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Líder do governo vira alvo da PF em momento que Planalto precisa do Senado

14.mar.2019 - O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), durante encontro com senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado - Marcos Corrêa/PR
14.mar.2019 - O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), durante encontro com senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado Imagem: Marcos Corrêa/PR

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

19/09/2019 13h05Atualizada em 19/09/2019 17h21

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), virou alvo da Polícia Federal em um momento delicado para o Palácio do Planalto na Casa. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) precisa do apoio do Senado nas próximas semanas para aprovar quatro matérias em especial:

Pela manhã, Bezerra Coelho colocou o cargo de líder à disposição do Planalto, que ainda não se manifestou oficialmente. Bolsonaro analisa o caso com assessores no Palácio da Alvorada, residência oficial onde mora e se recupera de cirurgia para correção de hérnia.

Como líder, a função de Bezerra Coelho é ser o principal articulador do Planalto junto aos senadores para conseguir a aprovação das pautas de interesse governo. Ele é responsável por explicar os textos, negociar acordos e fazer a avaliação do clima do Senado perante as medidas de Bolsonaro.

Protagonista da política tradicional, Bezerra Coelho é conhecido por ter larga experiência em articulações no Congresso Nacional e tem se mostrado um bom ativo para o Planalto.

Ele foi percebido como fundamental para a aprovação da Medida Provisória que reduziu a quantidade de ministérios antes que perdesse a validade, por exemplo. Agora, a expectativa é ver as consequências práticas da operação da Polícia Federal.

A Polícia Federal realizou operação hoje no Congresso Nacional tendo como alvos Bezerra Coelho e o deputado Fernando Bezerra Coelho Filho (MDB-PE), filho do senador. A investigação aponta que eles teriam recebido pelo menos R$ 5,5 milhões em propina.

O suposto caso de corrupção teria ocorrido quando Bezerra Coelho era ministro da Integração Nacional no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Uma das linhas de investigação apura suspeitas do desvio de dinheiro público de obras na região Nordeste, como a transposição do rio São Francisco.

"Eu já conversei pela manhã, com o presidente [do Senado] Davi Alcolumbre e conversei com o ministro da Casa Civil da Presidência da República, o ministro Onyx [Lorenzoni]. E tomei a iniciativa de colocar à disposição o cargo de líder do governo, para que o governo possa, ao longo dos próximos dias, fazer uma avaliação se não seria o momento de proceder a uma nova escolha, ou não", declarou Bezerra Coelho.

Onyx disse que a posição do governo é de "aguardar os acontecimentos".

Bezerra Coelho falou que, mesmo que seja substituído, não deixará de apoiar o governo no Senado.

Dois pontos que mais preocupam o Planalto hoje são a aprovação dos nomes de Augusto Aras e de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. Ambos precisam ser sabatinados e aprovados em comissões da Casa.

O primeiro na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). O segundo na CRE (Comissão de Relações Exteriores). Passada a etapa inicial, os nomes serão analisados pelo plenário.

Por enquanto, Aras está numa situação mais confortável. Sua sabatina está marcada para a próxima quarta-feira (25). Ele enfrentará resistência da oposição, mas, a tendência é que não cheguem a atrapalhar sua indicação à PGR (Procuradoria-Geral da República).

Já Eduardo Bolsonaro não foi indicado oficialmente pelo Planalto. Portanto, o processo dentro do Senado não tem nem data para começar. Eduardo vem conversando com senadores há semanas e tentando demonstrar estar pronto para a embaixada.

Nos bastidores, um dos principais fiadores da nomeação de Eduardo como embaixador é Bezerra Coelho junto a Alcolumbre ao colher pedidos de cargos e liberação de emendas dos colegas senadores na tentativa de garantir uma maioria na CRE.

Embora a tramitação da reforma da Previdência esteja mais tranquila no Senado do que na Câmara dos Deputados, o Planalto tem de continuar a trabalhar pela aprovação da matéria. O relator Tasso Jereissati (PSDB-CE) leu o relatório hoje e rejeitou emendas ao texto. As discussões da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) em plenário estão previstas para começar na terça (24).

A avaliação de governistas é que o diálogo entre base e oposição não tem gerado focos de conflito. A expectativa do Planalto é que a operação da PF não se desdobre de forma mais grave a ponto de servir de munição para opositores.

Outro ponto que interessa ao governo é a aprovação de todos os vetos expedidos por Bolsonaro em relação ao projeto de abuso de autoridade. Os vetos serão analisados em sessão conjunta do Congresso Nacional, ainda sem data, mas os senadores serão os primeiros a votar. Caso mantenham os vetos, os deputados não chegarão a analisá-los.

Bolsonaro vetou dispositivos em 19 artigos após pedidos de grupos afetados pelo texto. Quando aprovado no Senado, a versão final do projeto foi considerada "suave" em relação ao proposto inicialmente - que estabelecia punição a magistrados sem a intenção comprovada de abuso.

Líder do governo no Senado deixa cargo à disposição de Bolsonaro

TV Folha