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Operação Lava Jato

Após reportagem do UOL, defesa de Lula reitera pedido de liberdade no STF

Igor Mello

Do UOL, no Rio

27/08/2019 16h54

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) protocolou na tarde de hoje uma petição no STF (Supremo Tribunal Federal) reiterando um pedido de habeas corpus em favor do petista que já tramita desde o começo do mês na Corte. A nova manifestação dos advogados inclui reportagem publicada hoje pelo UOL, mostrando que procuradores da força-tarefa da Lava Jato ironizaram a morte da ex-primeira dama Marisa Letícia, mulher de Lula, bem como o luto do ex-presidente pela morte de seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá.

As mensagens foram entregues por fonte anônima ao site The Intercept Brasil e analisadas em parceria com o UOL. A petição 50584 foi protocolada às 13h06 no STF pelo advogado Cristiano Zanin, que comanda a defesa de Lula, de acordo com o sistema de protocolo do Tribunal. O pedido anexa ao processo a reportagem do UOL.

Segundo a jornalista Monica Bergamo, colunista do jornal Folha de S.Paulo, Zanin argumenta na peça que os procuradores nutrem "ódio e desapreço pessoal" por Lula e sua família. O relator do habeas corpus é o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF.

"Referidas mensagens mostram, em verdade, que a atuação dos procuradores da República em questão sempre foi norteada por ódio e desapreço pessoal pelo paciente e pelos seus familiares", diz trecho do documento.

Pela manhã, o estafe de Lula já havia anunciado nas redes sociais que os advogados do ex-presidente tomariam providências com base nas revelações feitas pelo UOL.

"A defesa de Lula entrou com Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal pedindo suspeição dos procuradores de Curitiba. As mensagens reforçam a já evidente parcialidade, perseguição e desvios funcionais deles contra Lula e sua família. #TimeLula #LulaLivre", comunicou.

Após saberem da morte de Marisa, procuradores da Lava Jato fizeram comentários irônicos sobre o fato. A procuradora Laura Tessler negou que as ações da força-tarefa contra Lula e sua família tenham influenciado no estado de saúde da ex-primeira dama.

"Ridículo... Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão... ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula", afirma Laura em 4 de fevereiro de 2017, um dia após a morte.

No dia 24 de janeiro, quando foi noticiada a internação de Marisa, o chefe da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol, disse aos colegas ter recebido informações de que ela chegou ao pronto-socorro "sem resposta, como vegetal". Com base nisso, o procurador Januário Paludo aponta, sem nenhuma prova: "Estão eliminando as testemunhas...".

Após o pedido de Lula para ir ao enterro de seu irmão Vavá --que só viria a ser atendido parcialmente pelo ministro Dias Toffoli, do STF, quando o velório já havia começado--, o procurador Antônio Carlos Welter afirma que Lula teria direito de ir à solenidade, embora concordasse com a PF (Polícia Federal) no argumento de que não havia condições para atender o pleito do ex-presidente.

Januário Paludo então ironiza o posicionamento do colega de força-tarefa: "O safado só queria passear e o Welter com pena".

Procurada, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse ontem que não poderia se manifestar sem ter acesso integral às conversas. O espaço continua aberto a manifestações de seus procuradores.

Políticos criticam procuradores da Lava Jato

Dezenas de petistas e outros políticos próximos a Lula usaram as redes sociais para criticar procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba por conta das mensagens divulgadas pelo UOL.

Candidato do PT à Presidência em 2018 e advogado de Lula, Fernando Haddad afirmou que "faltavam sobriedade e isenção" no tratamento da Lava Jato em relação a Lula.

"Triste a troca de mensagens dos promotores sobre a família de Lula. Realmente faltavam sobriedade e isenção e sobravam preconceito e ódio. As mortes da esposa, do irmão e do neto não foram minimamente respeitadas", escreveu.

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) compartilhou a reportagem do UOL e disse que os procuradores "merecem a nossa repulsa" por ironizarem o luto de Lula:

"A reportagem de hoje mostra que procuradores zombaram da morte de Marisa Letícia e do sofrimento de Lula pela perda da mulher, do neto e do irmão. (https://t.co/Mr5KSz3sEF). Merecem a nossa repulsa", defendeu a ex-presidente.

Aliados de Lula em outros partidos também repudiaram as declarações dos procuradores. Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão, declarou que os membros da Lava Jato "deveriam ter a dignidade de pedir desculpas à família".

O senador Renan Calheiros (MDB), que foi presidente do Senado nos governos Lula e Dilma Rousseff, também atacou os investigadores ao afirmar que eles atingiram "o último grau da indigência".

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