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Vazamentos da Lava Jato

Porta-voz diz que Glenn Greenwald cometeu crime, mas não especifica qual

Guilherme Mazieiro

Do UOL, em Brasília

29/07/2019 20h27Atualizada em 10/09/2019 14h38

O porta-voz da Presidência, Otávio Rego Barros, disse hoje que não há dúvidas de que o jornalista Glenn Greenwald, editor do site The Intercept Brasil, cometeu crime na divulgação de mensagens privadas trocadas entre o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), quando ainda era juiz, e membros da operação Lava Jato.

Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) declarou que, "no meu entender" Glenn cometeu um crime, declaração reiterada por Rego Barros. O porta-voz, porém, não especificou quais fraudes o jornalista teria cometido. Ele disse que o presidente se baseou em "uma percepção pessoal".

A reportagem do UOL perguntou a Rego Barros qual seria o crime de Glenn. "Há alguma dúvida do crime? Sobre o crime que foi cometido pelo jornalista? Por parte do presidente não há dúvida", respondeu o general.

A reportagem insistiu no questionamento. "Repito: há alguma dúvida que houve cometimento de crime? Próxima pergunta", afirmou, sendo sucedido por um longo silêncio na sala onde ocorria a entrevista coletiva diária a jornalistas.

Questionado novamente sobre qual crime havia sido cometido, disse que o presidente tem se pronunciado que o entendimento dessa ação de hacker "tem a intenção de atingir a Lava Jato, o ministro Sergio Moro, a minha pessoa [Bolsonaro] e tentar desqualificar e desestabilizar o governo".

Os questionamentos sobre o crime foram feitos por jornalistas do UOL, Folha de S. Paulo e O Globo.

O porta-voz disse que a invasão de celulares é "crime e ponto final" e que Bolsonaro "sequer" colocou em xeque a liberdade de imprensa.

Ao ser questionado se o jornalista atuou como hacker, Rego Barros disse que é preciso "entender o contexto como um todo", e não deu mais detalhes.

No meu entender, (Glenn) cometeu crime, diz Bolsonaro

Band Notí­cias

A Constituição Federal garante o sigilo da fonte a jornalistas, que não são obrigados a revelar a ninguém quem forneceu as informações que publicaram.

A Polícia Federal informou que o jornalista não é investigado. O The Intercept sustenta que recebeu as mensagens de uma fonte anônima.

Um dos supostos hackers preso pela PF na semana passada, Walter Delgatti, afirmou em depoimento que foi ele quem invadiu os celulares de Moro e outras autoridades e repassou as mensagens a Glenn, mas sem se identificar para o jornalista. Os outros três suspeitos negam participação no caso. Todos estão presos preventivamente em Brasília.

Desde 9 de junho, o Intercept tem publicado reportagens que indicam que Moro orientou passos da Lava Jato. Folha, Veja e o blog do Reinaldo Azevedo, no UOL, também tiveram acesso ao material.

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