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Ao rebater Bolsonaro, Witzel diz que não tem "bandido de estimação"

O presidente Jair Bolsonaro e governador do RJ Wilson Witzel em evento em setembro - Pedro Ladeira/	Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro e governador do RJ Wilson Witzel em evento em setembro Imagem: Pedro Ladeira/ Folhapress

Igor Mello

Do UOL, no Rio de Janeiro

01/11/2019 11h58

Após ser alvo de novas críticas por parte do presidente Jair Bolsonaro (PSL), em live nas redes sociais na noite de ontem, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC-RJ), subiu o tom e disse não ter compromisso de proteger investigados, mesmo que seja um "político" ou "filho de poderoso".

Bolsonaro voltou a acusar Witzel de ter vazado para a TV Globo o depoimento de um porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde Bolsonaro tem casa. No mesmo local, vive o policial reformado Ronnie Lessa, acusado de ser um dos assassinos da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

Segundo o porteiro, Élcio de Queiroz, outro acusado pelo assassinato, esteve no condomínio horas antes de o crime acontecer e teve sua entrada autorizada pelo presidente Bolsonaro. O MP (Ministério Público) do Rio diz que o depoimento do porteiro não condiz com a verdade, mas a perícia feita para embasar essa conclusão apresenta lacunas, como mostrou o UOL ontem.

Bolsonaro afirmou que no dia 9 de outubro, muito antes da divulgação da reportagem pela TV Globo, Witzel já tinha revelado a ele que seu nome aparecia na investigação. O governador voltou a negar ter avisado Bolsonaro sobre sua menção no depoimento. "Não vazei nada para a imprensa, não vazei nada para qualquer pessoa e jamais tive acesso aos autos do processo que investiga a morte da vereadora Marielle", reafirmou.

Witzel subiu o tom e, sem fazer citações nominais, insinuou que não irá agir para proteger Bolsonaro e seus filhos de investigações. O MP do Rio investiga dois filhos do presidente. O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) era alvo de uma apuração no Caso Queiroz, onde os promotores veem indícios de um esquema de corrupção em seu gabinete na Alerj, mas o STF suspendeu o procedimento. Recentemente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) também passou a ser investigado por suspeitas de rachadinha em seu gabinete.

"Eu não tenho bandido de estimação. Seja ele de farda, de distintivo, político ou filho de poderoso. Não tenho compromisso com a bandidagem. Assumi o estado sem qualquer compromisso com traficante ou miliciano. Todos aqueles que se colocarem na reta da Justiça serão presos, serão investigados", afirmou.

Witzel ainda ameaçou denunciar Bolsonaro por crime de responsabilidade caso o governo federal faça retaliações ao estado do Rio por conta dos desentendimentos entre o governador e o presidente. Apoiado pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na eleição do ano passado, Witzel viu sua relação com o clã azedar após anunciar sua intenção de disputar a Presidência da República em 2022.

"Não vou admitir que nenhum tipo de interferência venha a prejudicar o povo do nosso estado", afirmou. "Qualquer ato atentatório contra nosso estado, eu não hesitarei de tomar as medidas contra quem quer que seja. Se for agente político, não hesitarei em tomar as medidas contra o crime de responsabilidade que venha a ser praticado contra o nosso estado e nosso povo".

Punição a Eduardo Bolsonaro

Perguntado sobre a ameaça de "um novo AI-5" feita pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, Witzel defendeu que o parlamentar seja punido.

Segundo o governador do Rio, o país é um Estado democrático de direito e vive um momento de mudanças.

"Qualquer ataque à democracia deve ser duramente reprimido na forma da lei, e eu espero que não mais se repitam essas declarações", disse.

Eleito na esteira da onda bolsonarista na última eleição, Witzel se disse decepcionado com Bolsonaro e com sua militância mais fiel.

"Estou muito preocupado com o que estou assistindo, porque não esperava comportamentos como esse do presidente da República. Pior, comportamento da militância cega que faz acusações levianas, indevidas e sem prova".

Ele defendeu que é preciso buscar consensos e "governar para todos, sem ódio, rancor e desequilíbrio", em nova alfinetada em Bolsonaro.

"Atentar contra a democracia é crime de responsabilidade, atentar contra o povo é crime de responsabilidade, atentar contra o estado do Rio de Janeiro é crime de responsabilidade", finalizou Witzel.