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Frota critica influência de Olavo de Carvalho em governo Bolsonaro

O deputado federal Alexandre Frota discursa na Câmara dos Deputados - Luis Macedo/Câmara dos Deputados
O deputado federal Alexandre Frota discursa na Câmara dos Deputados Imagem: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Do UOL, em São Paulo

19/08/2019 15h06

Em entrevista hoje à rádio Jovem Pan, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) fez duras críticas à influência do escritor e filósofo conservador Olavo de Carvalho no governo do presidente Jair Bolsonaro. Ex-filiado ao PSL, partido do próprio Bolsonaro, Frota afirmou que Olavo exerce "pressão" no Planalto e é responsável por um "governo paralelo".

"A nova política é comandada por aquele Herculano Quintanilha (em referência ao astrólogo protagonista da novela O Astro) da Virgínia, chamado Olavo de Carvalho. É um cara que faz um governo paralelo ao governo do Bolsonaro. Se eu soubesse que estaria colocando no Planalto o Olavo de Carvalho, eu não teria votado no Bolsonaro", disse, indo além e citando exemplos da pressão exercida.

"O que foi feito com ministros, generais, com o Santos Cruz (ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência), a humilhação pelas quais as pessoas passam... O Exército foi humilhado, e o Flávio Bolsonaro vai à Virgínia mandando uma medalha ao Olavo. Durante a campanha, ele fazia parte, mas era velada a situação. Era velado. Quando o Bolsonaro entra e o Olavo passa a decidir, convida o (Ricardo) Vélez (Rodriguez, ministro da Educação entre janeiro e abril), que foi um desastre, levou três meses para tirar aquele cara de lá. Nem a esquerda, nem o centro, os moderados, e a direita queriam ele lá. O comunicado do MEC para cantar o Hino Nacional, para cantar o jingle dele (o slogan 'Brasil acima de tudo, Deus acima de todos')... O cara foi um desastre. E quando o Olavo foi indagado sobre a indicação, ele disse: 'assisti a uns vídeos'."

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"A história é muito louca lá dentro também. O (ministro das Relações Exteriores) Ernesto Araújo é uma indicação do Olavo de Carvalho. Aí, no discurso dele, agradece ao Olavo de Carvalho, fala em grego arcaico, citou mensagens da Bíblia, foi contra a globalização. É um cara extremamente ideológico. Se tem um cara ideológico hoje no governo Bolsonaro, chama-se Ernesto Araújo. Ele tem todo o viés ideológico. Lembro que o Bolsonaro falava: 'vou governar para todos, sem viés ideológico'. E coloca o Ernesto Araújo lá. O (ministro da Educação, Abraham) Weintraub também. É difícil. O Bolsonaro fala que vai dar filé mignon ao filho dele; a gente critica e é expulso (do partido), sendo que a gente criticou o Lula todas as vezes em que ele deu filé mignon ao filho dele", acrescentou.

Relações exteriores

Mais adiante, Alexandre Frota fez novas críticas ao diplomata. Em especial, citando "vários episódios" que mostrariam "que o caminho dele é extremamente ideológico".

"Desde 2006, a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) patrocina o festival de Cannes. Dois meses antes de acontecer o festival de Cannes, o contrato da Apex se encerrou. Quando encarra o contrato da Apex, os principais produtores de cinema do país me pediram para interferir, para pelo menos fazer um adendo do contrato para representar o país em Cannes, e na volta discutir se continuava o patrocínio. Fiz isso com o Santos Cruz, que falou com o (então presidente da Apex, Mario) Vilalva, que foi interceptado pelo Ernesto Araújo. Por causa da O2 (Filmes), que produziu o Marighella. O Ernesto Araújo pediu que não renovasse o contrato com eles porque ali dentro existia uma produtora que fez Marighella", relatou Alexandre Frota.

Frota ainda fez críticas à indicação do nome de Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP) e filho do presidente Bolsonaro, à embaixada dos Estados Unidos. A possibilidade enfrenta resistência do Congresso.

"Eu não tenho nada contra o Eduardo Bolsonaro. Mas acho que há profissionais, diplomatas, pessoas de carreira que estão lá há mais tempo e que poderiam e deveriam ter a oportunidade. Aí o Bolsonaro decide da noite para o dia que o filho dele vai ser o embaixador", disse o deputado do PSDB, lembrando a visita de Jair Bolsonaro a Washington em março, quando se encontrou com o presidente dos EUA, Donald Trump.

"Ele (Bolsonaro) deixou o chanceler (Ernesto Araújo) do lado de fora e colocou o Eduardo na sala. Alguém viu isso? O Bolsonaro é recebido pelo presidente dos EUA e deixou o chanceler do lado de fora", acrescentou.

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Por fim, Alexandre Frota voltou a criticar Olavo de Carvalho - que, para ele, "interfere demais" no governo.

"Acaba incomodando isso dentro da própria Câmara, dentro do plenário. Isso incomoda a gente, a interferência. O Olavo de Carvalho indicar ministros, secretários, agredir deputados, e ficar por isso mesmo. Isso incomoda", disse, cobrando o presidente.

"Quem tinha que acabar com isso era o Jair, ligar para ele falar: 'cala a sua boca, você está atrapalhando'. O Rodrigo Maia hoje é o presidente da Câmara, ele está liderando. Aí vai o Olavo e destrói o processo. Ele vai, dá a primeira alfinetada, depois vão Allan Santos, Bernardo Küster, aqueles miquinhos amestrados. É um apedrejamento medieval virtual. Depois vem o Bolsonaro e diz: 'nosso casamento vai acabar'", acrescentou.

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INGERÊNCIAS

"Eu ouvi dele (Bolsonaro) que montasse toda a secretaria de Cultura. Que eu trouxesse profissionais. O Pedro (Henrique Peixoto) veio, veio o Maurício Braga para direitos autorais, que foi indicação do Celso Russomanno, veio para economia criativa a indicação do Paulo Guedes. Todos ali montando esse cinturão. O Bolsonaro dá uma dimensão pequena para a cultura brasileira. Ele encerra o ministério (da Cultura) e transforma apenas em secretaria. Essa secretaria é comandada pelo Henrique Pires, que não tem uma base para poder levar à frente o projeto. Ele pediu que eu montasse esse cinturão. Aí começa uma série de coisas, os profissionais que chegaram começam a reclamar para mim - "fui contratado, você é o secretário, mas não posso trazer o chefe de gabinete, a secretaria". Vou ser contratado amanhã e para fazer um programa na TV e eu não vou poder levar minha secretária. Essa foi uma das principais reclamações. Aí começaram os atritos."

"PRATO CHEIO PARA ESQUERDA"

"O PSL é um partido que chegou lá para atacar, porque sabíamos que teríamos uma oposição forte, pegamos uma câmara extremamente polarizada... Quando chegamos lá, nosso entendimento era: vamos atacar. Quem ia esperar que não primeira semana de legislatura, aparecesse o caso Queiroz? Isso dificultou para a gente, para o PSL. O PSL muitas vezes tem que defender coisas que o Bolsonaro fala, coisas desnecessárias. Uma coisa é como deputado, na campanha. Outra coisa, como presidente, ele tem que se preservar, preservar aqueles que estão em volta dele ali. A gente fica meio de Corpo de Bombeiros, apagando incêndio. Poderia comemorar 1964 nos quarteis? Poderia. Combina com quarteis, generais, e comemora. A partir do momento em que ele vai para o Twitter e fala que vai comemorar 1964, não teve ditadura, é um prato cheio para a esquerda. Não precisa (falar), são momentos."

PRETERIDO?

"O Jair, ele se transformou. A partir do momento que ele sentou na cadeira, ele ficou um cara inacessível. Principalmente com quem estava do lado. Ele sabe disso. Outro dia me questionaram: 'você deu (nota) 4,0 para o Bolsonaro no governo dele, e a Joice (Hasselmann) deu 9,0. Mas a Joice tem a chave da sala dele. Ela é líder do Congresso, tem 50 pessoas trabalhando com ela, é atendida rapidamente por todos os ministros, faz um excelente trabalho lá. Por que ela dá 9,0? Por ela tem um trânsito livre. (...) Ele não tinha que beneficiar. Mas quando você vai para uma guerra junto, ele não tem que beneficiar. Tem que continuar o grupo."

DEM, PRIVILEGIADO NO GOVERNO?

"Pode ser, mas explique isso. Não deixe as pessoas ali dentro... Mas ele faz as escolhas dele, eles escolheu as pessoas que querem trabalhar com ele... Eu não sou traidor. Eu votei no Bolsonaro, como governo, em todas as votações que tiveram. Se tem uma pessoa que defendeu, lutou lá dentro até semana passada, fui eu. Agora eu já não tenho mais o peso do governo, não preciso concordar com tudo."

ROTINA NA CÂMARA

"Esses seis primeiros meses, eu me dediquei ao plenário (da Câmara). O pessoal falou que eu não ia falar. Hoje, a gente tem 200 dias de governo, eu subo todo dia e uso todo tempo que posso usar. Tudo que eu posso usar, eu uso. E ando num outro processo. Acordo 4h30, 5h; quando os deputados estão indo almoçar, eu já almocei às 11h30. Então estou sempre entre os primeiros inscritos (para falar). Tenho me dedicado e estudado."

LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE

"É complicado, eu não estava lá na semana da votação. Vejo que existem autoridades que muitas vezes exercem o abuso. Não estou me protegendo. Acho bem complicado. Acho que quem não vai andar por caminhos tortos não tem que ter medo. Você deixar aberto, ameaça a liberdade da Polícia Federal, dos juízes, e muitas vezes o juiz vai tomar uma decisão e o que é abuso? Qual é o critério?"