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Tereza Cristina supera Damares e se firma como mais influente das ministras

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, durante evento que marca 200 dias do governo - MYKE SENA/ ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, durante evento que marca 200 dias do governo Imagem: MYKE SENA/ ESTADÃO CONTEÚDO

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

14/08/2019 04h01Atualizada em 14/08/2019 13h32

Só há duas mulheres à frente dos 22 ministérios do governo Bolsonaro: Tereza Cristina (Agricultura) e Damares Alves (Mulher e Direitos Humanos). E embora o presidente tenha dito que cada uma delas equivale a dez homens, há indícios de que uma, na verdade, tem peso maior - dado o destaque e o tratamento que recebe.

Ao longo desses primeiros oito meses de governo, Tereza Cristina tem sido presença frequente ao lado de Jair Bolsonaro (PSL) - seu nome aparece pelo menos o dobro de vezes do que o de Damares na agenda do presidente este ano.

Além disso, Bolsonaro não costuma defender temas com os quais o Ministério dos Direitos Humanos lida, nem promove eventos da pasta no Planalto, ao contrário do que acontece com o da Agricultura.

Em março, ao explicar a relevância dos ministros, o presidente chegou a dizer que ouve "até a Damares, que pode achar que é uma ministra com importância não muito grande".

Ambas foram indicadas como ministras no governo de transição, no ano passado, mas, desde então, é possível perceber distinções no apoio recebido e no estilo de cada uma.

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Tereza Cristina, 65, era deputada federal por Mato Grosso do Sul, um dos maiores estados agropecuários do país, e presidente da Frente Parlamentar de Agropecuária, formada por 257 deputados e senadores antes de assumir uma pasta no governo.

Além do apoio político por trás, Tereza conta com a confiança do setor agropecuário por ser engenheira agronômica e ter carreira na agroindústria. Seu nome ao ministério foi uma indicação da Frente Parlamentar - mas tratada por Bolsonaro como uma "escolha técnica".

Tereza integrou a comitiva das principais viagens nacionais e internacionais feitas pelo presidente no primeiro semestre e atenuou crises criadas pelo Planalto e Itamaraty.

Diante da reação de países árabes e asiáticos após anúncio de que o país transferiria a embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, Tereza Cristina defendeu uma solução "intermediária" - um escritório comercial em Jerusalém.

Historicamente consumidores importantes de produtos agrícolas brasileiros, os países árabes foram recebidos por Tereza Cristina, que se esforçava para manter os negócios agrícolas nacionais.

Entre assessores e integrantes do governo, Tereza tem a reputação de saber ouvir, negociar e falar com propriedade sobre os assuntos abordados.

Na última semana, ao perceber que a liberação de nova leva de agrotóxicos no país estava gerando repercussão negativa, convidou jornalistas para tomar um café. No encontro, mostrou dados sobre o registro dos produtos e tirou dúvidas.

No início do mês, em evento em Anápolis, Bolsonaro repetiu sorridente que Tereza Cristina "vale por 10" e, ao comentar críticas feitas à divulgação de taxas de desmatamento na Amazônia pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), deixou que ela explicasse a metodologia utilizada.

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Damares Alves, 54, é formada em Direito e Pedagogia e atuou na área de Direitos Humanos nas últimas décadas.

Um dos últimos nomes a serem anunciados, ela foi indicada para o cargo quando trabalhava como assessora parlamentar do então senador Magno Malta (PR-ES), de quem Bolsonaro era próximo. O fato de ela ser evangélica foi preponderante na escolha.

Com apenas um mês de governo, Damares se envolveu em diversas polêmicas por dar declarações consideradas machistas e antiquadas por parte da sociedade. Muitas são falas em vídeos resgatados da época antes do ministério.

Uma emissora holandesa recuperou vídeo em que Damares afirmava que, naquele país, especialistas recomendavam que bebês fossem masturbados a partir dos sete meses de idade. Ao assumir a pasta, a ministra afirmou que o Brasil entrava em "nova era" em que "menino veste azul e menina veste rosa", que meninas são princesas e, meninos, príncipes.

Em fevereiro, recomendou que pais de meninas no Brasil "fugissem" do país devido aos dados alarmantes de violências cometidas contra mulheres. Ela voltou a frequentar as redes sociais em maio, ao ter vídeo antigo viralizado em que declarava que a princesa Elsa, personagem principal do filme Frozen, da Disney, terminou a trama sozinha porque seria lésbica.

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Damares não conta com uma base política, religiosa ou de direitos humanos organizada que lhe dê apoio consistente, em especial quando no fogo cruzado. Na última semana, ela participou de almoço com Bolsonaro e líderes evangélicos do Congresso, mas, publicamente, sua presença passou despercebida.

Hoje em dia não é tão comum ver Bolsonaro ao lado de Damares em eventos de trabalho. Uma das últimas vezes em que foram vistos juntos foi em culto de conferência de uma igreja, no qual também estava a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.