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"Lava Jato tem melhores publicitários do que juristas", diz Gilmar Mendes

Do UOL, em São Paulo

07/10/2019 23h58

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou a criticar a Operação Lava Jato. Na semana passada, o ministro declarou que a força-tarefa usava prisões provisórias --ou seja, sem condenação definitiva-- como "instrumento de tortura". Hoje, ele afirmou que a Lava Jato "tem melhor publicitários do que juristas".

"Desde 2014, quando a Lava Jato foi inventada, ela tem melhores publicitários do que juristas. Acho que eles têm mais talento como publicitários do que juristas. Tem algum talento. Eles chantageiam com esse tipo de coisa desde o começo. Tentavam constranger o Superior Tribunal Federal. A Veja chegou a publicar uma capa minha dizendo 'esse é o juiz que discorda do Brasil'. Agora, veja o pedido de desculpas com o editorial, que mostra o Moro desmoronando. A mídia mudou em relação a isso. O The Intercept produziu uma outra análise", disse em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura.

"Eu torço, não só para a Lava Jato, para todas as operações para que de fato continuemos a combater a corrupção, mas sem esse personalismo, sem até a necessidade de forças-tarefas. Talvez possamos ter grupos, procuradores, juízes, que deem conta do seu trabalho dentro da normalidade, porque vocês estão cansados de ouvir: o problema é que sofremos de uma amnésia. Não acaba a Lava Jato", acrescentou.

Gilmar defendeu o combate à corrupção, mas disse discordar que "se combata crime cometendo crime".

"Todos nós devemos encorajar o combate à corrupção. Mas tenho dito também que não se combate o crime cometendo crime. Se não houvesse o Intercept, muito provavelmente teríamos pessoas vendendo operações. Fazendo coisas que estavam fazendo, como por exemplo, fazendo pessoas comprarem palestras. Tudo isso não é republicano. Também essa mistura entre juiz e promotor, que foi revelado, não tem nada a ver com nosso sistema. Então precisamos corrigir isso, prosseguir no trabalho contra a corrupção, mas dentro de um quadro de normalidade, institucional, menos personalistas", acrescentou.

Gilmar critica imprensa por "lavajatismo militante"

Ao falar mais uma vez da força-tarefa da Lava Jato, o ministro do Supremo aproveitou para criticar a postura da imprensa em alguns casos ao qual apelidou de "lavajatismo militante".

"Se vocês olharem minha história no STF, vão ver que participei como presidente do STF dos mutirões carcerários, libertamos 22 mil pessoas, trabalhamos no sentido da humanização do sistema prisional. Eu chamei atenção para os excessos da PF. Também participei do Mensalão, chamei atenção para a importância do trabalho do STF. Vocês mesmo da imprensa deletaram o trabalho que o Supremo fez no Mensalão. Tudo passou a ser Lava Jato. É um lavajatismo militante. Nós temos que ter, numa democracia, também uma mídia crítica. Quando a Lava-Jato acerta, tem que se dizer que acerta, mas quando ela erra, tem que se dizer".

Gilmar Mendes disse ainda que a mídia ajudou a criar "falsos heróis" durante a operação Lava Jato. "O que você acha que representou aquele episódio, que vocês minimizaram, do Miller (Marcelo Miller, ex-procurador, acusado de corrupção na delação premiada de executivos da JBS)? Se aquilo tivesse ocorrido em outra instituição ou não tivesse tudo, aquilo é corrupção clara, e veja com assentimento da procuradoria, e aí vocês publicaram. Então é preciso saber que houve abusos. De alguma forma, vocês criaram falsos heróis".

Quem é o responsável por fiscalizar o Supremo?

Durante o programa, o ministro que fez críticas duras a Lava Jato foi indagado também sobre a postura do Supremo Tribunal Federal e foi questionado sobre os poderes do órgão.

"Quem fiscaliza o Supremo é a sociedade como um todo. Quem fiscaliza a corte suprema americana? Em geral, é a atividade política, é a crítica, inclusive a literária. Em relação a pedido de vista, muitas vezes, eles são saudáveis. Nesse caso do financiamento, veja a bagunça que criamos. Eu disse no meu voto: 'vamos ter uma fábrica de laranjas' depois de um ano de pedido de vista. Portanto, não há nenhum excesso se considerarmos a responsabilidade da matéria. O que ocorreu? O que a Folha acaba de publicar? Que se fabricaram laranjas a partir do modelo de financiamento público como nós sabemos. Portanto, temos que meditar muitas vezes mais. Não sou contra o pedido de vista, o que o precisa de fato é ter uma disciplina sobre o tema."

Gilmar Mendes afirmou que faz uma auto-crítica sobre os atos do STF e acredita que assim como outros órgãos ele também é passível de erros. "Sou crítico do STF. Acho que nós erramos, e disse publicamente, querem ver? Naquele caso da revogação do benefício de Joesley. Eu disse que estava errado e que o tribunal pagaria por aquilo, disse na presença do Janot. Alguém chegou a dizer que devíamos lealdade ao Procurador-Geral, e eu disse naquela seção: devemos lealdade à Constituição. Eu chamei atenção para as prisões alongadas de Curitiba. O tribunal deliberou e foi decidido pela maioria."

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