, o petista colocou em pauta quatro projetos de autoria do Executivo, todos votados junto à Lei de Diretrizes Orçamentárias --que precisava ser apreciada antes do recesso.

Ceciliano (ao fundo) observa Witzel (em primeiro plano), durante anúncio da expansão do Programa Segurança Presente - Suellen Lessa/Alerj/Divulgação - Suellen Lessa/Alerj/Divulgação
Ceciliano (ao fundo) observa Witzel (em primeiro plano), durante anúncio da expansão do Programa Segurança Presente
Imagem: Suellen Lessa/Alerj/Divulgação

Em discussão única, foram concedidos benefícios fiscais para o setor de joalheria e relojoaria, além de produtos derivados da carne. No mesmo dia, a Alerj permitiu modificações na gestão do Bilhete Único e aprovou o projeto que regulamenta a transferência de policiais militares para a reserva.

Ceciliano também assinou um projeto de lei junto ao deputado Alexandre Knoploch (PSL) que valida todos os benefícios fiscais aprovados pelo Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), que haviam sido concedidos pelo estado.

O petista minimiza as reclamações da oposição e afirma que não tem problemas em dialogar, com quem quer se seja, pelo bem do estado. "Ainda não teve uma grande bola dividida, sequer, para que possamos mensurar esta base do PSC de Witzel. Deputado 'vai chorar sempre', mas o estado é maior do que isto. No final do ano temos as contas para pagar, é nisto que foco", afirmou.

Aliança pode ter dificuldades em 2020

A aliança entre Wilson Witzel e André Ceciliano pode ficar abalada nas eleições municipais do ano que vem.

O PSL já anunciou o deputado estadual Rodrigo Amorim como pré-candidato à prefeitura do Rio, e se cogita que ele terá o apoio de Witzel. Na eleição de 2018, os dois estiveram juntos em um ato de campanha em que Amorim destruiu uma placa com o nome da vereadora Marielle Franco (PSOL), morta meses antes.

Outra possibilidade seria o lançamento de uma candidatura própria do PSC referendada pelo governador.

O PT de Ceciliano, por sua vez, deve apoiar uma candidatura composta por partidos de esquerda, possivelmente encabeçada pelo deputado federal Marcelo Freixo (Psol), um dos principais críticos à política de "abate" de criminosos defendida por Witzel.

Citação em relatório do Coaf

Ceciliano está entre os 22 deputados citados pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira Atípicas), por ter lotado em seu gabinete funcionários cujas movimentações de dinheiro não são condizentes com os seus vencimentos. De acordo com o órgão vinculado ao Ministério da Economia, três funcionários ligados ao gabinete do deputado teriam movimentado cerca de R$ 45 milhões entre os anos de 2011 e 2017.

O parlamentar nega que tenha havido qualquer irregularidade no seu gabinete e afirma já ter colocado os seus sigilos telefônico e bancário à disposição das investigações conduzidas pelo MP-RJ.