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Temer: Bolsonaro deve aproveitar fala na ONU para mudar imagem do Brasil

O ex-presidente Michel Temer (MDB) durante entrevista no programa Roda Viva - Reprodução
O ex-presidente Michel Temer (MDB) durante entrevista no programa Roda Viva Imagem: Reprodução

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo

17/09/2019 17h29

Assim como o ex-presidente Michel Temer fez em 2016, logo após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), o presidente Jair Bolsonaro tem na próxima semana a chance aproveitar o discurso de abertura da Assembleia da ONU (Organização das Nações Unidas), na próxima terça, para tentar mudar a crise de imagem pela qual o Brasil passa. Em entrevista ao UOL, Temer afirmou que o discurso de abertura é, "sem dúvida nenhuma", uma boa vitrine para vender esta mudança de imagem.

"O Brasil tem essa vantagem de abrir o congresso da ONU. É claro que, quando você fala —no meu caso, falei em três ocasiões—, toda a congregação está reunida ouvindo. É claro que também porque, em seguida, vem o discurso do presidente dos EUA. Quando fui para lá, falei muito no multilateralismo, que era fundamental para o nosso país ter as mais variadas relações com o mundo todo. Não ter restrição de nenhuma espécie", disse Temer, ontem, nos bastidores do programa Roda Viva, da TV Cultura. "Espero, em nome do Brasil, que o presidente Bolsonaro tenha lá uma boa recepção", afirmou.

Temer abriu a Assembleia da ONU em 2016 defendendo que o impeachment de Dilma "transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional" em meio à crise de credibilidade na democracia brasileira e às acusações de que o vice teria apoiado um golpe. Em seu discurso, representantes da Venezuela, do Equador, da Costa Rica, da Bolívia e de Cuba se retiraram da plenária em protesto.

"O discurso é sempre uma maneira de você revelar ao mundo, em primeiro lugar, o que é o Brasil. Em segundo lugar, o que você está fazendo pelo Brasil. Em terceiro lugar, quais são as perspectivas referentes ao nosso país", disse Temer.

A delegação brasileira teme que Bolsonaro enfrente protestos durante a Assembleia da ONU na próxima semana. Em seu discurso, Bolsonaro deve defender a gestão de seu governo para a Amazônia das críticas feitas pela comunidade internacional, o que desencadeou uma crise nas últimas semanas.

Perguntado pela reportagem do UOL se o impeachment de Dilma ajudou a eleger Bolsonaro, Temer afirmou que o seu sucessor foi eleito pela "nova visão" que provocou a saída da petista. "Digamos que houve uma nova visão do mundo aqui no Brasil, e uma visão do mundo diferente em relação àquela que vinha até a senhora ex-presidente. Eu tenho a impressão de que isso acabou colaborando, sim. As pessoas disseram: 'Nós não queremos mais aquilo, queremos de uma outra forma'. E foi aí que o Bolsonaro chegou à Presidência", afirmou.

"Bolsonaro dá sequência ao que fiz"

Na rápida entrevista, Temer afirmou que "cada um tem seu estilo, e Bolsonaro tem o dele", mas se disse feliz por constatar que Bolsonaro teria dado sequência às mudanças promovidas por ele em seu mandato de pouco mais de dois anos.

"Digo sempre, e este é um lado muito positivo do governo, que ele tem dado sequência ao que fiz. É claro que, em face dessa sequência que ele está dando, acho que tem sido extremamente útil para o Brasil. E ele teve só um sexto do governo, mais ou menos. Se fosse um jogo de futebol de 90 minutos, teria uns 15 minutos de jogo só. Tem que esperar o fim do jogo", afirmou.

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"Cumpri minha tarefa política"

Principal articulador político do MDB há décadas, o ex-presidente de 78 anos afirmou ainda que este é o momento de abrir espaço para a ala mais jovem dentro do MDB. "Já fui três vezes presidente da Câmara dos Deputados, vice-presidente e presidente. Acho que já cumpri minha tarefa política e agora tem que deixar espaço para os mais jovens. Acho que o momento é dos mais jovens e estou um pouco à distância", disse, não descartando sua atuação como "conselheiro" do partido.

"Quando você atinge certos postos, você passa a ser uma espécie de conselheiro. Muitas vezes, como conselheiro, é possível [atuar]. Mas como participação direta, não dá mais", afirmou.

Temer diz que tem se dedicado a escrever artigos, jornais e está escrevendo um romance. "Vou para a minha casa, meu escritório, encontro os amigos advogados, amigos outros de que havia me afastado pelas circunstâncias da vida. Tem sido uma coisa muito boa."

Começou a aproveitar seu tempo livre para entrevistas, como ele também citou. Segundo ele, são oportunidades para se defender nos casos "em que foi injustiçado". "Aparecendo as perguntas, me darão a oportunidade de esclarecer estes pontos", afirmou.

Durante os bastidores do programa, Temer disse ainda que espera receber a autorização para deixar o país e realizar uma palestra em Londres, no Reino Unido, no meio de outubro. Seu passaporte ainda está apreendido. Em agosto, pediu autorização para passar seis dias na Inglaterra, onde deve falar sobre direito constitucional na Oxford Union. Temer disse apostar que a liberação sairá ainda nesta semana.