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Porta do Patriota está aberta a Bolsonaro, diz presidente do partido

17.ago.2017 - Adilson Barroso (à direita), presidente do Patriota, acompanha Eduardo e Jair Bolsonaro em palestra realizada em Ribeirão Preto (SP) - Joel Silva/Folhapress
17.ago.2017 - Adilson Barroso (à direita), presidente do Patriota, acompanha Eduardo e Jair Bolsonaro em palestra realizada em Ribeirão Preto (SP) Imagem: Joel Silva/Folhapress

Chico Alves

Colaboração para o UOL, no Rio

30/09/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Líder do Patriota abre portas da sigla para Bolsonaro
  • Antes de 2018, atual presidente negociou com o partido
  • A legenda chegou a mudar de nome para agradar Bolsonaro
  • Ação do ex-ministro Bebianno mudou os planos
  • Dirigente do Patriota vê presidente insatisfeito no PSL

Nos últimos dias, Adilson Barroso tem visto crescer os rumores de que o partido que fundou e administra, o Patriota, será o paradeiro do presidente Jair Bolsonaro, que estaria a caminho de deixar o PSL. Apesar de não ter recebido ainda qualquer contato de Bolsonaro, Barroso conta que tem sido abordado na Câmara por deputados pesselistas que manifestam desejo de que isso ocorra. "Estamos de portas abertas para o presidente", diz Barroso.

As divergências com o presidente do PSL, Luciano Bivar, aumentam a cada dia. A gota d'água que pode causar a debandada de Bolsonaro de seu atual partido pode ocorrer se a legenda não der a ele o controle sobre a escolha dos candidatos a prefeito nas próximas eleições. Políticos próximos com trânsito no Palácio do Planalto dizem que o Patriota é um destino possível se isso acontecer.

Barroso recorda que foi o próprio Bolsonaro e seu grupo que o convenceram a mudar o nome de PEN (Partido Ecológico Nacional) para Patriota, com o objetivo de concorrer às eleições de 2018. Antes mesmo de começar a campanha, os planos mudaram. Ele atribui a Gustavo Bebianno (ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, que saiu do governo depois de se desentender com Carlos Bolsonaro e o próprio presidente) e ao deputado Julian Lemos a alteração de rota.

"Muita gente acha que eu fiquei magoado com a saída dele, mas nós não nos digladiamos", explica o cacique do Patriota. "Quem sabe Deus manda ele para cá de volta?" Para conseguir este objetivo, diz que, se mudar de legenda, o presidente da República poderá dar as cartas na próxima eleição.

Seja qual for o destino, Barroso acredita que Bolsonaro não fica no partido atual. "Estou achando que no PSL não cumpriram o que combinaram. Se não cumpriram o que combinaram, ele não fica lá nem a porrete, ele não engole sapo".

UOL - Você teve algum contato com o presidente Bolsonaro para tratar da mudança dele do PSL para o Patriota?

Adilson Barroso - Ainda não. Mas, por conta da nossa representação, quase toda a semana eu vou à Câmara e encontro muitos políticos ligados a Bolsonaro que manifestam o desejo de vir para o Patriota. Eu sempre falo para eles: podem dizer ao presidente que a porta aqui está sempre aberta. Jamais tive qualquer tipo de raiva por [Gustavo] Bebianno e um tal de [deputado federal] Julian Lemos terem tirado ele daqui. Muitos deputados não querem ficar no PSL e manifestam a vontade de Bolsonaro passar para o Patriota.

O partido era Partido Ecológico Nacional e mudou para Patriota para receber Bolsonaro. Ele achava que o PEN ficava direcionado a uma só classe, aos ambientalistas.

Depois que estava tudo acertado, mudou de ideia. Não sei como ele aceitou ir para um partido que continua com um estatuto que é social liberal. O Patriota foi preparado para defender a mesma ideologia que a família e a igreja defendem. É um partido de centro-direita. Na verdade, até os 30% da esquerda se encaixam. O que não gostamos aqui é de radicalismo, seja da esquerda ou da direita.

Qual a última vez que esteve pessoalmente com Bolsonaro?

Eu estive com ele no começo de abril no palácio da presidência. Fui lá para conversar com ele e para oferecer o partido, dizer que estava com as portas abertas e que não temos restrição nenhuma em relação ao passado. Muita gente acha que eu fiquei magoado com a saída dele, mas nós não nos digladiamos. Sempre falei que ele estava sendo enganado e que um dia ia se arrepender. Dizia que as pessoas estavam levando ele ao erro. Automaticamente ele vai rever isso. Quem sabe Deus manda ele para cá de volta?

Acredito que isso pode ser consertado, mesmo que seja um pouco atrasado, como hoje. Não acertei nada ainda com ele, mas estou contente porque se está saindo na imprensa essa informação é porque tem alguém lá falando alguma coisa. E a porta está aberta. O dia que me ligarem eu vou dizer: pode vir porque nós ajustamos a parceria, e o Patriota foi criado justamente para eleger Bolsonaro.

Quem teria induzido Bolsonaro ao erro, como o sr. diz?

Ele foi enganado por Bebianno e Julian Lemos. Mas estou sabendo que Bolsonaro não tem mais aquela confiança que tinha em nenhum dos dois. Estou achando que no PSL não cumpriram o que combinaram. Se não cumpriram o que combinaram, ele não fica lá nem a porrete, ele não engole sapo.

A informação é de que ele quer total controle sobre a indicação dos nomes do PSL que sairão candidatos a prefeito.

Pra mim ele pode indicar no Patriota. E eu agradeço a ele, porque se é o presidente da República é ele que manda. Eu sou um trabalhador do projeto dele. Acho que ele vai consertar o país, vai botar o Brasil na trilha do crescimento, como os Estados Unidos.

Jair Bolsonaro partido Patriota - Marcos Corrêa/PR - Marcos Corrêa/PR
Para dirigente do Patriota, ex-ministro Bebianno e deputado federal Julian Lemos influenciaram Bolsonaro e o levaram a escolher o PSL antes das eleições de 2018
Imagem: Marcos Corrêa/PR

Como o sr. vê acusações de ilegalidades praticadas por integrantes do partido, como o caso Queiroz, que envolve o senador Flávio Bolsonaro?

Não influencia nada. Até porque se um dia provar que existe alguma culpa, o próprio presidente deve achar uma maneira de pedir para ele solucionar. Não posso falar sobre isso agora porque há um processo em andamento, não tem uma condenação. Flávio Bolsonaro é um cara muito bom, honesto. Isso tem que ser julgado para a gente ver no que vai dar. O que eu mais gostava entre eles era o Flávio Bolsonaro.

E a pesquisa recente que mostra a popularidade do presidente continua em queda?

Isso não é problema. Ele pegou o país atolado até o pescoço, muitos achavam que não ia ter solução, que ia falir, acabar a nossa pátria, virar uma Venezuela. Um médico que pega um doente na fase terminal não vai curar do dia para a noite. Bolsonaro está no caminho perfeito. Depois de aprovar a reforma da Previdência vai aprovar a reforma tributária e mais algumas reformas, o Brasil vai ficar preparado. Ano que vem [o Brasil] já deve gerar de 2 a 3 milhões de empregos. O que acontece agora é efeito do remédio que ele mesmo não gostaria de aplicar, mas é necessário.

Como foram as negociações para ele concorrer a presidente pelo Patriota?

Em dezembro de 2016, uma equipe dele me procurou aqui na minha cidade, Barrinha, próximo a Ribeirão Preto. Conversamos bastante, avisaram que eu tinha todo interesse, que eu toparia todas as exigências dele. Em fevereiro, março de 2017 nós sentamos em São Paulo junto com a equipe dele, colocaram ele no viva-voz, começamos uma negociação acelerada, ele me deu a palavra que viria para o Patriota. Mas deu essa zebra, Bebianno fez isso. Mas Deus cobra. E ele já recebeu a sua sentença por ter tirado ele daqui.

O sr. é um dos fundadores do partido?

Na verdade, eu sou o que deu nome, o que deu foro, o que deu estatuto, o que saiu seis anos rodando o país, que ficou três meses sem voltar para casa, que dormia em banco de rodoviária e bancos de aeroporto até conseguir a oficialização da legenda passando por dez TREs (Tribunais Regionais Eleitorais).

Caso se mude para o Patriota, Bolsonaro não poderá contar com os deputados que hoje estão no PSL por causa da fidelidade partidária. Eles só poderiam sair se fossem expulsos.

O Bolsonaro tem que se preocupar em fazer prefeito. Ele deve dizer: estou no Patriotas e vocês podem ficar onde quiserem. Quando abrir a janela (prazo em que é permitida a mudança de legenda), vem para cá, já vai estar tudo montado, ele já vai ter 400, 500 prefeitos no Brasil inteiro. Quando chegar a época da janela, todo mundo vai estar preparado, porque atualmente só sai se for expulso. Foi o que aconteceu com o Alexandre Frota. Só que o Frota foi para um partido completamente errado. Foi votado pela direita e foi para PSDB, acho que queimou o cartucho. O PSDB é um partido que quando interessa é esquerda, quando vê a direita aflorando, diz que é de direita. Usa o símbolo tucano porque diz que é ambientalista. Ou seja, não tem ideologia de fato.

Caso Bolsonaro não se mude para o Patriota, o partido tem futuro?

Nós lançamos o [Cabo] Daciolo na última eleição, que não fez tão feio. Teve mais votos que Álvaro Dias, Marina Silva, [Henrique] Meirelles, do MDB, com milhões e milhões de investimento. O Patriota tem esse dom de trabalhar pelo progresso e merecimento. O fato de Bebianno ter gravado um vídeo três dias antes de terminar as filiações dizendo para todo mundo sair esvaziou o partido. Mesmo assim faltaram menos de 30 mil votos para ultrapassar a cláusula de barreira. Elegi cinco deputados federais e incorporei o PRP, que já tem quase 40 anos de existência, que tinha elegido quatro deputados e um senador. Assim, ficamos maiores que PPS, que hoje se chama Cidadania, maior que PROS, maior que mais 20 partidos, inclusive PTB e Solidariedade. Acho que o Patriota, por ser gerenciado por um simples caipira, lutador e trabalhador como eu, que ia para a roça cortar cana, é um caso diferente e sabe superar dificuldades.