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Odebrecht tinha interesse legítimo em palestras de Lula, diz Marcelo

Heuler Andrey/AFP
Imagem: Heuler Andrey/AFP

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

07/10/2019 16h20

Resumo da notícia

  • Empresário disse que palestras eram ação de relações públicas
  • "Agora, havia também por trás, a intenção de ajudar o Instituto Lula", disse
  • Lula é acusado pelo MPF de agir para favorecer com obras em Angola

O empresário Marcelo Odebrecht, delator e ex-presidente da companhia que leva seu sobrenome, afirmou hoje em depoimento à Justiça Federal que a contratação das palestras feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faziam parte do interesse "legítimo" da empresa em sua estratégia de relações públicas e também da intenção de "ajudar" na consolidação do Instituto Lula.

"As palestras tinham sim uma intenção legítima que era de relações públicas, agora havia também por trás, no meu entendimento das conversas com meu pai, a intenção de ajudar o Instituto Lula", afirmou o empresário.

Segundo Marcelo Odebrecht, a contratação de Lula como palestrante foi negociada entre o ex-presidente e o pai do empresário, Emílio Odebrecht, que tinha relacionamento mais próximo com o petista. Lula realizou palestras bancadas pela Odebrecht em países onde a empreiteira tinha negócios, como Angola.

Marcelo Odebrecht prestou depoimento hoje na 10ª Vara Federal de Brasília, ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, na ação em que o ex-presidente Lula responde pelos crimes de corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

Nesse processo, Lula foi denunciado por suspeitas de ter atuado para favorecer a Odebrecht com empréstimos do BNDES voltados a obras da empreiteira em Angola.

A acusação do MPF (Ministério Público Federal) afirma que as palestras contratadas pela Odebrecht foram uma forma de repassar propina a Lula, em contrapartida pelo financiamento do BNDES.

Outra fonte de propina, segundo o MPF, teria sido a contratação pela Odebrecht de uma empresa de Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Lula.

No depoimento de hoje, Marcelo Odebrecht não relacionou a contratação das palestras ao pagamento de propina ao ex-presidente, mas afirmou que as palestras foram contabilizadas na planilha mantida por ele em conjunto com o ex-ministro Antonio Palocci, denominada de "planilha italiano", que computava os repasses ao PT.

Palocci, que foi ministro no governo Lula, também fechou acordo de colaboração com a Justiça.

A contratação de Lula para palestras, segundo Marcelo Odebrecht, foi contabilizada como um dos diversos itens do apoio ao ex-presidente e ao PT, como doações para campanhas eleitorais.

Marcelo diz não ter conhecimento sobre se o ex-presidente sabia da existência dessa contabilidade paralela.

O empresário diz que conversou com Palocci previamente à realização das palestras por Lula, para que todo tipo de apoio da empresa ao ex-presidente e ao Instituto Lula, negociados por Emílio Odebrecht, fosse incluído na contabilidade de recursos destinados ao PT.

"Como as palestras estavam sendo pagas, esse valor tinha sido previamente descontado da planilha. Isso numa conversa minha com Palocci e sem o presidente Lula saber, pelo menos de minha parte", afirmou o empresário.

Na divisão de trabalho interna da empreiteira, Marcelo afirma que cabia a seu pai, Emílio, manter um maior relacionamento com o ex-presidente Lula e, por isso, a contratação das palestras foi negociada entre eles.

"Havia uma percepção nossa de que o presidente Lula era uma pessoa que tinha uma imagem bastante positiva em vários países que a gente atuava e, portanto, ao levar ele numa palestra não deixava de ser um trabalho de relações públicas", disse o empresário.

"Então eu acho que havia sim tanto um interesse de ter esse trabalho de relações públicas, como havia o interesse de algum modo ajudar o Instituto Lula, aí o peso desses dois só quem decidiu, que foi no caso meu pai, pode dizer", afirmou Marcelo.

O executivo disse ainda nunca ter presenciado o ex-presidente Lula participando de negociações ilícitas.

"Eu nunca tive relação nem responsabilidade pelas tratativas com o presidente Lula", disse o empresário. "Inclusive as provas e evidências que eu trouxe que vinculavam Lula aos acertos que eu fazia com Palocci eram provas indiretas e que vinham muitas das conversas com meu pai e com Palocci", afirmou Marcelo Odebrecht.

Na sexta-feira, em depoimento ligado a outro processo que também tem os empréstimos do BNDES em Angola como foco, Marcelo Odebrecht afirmou haver contradições entre os depoimentos de seu pai, Emílio Odebrecht, e de Antonio Palocci sobre o envolvimento de Lula nos fatos sob investigação.