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Novo PGR é caixa preta a ser aberta no cargo, diz membro da lista tríplice

Blal Dalloul, um dos integrantes da lista tríplice à PGR que foi preterido por Bolsonaro - Secom/PGR
Blal Dalloul, um dos integrantes da lista tríplice à PGR que foi preterido por Bolsonaro Imagem: Secom/PGR

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo

05/09/2019 18h10

Na avaliação do procurador da República Blal Dalloul, terceiro colocado na lista tríplice para a PGR (Procuradoria-Geral da República), a escolha do subprocurador-geral Augusto Aras representa uma "caixa preta" que será aberta durante o seu mandato.

A indicação de Aras como substituto de Raquel Dodge foi anunciada hoje pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL). O escolhido manifestou-se contra a lista tríplice que, segundo ele, fomenta o corporativismo e a promessa de favores em troca de voto. Aras ainda precisa ser aprovado pelo Senado.

"Se Augusto Aras for confirmado pelo Senado, o vejo como uma caixa preta que chega ao mais alto cargo do Ministério Público Federal. É uma caixa preta que será aberta no curso do cargo. Espero ser surpreendido, assim como todos os colegas", disse Dalloul em entrevista ao UOL por telefone.

Na avaliação do procurador regional, "essa caixa preta é o que mais preocupa. Eu achava sinceramente que o presidente indicaria alguém que fosse conhecedor dos nossos problemas, das nossas dificuldades e fizesse o que o Ministério Público e a sociedade esperam".

"Acredito que o pior de tudo é que, na construção coletiva do Ministério Público, que é feita tijolo a tijolo, eu não vejo a participação de Augusto Aras nos grandes momentos, nem exemplos de trabalho em quaisquer das áreas de grande trabalho, como combate à corrupção, combate ao crime e na tutela coletiva", opina Dalloul.

O procurador afirma ainda que a recepção do nome de Aras foi negativa entre os demais colegas do MPF e que Aras deve estar ciente de que "terá uma grande dificuldade em provocar uma surpresa". "Eu vejo dificuldades para um PGR que chega sem histórico dentro da casa. Mas temos que acreditar que essa caixa preta nos surpreenderá", diz.

"Ele terá dificuldades? Sim, terá. Ele tem um trabalho muito grande pela frente, se é que ele quer que o Ministério Público cumpra sua missão. No último ano, já tivemos dificuldades", afirma o procurador, lembrando que Raquel Dodge "tem uma dificuldade de relacionamento interno com todos. É uma relação quase forçada e ela foi a primeira a ir contra a lista tríplice".

Blal Dalloul é procurador regional da República e atua no MPF há 34 anos, primeiro como servidor e depois como procurador. Foi secretário-geral do MPF entre 2016 e 2017, durante a gestão de Rodrigo Janot, e do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público).

O UOL tentou contato ainda os outros integrantes da lista, Mário Bonsaglia e Luiza Frischeisen. Bonsaglia, primeiro colocado, preferiu não comentar a escolha antes de falar aos demais colegas do MPF. Já Frischeisen não foi encontrada para comentar.

Bonsaglia é subprocurador-geral da República e já havia sido eleito para as listas tríplices de 2015 (segundo colocado) e 2017 (terceiro). Ele integra a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF (Ministério Público Federal), que atua em temas ligados às populações indígenas e comunidades tradicionais. Bonsaglia é membro do MPF desde 1991.

Frischeisen também é subprocuradora-geral da República, e coordena a 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, da área criminal. Ela é procuradora da República desde 1992. Bonsaglia e Frischeisen estão no nível mais alto da carreira no MPF.

Ao escolher um procurador que não estava na lista, Bolsonaro quebrou um costume que os presidentes vêm adotando desde 2003. A lista existe desde 2001, e só na primeira edição o presidente —na época, Fernando Henrique Cardoso (PSDB)— optou por não indicar um dos eleitos pelos procuradores.

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