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Frota sai de tropa de choque de Bolsonaro a crítico e expulso do PSL

29.mai.2019 - O deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP) e o presidente Jair Bolsonaro (PSL) na Câmara durante homenagem ao humorista Carlos Alberto de Nóbrega - Michel Jesus/Câmara dos Deputados
29.mai.2019 - O deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP) e o presidente Jair Bolsonaro (PSL) na Câmara durante homenagem ao humorista Carlos Alberto de Nóbrega Imagem: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

14/08/2019 17h54

Em outubro de 2016, o então deputado federal Jair Bolsonaro desembarcava no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, sob gritos de "mito" e "1, 2, 3, 4, 5 mil, queremos Bolsonaro presidente do Brasil".

"Aí, Edu!", grita Alexandre Frota, filmando a cena, para o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O terceiro filho do hoje presidente da República responde com um sorriso e um sinal de positivo.

Enquanto Bolsonaro saúda seus apoiadores, Frota chama o político e o abraça de forma a ambos serem enquadrados pela câmera de seu celular. Os dois sorriem. "Vamo aê!", diz Frota. O vídeo foi postado na página de Bolsonaro no Facebook.

Quase três anos depois, os Bolsonaro estão de um lado, e Frota, de outro.

A expulsão de Frota do PSL, decidida ontem, é o ponto culminante de um processo no qual o deputado federal deixou de fazer parte da tropa de choque de Bolsonaro para ser um dos principais críticos do presidente que ajudou a eleger.

Frota era visto com frequência ao lado de Bolsonaro, principalmente nas manifestações de rua contra o PT e a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) -- eventos que ajudaram a pavimentar a carreira política do ex-ator. O apoio era retribuído pelo então parlamentar.

"Estou muito orgulhoso do que você tem feito ultimamente", disse Bolsonaro em um vídeo publicado em janeiro de 2018 pelo canal O Jacaré de Tanga. "Você teve uma participação muito importante na questão do impeachment, meus parabéns a você, estou com saudades de você. Vindo a Brasília, estamos juntos. Meu irmão, um abraço, estamos juntos, Deus te acompanhe, tá ok? Valeu, Frota!"

Em março do ano passado, em tom de brincadeira, Bolsonaro chegou a dizer que, se fosse eleito presidente, Frota seria seu ministro da Cultura --a pasta foi extinta pelo atual governo. Quando Bolsonaro foi vítima de atentado durante a campanha eleitoral de 2018, Frota o visitou no hospital.

O ator transformado em ativista político vira deputado federal, e o militar transformado em deputado vira presidente da República. Com a entrada do novo ano, não demora para a relação começar a azedar.

Um dos marcos é o pedido, por Frota, de prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), segundo filho do presidente. Queiroz fez movimentações atípicas de R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017 e recebeu repasses de outros funcionários do gabinete de Flávio quando este era deputado estadual. O caso é investigado pelo Ministério Público do Rio.

"Hoje encontrei o Flávio Bolsonaro, ele me confirmou que o pai ficou chateado comigo, foi a terceira pessoa que veio me dar o recado. OK, recado dado", escreveu Frota no Twitter em março --ele saiu das redes sociais depois da expulsão do PSL.

04.abr.2018 - Jair Bolsonaro e Alexandre Frota em protesto contra Lula, em Brasília - Leandro Prazeres/UOL - Leandro Prazeres/UOL
04.abr.2018 - Jair Bolsonaro e Alexandre Frota em protesto contra Lula, em Brasília
Imagem: Leandro Prazeres/UOL

As críticas públicas de Frota ao governo Bolsonaro e a aliados se tornaram cada vez mais frequentes. O tiroteio verbal dos últimos meses envolveu desde o escritor Olavo de Carvalho a Eduardo Bolsonaro, passando pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e o senador Major Olimpio (PSL-SP).

O embate público com Eduardo, por exemplo, envolveu acusações mútuas de que ambos pegaram carona na popularidade de Jair Bolsonaro para serem eleitos.

Os bate-bocas com correligionários foram a face pública de uma disputa de poder dentro do PSL paulista. Frota desafiou o filho do presidente em busca do comando do partido no estado e apoia a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) para a disputa pela Prefeitura de São Paulo no ano que vem. Já Eduardo Bolsonaro tenta convencer o apresentador José Luiz Datena a disputar o cargo pela legenda

No mês seguinte, da tribuna da Câmara, Frota disse que estava difícil defender o governo, reclamando do que via como interferência de Olavo de Carvalho. Em entrevista ao UOL, cobrou de Jair Bolsonaro mais prestígio ao PSL e àqueles que o ajudaram a ser eleito para a Presidência.

"Bolsonaro várias vezes falou para mim, falou para vários outros: soldado meu que é ferido na guerra não fica para trás. Todos ficaram", afirmou.

Sabendo do risco que corria no PSL ao comprar briga com o presidente e seu filho, fez um desafio em tom de premonição.

Em junho, Frota já falava sobre risco de expulsão

UOL Notícias

"Eles não podem me expulsar do partido. Ou até podem. Me manda embora do partido, eu levo o meu fundo partidário. Eu te garanto que, três horas depois, eu estou em outro partido, porque o que não falta é convite", afirmou. "Eu fui eleito pelo PSL, eu gosto do PSL e gosto do trabalho que eu estou fazendo no PSL. Agora, eu não sou bobo. Não sou otário? Camarão que dorme o mar leva."

O limite da paciência de Bolsonaro foi cruzado com as críticas em tom cada vez mais elevado contra a indicação de Eduardo Bolsonaro para se tornar embaixador nos EUA, o que ainda precisa ser aprovado pelo Senado. Segundo o blogueiro do UOL Tales Faria, isso levou o presidente a articular pessoalmente a expulsão de Frota.

A reportagem tentou contato com Frota hoje, sem sucesso. Segundo um assessor, o deputado está no Rio de Janeiro, onde nasceu, praticamente incomunicável. Ele tem convites de quatro partidos: PSDB, DEM, PRB e Podemos. Seu destino deverá ser conhecido na semana que vem.