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Paulinho da Força e Átila Lins lideram gasto com passagens aéreas na Câmara

Átila Lins (PP-AM) foi o deputado que mais gastou com viagens de avião no primeiro semestre - Divulgação
Átila Lins (PP-AM) foi o deputado que mais gastou com viagens de avião no primeiro semestre Imagem: Divulgação

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

15/08/2019 04h00

Ninguém gastou tanto dinheiro com viagens de avião quanto os deputados federais Átila Lins (PP-AM) e Paulinho da Força (Solidariedade-SP). Os dois ficaram no topo de um pódio formado pelos deputados federais que mais utilizaram o serviço nos seis primeiros meses de 2019, período em que a Câmara desembolsou R$ 19,4 milhões para esse serviço.

Átila e Paulinho não figuram no topo pela primeira vez. Os dois já levaram o ouro e a prata em 2015, primeiro ano da legislação anterior, segundo os dados coletados pelo Ranking dos Políticos e repassados ao UOL.

Entre janeiro e junho de 2019, Átila gastou R$ 169,8 mil em viagens de avião. O deputado comprou 45 bilhetes no período, quase sempre da mesma companhia aérea, a Gol. O que ficou caro para os cofres públicos foram as oito vezes em que ele fretou um avião para chegar ao interior do Amazonas, seu reduto eleitoral.

Essas oito passagens custaram R$ 109,5 mil. O voo mais barato saiu por R$ 5.000; o mais caro custou R$ 27,3 mil. Os outros foram de R$ 20 mil, R$ 12 mil, R$ 15 mil e R$ 7.600.

A viagem de R$ 27,3 mil aconteceu no dia 1º de maio, quando Átila fretou a aeronave Caravan PT-OQT, da empresa Cleiton Táxi Aéreo. A missão era cuidar do traslado de Átila em três trechos: de Manaus a Tefé (575 km de distância), de Tefé a São Paulo de Olivença (distante 453 km) e de São Paulo de Olivença a Manaus (975 km).

"Átila é do Amazonas. Quem é do Norte alega a necessidade de visitar povoados distantes. Aí ele aluga o avião, um argumento aceitável", diz Renato Dias, diretor-executivo do Ranking dos Políticos.

A média de gastos de Átila com passagens, no entanto, é bem maior do que a de seus colegas amazonenses. Os outros sete deputados do estado gastaram, em média, R$ 54,9 mil com viagens de avião no mesmo período, três vezes menos.

Procurado, Átila não respondeu à reportagem.

Paulinho da Força compra 95 passagens

Apenas quatro parlamentares gastaram mais de R$ 100 mil com passagens de avião no primeiro semestre. Além de Átila, Paulinho cravou o segundo lugar com R$ 118,7 mil, seguido pelo pastor Marco Feliciano (Pode-SP), com gasto de R$ 104 mil, e Clarissa Garotinho (Pros-RJ), reembolsada pela Câmara em R$ 100,5 mil.

"Faz mais sentido que um deputado do Amazonas gaste mais do que um parlamentar de São Paulo", afirma Dias. "Talvez seja mais escandaloso o Paulinho gastar R$ 118 mil."

O deputado federal Paulo Pereira da Silva comprou 95 tickets em seis meses - Janaina Garcia/UOL - Janaina Garcia/UOL
O deputado federal Paulo Pereira da Silva comprou 95 tickets em seis meses
Imagem: Janaina Garcia/UOL
Paulinho comprou 95 passagens em seis meses, quase o dobro da média entre os outros parlamentares paulistas, que adquiriram, em média, 51 bilhetes. Apenas nos 28 dias de fevereiro, Paulinho comprou 32 tíquetes, 18 deles em nome de assessores pessoais.

Apenas quatro deputados de São Paulo compraram mais passagens aéreas do que Paulinho da Força, mas nenhum deles chegou perto dos R$ 118 mil pagos pelo deputado do Solidariedade.

Carlos Sampaio (PSDB) comprou 177 viagens e gastou R$ 97,9 mil em seis meses. Vinícius Carvalho (PRB) comprou 101 bilhetes por R$ 52,3 mil. Paulo Freire Costa (PL) comprou 98 passagens e gastou R$ 80,4 mil por eles, enquanto e Marco Feliciano (Pode) fez 128 compras em seis meses por R$ 104 mil.

Procurado, Paulinho afirma em nota que "não cometeu nenhum excesso". "A alta taxa de utilização é consequência da desenvoltura parlamentar do deputado, que é um dos parlamentares mais atuantes da Câmara, que mesmo assim está sempre presente nos seus redutos eleitorais espalhadas pelo Estado com mais de 600 municípios, e também porque foram utilizadas não apenas pelo deputado mas por toda sua assessoria na divulgação do seu mandato. Isto mostra que os dados são distorcidos e manipulados para respaldar uma crítica equivocada. Quanto os comentários do Sr. Renato Dias, a assessoria do parlamentar estuda medidas jurídicas contra a manifestação difamatória veiculada."

Fretar aeronave custa mais

Boa parte dos gastos se dá com a locação ou fretamento de aeronaves, como aconteceu com Átila em regiões com poucas opções de deslocamento. Os 38 fretamentos contratados pelos deputados nos seis primeiros meses do ano custaram R$ 422,3 mil à Câmara.

Como é parte da cota parlamentar, parte habitual de gastos dos deputados, a Casa providencia o reembolso sem exigir a justificativa para as viagens. Basta que se apresente o recibo com a descriminação de valores, datas e trechos sobrevoados.

Um dos maiores gastos com fretamento saiu do gabinete do deputado Jesus Sérgio (PDT-AC), que foi reembolsado em R$ 34,3 mil por três viagens.

"No Acre temos quatro municípios isolados onde só é possível chegar de avião ou de barco. Um exemplo é o município de Jordão, onde recebi expressiva votação", afirmou Jesus Sérgio ao UOL. "Para chegar e partir nos finais de semana, que é o tempo que temos para visitar os municípios, é necessário o fretamento. De barco, partindo de Tarauacá, essa viagem pode demorar de quatro a sete dias."

Em alguns casos, ele informa, a aeronave precisa pernoitar ou retornar no dia seguinte, "quando aproveito para visitar outro município, o que aumenta ainda mais o preço do fretamento".

O parlamentar sugere a aprovação do Projeto de Lei 13.097/2015, com regras e subsídios para empresas aéreas dedicadas ao transporte regional. "Um incentivo para que empresas de menor porte ofereçam transporte aéreo ligando cidades do mesmo estados ou voos regionais a um custo menor."

Renato Dias sugere outra mudança: que os parlamentares não acumulem para si as milhas utilizadas em viagens oficiais. "Eles ficam com as milhas e depois viajam com a família. É preciso manter as milhas para viagens apenas para fins parlamentares. Isso economizaria muito aos cofres públicos."

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