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"Animal das Cavernas": líderes indígenas reagem a discurso de Bolsonaro

Líderes indígenas conversam com a imprensa após discurso de Bolsonaro na ONU - Tatiana Pronim/UOL
Líderes indígenas conversam com a imprensa após discurso de Bolsonaro na ONU Imagem: Tatiana Pronim/UOL

Tatiana Pronin

Colaobração para o UOL, em Nova York

24/09/2019 15h43

"Bolsonaro me chamou hoje de 'animal das cavernas'", reagiu Sonia Guajajara, uma das coordenadoras-executivas da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), ao comentar o discurso do presidente Jair Bolsonaro na ONU. "E usou o termo para se referir ao Cacique Raoni, um candidato a Nobel da Paz", acrescentou.

Poucas horas depois do evento, lideranças indígenas que assistiam ao evento convocaram a imprensa local para uma coletiva de imprensa. Participaram, ainda, Dinamam Tuxá, outro indígena representante da Apib. O cacique Raoni Metuktire, que também participaria do evento, passou mal e não pode comparecer. "Ele não deve ter gostado do que ouviu hoje", comentou a apresentadora da coletiva, representante da ONG Uma Gota no Oceano.

"Hoje para nós foi um dia de terror, porque o Bolsonaro fez esse discurso de intolerância e de muita truculência", declarou. "É uma fala histórica, infelizmente, porque mancha a reputação do Brasil nas Nações Unidas".

"Viemos aqui para dizer que não temos medo de Bolsonaro", reforçou a coordenadora. Ela disse que o presidente mente, seu governo destrói o meio ambiente e nossa tradição cultural, além de permitir que o setor privado avance sobre as áreas indígenas.

Os líderes também comentaram a presença da indígena bolsonarista Ysani Kalapalo na plenária. Na opinião deles, a estratégia mostrou quão más são as intenções do governo.

"Bolsonaro mente novamente ao negar que Amazônia não é patrimônio da humanidade - como ele ousa dizer essa mentira?", perguntou. "Por isso Bolsonaro deve ser acusado por crime contra a humanidade", completou.

"Mas se há uma esperança é que nós não estamos sozinhos. O espírito de outros líderes indígenas e outras pessoas ao redor do mundo une força em defesa dos povos indígenas no Brasil."

A indígena Artemisa Xakriaba, 19 anos, de Minas Gerais, finalizou: "É uma tristeza ver com tanta gente jovem que participou do evento, ter alguém do nosso próprio país dizer que nós colocamos fogo na Amazôna. É só isso o que eu tenho a dizer".