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"Usaram meu nome, isso é crime", diz músico sobre outdoor da Lava Jato

O baterista João Carlos Queiroz Barbosa teve seu nome usado no pagamento de um outdoor a favor da Lava Jato, em Curitiba - Arquivo pessoal
O baterista João Carlos Queiroz Barbosa teve seu nome usado no pagamento de um outdoor a favor da Lava Jato, em Curitiba Imagem: Arquivo pessoal

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Curitiba

27/09/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Baterista teve nome usado em pagamento de outdoor
  • Placa celebrava em Curitiba os cinco anos da Lava Jato
  • Músico nega ligação com a contratação do outdoor
  • Ele afirma que foi vítima de um crime
  • Procurador seria o responsável pelo pagamento

O baterista João Carlos Queiroz Barbosa, 33, estava saindo de casa para uma gravação quando recebeu uma ligação da PF (Polícia Federal), em abril, intimando-o a dar um depoimento na superintendência do órgão em Curitiba. O telefonema lhe desestruturou. "Fiz um dos piores trabalhos da minha vida", disse. "Fiquei pensando o dia todo: o que fiz para a Polícia Federal estar atrás de mim?"

Barbosa, o JC Batera, só descobriu o motivo da intimação ao ficar de frente para o delegado Maurício Moscardi Grillo. O delegado da PF explicou que precisava saber se ele tinha contratado a instalação de um outdoor em homenagem aos cinco anos da operação Lava Jato, em março, numa via de acesso ao aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana da capital paranaense.

"Eu não contratei nada", disse Barbosa ao UOL, repetindo as informações que deu à PF. "Os R$ 4.100 que disseram ter custado esse outdoor passam longe do que ganho por mês como músico e instrutor de bateria."

Barbosa havia sido contatado pela PF pois seu nome e alguns de seus dados pessoais constavam de um recibo emitido pela empresa Outdoormídia referente à propaganda.

O outdoor, naquela época, causava polêmica. Críticos achavam que ele fazia propaganda pessoal de integrantes da Lava Jato, já que exibia suas fotos.

O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) foi acionado para apurar possíveis irregularidades na propaganda. Até o STF (Supremo Tribunal Federal) resolveu investigar quem pagou pela placa.

Barbosa se viu "perdido no meio dessa confusão" por quatro meses. Hoje, ele acredita ter sido vítima de um crime.

Usaram meu nome de má-fé. Isso é errado. Isso é um crime
João Carlos Queiroz Barbosa, músico que aparece como quem pagou pelo outdoor

Baterista outdoor Lava Jato - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Músico diz não ter interesse em política nem dinheiro para fazer propaganda da Lava Jato
Imagem: Arquivo pessoal

"Não tenho nada com política"

O baterista conversou com o UOL por telefone. Disse que é pernambucano, casado e tem uma filha. Mudou-se para Curitiba em 2013, um ano antes de a Lava Jato começar.

Ele, porém, pouco sabe da operação. "Conheço [a Lava Jato] de ouvir falar na TV", afirmou. "Sei que é uma ação para combate à corrupção, mas confesso que esses assuntos de política pouco me interessam."

"Eu não tenho vínculo nenhum com política", complementou. "Nem transferi meu título de Pernambuco para o Paraná."

Barbosa admitiu, sim, ter vínculo com uma igreja evangélica. Toca para diferentes bandas de música gospel e chegou a frequentar a Igreja Batista Nova Aliança, que ficava em frente a sua casa, na rua informada no recibo do outdoor.

Outdoor instalado em Curitiba celebrava o aniversário da Lava Jato - Reprodução - Reprodução
Outdoor instalado em Curitiba celebrou o aniversário da Lava Jato e agora é alvo de investigação no STF
Imagem: Reprodução

O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, procurador da República Deltan Dallagnol, é frequentador da Igreja Batista do Bacacheri, também em Curitiba. Por causa disto, quando o nome de Barbosa surgiu nos documentos de contratação do outdoor da Lava Jato, chegou-se a pensar que o baterista teria pagado pela placa a pedido de algum integrante da operação. Barbosa nega veementemente. "Não conheço ninguém", disse.

Procurador teria feito pagamento pelo outdoor

Barbosa negou também conhecer o procurador da República Diogo Castor, ex-integrante da Lava Jato. Castor, que, segundo conversas obtidas pelo "The Intercept Brasil", admitiu a seus colegas da operação, em abril, ter pago pelo outdoor. No mesmo dia da confissão, pediu afastamento da operação alegando precisar de tratamento de saúde.

Castor foi procurado pelo UOL, mas não quis se manifestar sobre o caso.

O baterista Barbosa evita culpar o procurador. "Eu realmente não sei quem fez isso comigo", disse. "Agora, eu quero que a verdade seja revelada."

Desde que foi chamado para depor pela PF em abril, Barbosa nunca mais recebeu qualquer informação sobre o andamento da investigação. No final de julho, preocupado com a repercussão de reportagens citando seu nome, ele foi ao 11º Distrito Policial de Curitiba e registrou um boletim de ocorrência. Nem a PF nem a Polícia Civil deram detalhes sobre o caso envolvendo Barbosa.

O baterista disse não ter raiva nem querer o mal de quem usou seu nome indevidamente para a contratação do outdoor. Ele teme que o caso acabe prejudicando sua carreira. Mais do que isso, espera que o erro que um dia cometeram com ele seja reparado. "Penso nisso todos os dias. Espero que essa investigação não demore tanto assim para terminar."