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Bolsonaro escanteia defesa da Previdência em semana de falas polêmicas

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), participa da cerimônia de troca da Guarda Presidencial, em frente ao Palácio do Planalto - Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo
O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), participa da cerimônia de troca da Guarda Presidencial, em frente ao Palácio do Planalto Imagem: Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

05/08/2019 04h00

O recesso parlamentar acaba nesta semana e, com o fim do repouso, a reforma da Previdência volta a tramitar no Congresso Nacional. Nesta última semana, porém, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se notabilizou por declarações polêmicas e por escantear a defesa da proposta, considerada hoje a pauta econômica mais importante do governo.

Tida como impopular, a reforma da Previdência é apoiada por Bolsonaro, mas passa longe de ser sua prioridade em declarações públicas. Em falas recentes, a reforma da Previdência só foi citada de forma rápida por Bolsonaro, sendo a reforma tributária e a Medida Provisória da Liberdade Econômica mais lembradas.

Em transmissão ao vivo de 50 minutos no Facebook realizada nesta quinta-feira (1º), a reforma da Previdência foi mencionada por menos de 30 segundos após mais de meia hora de conversa. Por sua vez, assuntos que ganharam amplo espaço foram críticas à proibição da pesca de tainha e a defesa da exploração turística de reserva no litoral fluminense.

No Twitter, a única vez na semana que Bolsonaro citou explicitamente a reforma da Previdência foi na quarta (31), mas sem destaque em meio à comemoração do menor índice da Selic (a taxa básica de juros) na história.

Declarações de Bolsonaro dominam tópicos do Twitter

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Antes, a questão havia sido revivida por Bolsonaro na rede social somente em 18 de julho de forma rápida em vídeo em comemoração aos 200 dias de gestão e em 10 de julho, quando o texto-base da reforma foi aprovado em primeiro turno na Câmara dos Deputados

Enquanto isso, nos últimos dias, o presidente fez uma série de declarações controversas que chamaram a atenção. Por exemplo, afirmou que Fernando Santa Cruz, militante desaparecido na ditadura militar com corpo nunca encontrado e pai do atual presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), foi morto por guerrilheiros da esquerda em brigas internas.

O presidente também:

  1. Questionou o trabalho realizado pela Comissão Nacional da Verdade --que analisou crimes cometidos durante a ditadura militar;
  2. Substituiu membros da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos justificando a mudança pelo Brasil tê-lo como presidente, que é de direita;
  3. Falou que "problemas acontecem" em relação à morte de presos em briga de facções criminosas rivais em Altamira (PA);
  4. Se envolveu na exoneração do presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) após não concordar com a divulgação dos últimos dados que indicam aumento do desmatamento na Amazônia;
  5. Fez duras críticas à maneira com que o programa de saúde Mais Médicos foi firmado nos governos do PT com Cuba, além de pôr em dúvida a qualidade da formação dos médicos daquele país.

Durante o recesso parlamentar, Bolsonaro ainda negou que pessoas passem fome no Brasil, chamou governadores nordestinos de "paraíba" - expressão pejorativa às pessoas daquela região -, e acusou o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, que tem divulgado conversas suspeitas de membros da Lava Jato, de cometer crime, sem especificar qual.

Embora tenha aumentado o tom em determinados assuntos, o discurso agrada grande parte de seu eleitorado. Ao mesmo tempo, para convencer a população em geral quanto à reforma, a Secretaria de Comunicação da Presidência lançou nova etapa da campanha publicitária a favor da proposta.

Na terça (30), Bolsonaro recebeu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em café da manhã no Palácio da Alvorada, residência oficial onde mora, para tratar de pautas legislativas. A preocupação é que as declarações não contaminem o clima no Congresso para a votação da reforma.

Próximos passos no Congresso

A Proposta de Emenda à Constituição da reforma está prevista para voltar a ser discutida na terça (6) em segundo turno no plenário da Câmara. As mudanças possíveis agora são apenas a retirada de trechos do texto. A tendência é que a reforma seja aprovada na Casa com facilidade para então seguir para o Senado. Como no primeiro turno, são necessários pelos menos 308 votos favoráveis.

No Senado, a proposta será analisada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) com relatoria de Tasso Jereissati (PSDB-CE). Um dos principais pontos abertos é a inclusão ou não de estados e municípios no texto. A reforma também tem de passar por dois turnos de votação na Casa a fim de ser promulgada.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.