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Lula pede juízo à esquerda para combater Bolsonaro e "ultradireita" em 2022

O ex-presidente Lula participa de ato em São Bernardo do Campo (SP) um dia após ser solto - Ricardo Stuckert
O ex-presidente Lula participa de ato em São Bernardo do Campo (SP) um dia após ser solto Imagem: Ricardo Stuckert

Bernardo Barbosa e Luís Adorno

Do UOL, em São Bernardo do Campo

09/11/2019 18h06

Resumo da notícia

  • Ex-presidente pediu à militância que não foque seus esforços pedindo impeachment de Bolsonaro
  • Foco, disse, é a união da esquerda para, em 2022, derrotar a direita
  • Lula quer participar de um festival em sua homenagem no Recife, no dia 17
  • Nesta semana, no entanto, o ex-presidente pretende ficar com a família

Livre há 24 horas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu à militância, na tarde de hoje, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, que não foque seus esforços pedindo o impeachment de Jair Bolsonaro, mas que a esquerda se una para, em 2022, derrotar a direita.

Em 45 minutos de discurso acompanhado de perto por militantes, Lula afirmou: "Eu tenho certeza que, se a gente tiver juízo e souber trabalhar direitinho, em 2022 a chamada esquerda que o Bolsonaro tem tanto medo vai derrotar a ultradireita."

Em entrevista ao UOL enquanto estava preso em Curitiba, Lula já havia sinalizado uma aproximação com Ciro Gomes (PDT), que, em 2018, tentou se eleger presidente não se juntando ao PT.

No segundo discurso de Lula após sua liberdade, o ex-presidente atacou a TV Globo, o presidente Jair Bolsonaro e os ministros Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia). Afirmou aos militantes estar "com tesão de 20 anos, energia de 30 e experiência de 70" e que está com mais gana "do que nunca" para estar ativo politicamente pensando em 2022: "Tô disposto a andar por este país, a percorrer este país".

A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), disse que Lula quer participar de um festival em sua homenagem no Recife, no dia 17. Segundo Gleisi, o terreno da disputa política sob Lula deve ser "a rua".

Ao longo do dia, petistas e aliados, como Guilherme Boulos (PSOL) e o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS), disseram que Lula quer rodar o país. Mas nesta semana, segundo Gleisi, Lula deve se dedicar a descansar e à vida particular.

A presidente do PT disse ainda que, com Lula livre, a oposição a Bolsonaro deve chegar a "outro patamar". O foco da mensagem do ex-presidente no discurso de hoje, afirmou ela, foi a defesa da qualidade de vida da população.

"O Lula fala com a massa, os trabalhadores. O que ele fala, reverbera muito. Não tenho dúvidas de que vamos estar em outro patamar de oposição", disse.

O ex-ministro Alexandre Padilha (PT), possível candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, também destacou o apelo popular de Lula e disse que o ex-presidente está "com muita vontade de diálogo."

"O Lula tem uma capilaridade no Brasil, uma capacidade de falar diretamente ao povo", disse. "Ele vai rodar o país, ouvir as pessoas, conhecer os problemas."

Para o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, ter Lula solto é como ter um "craque" de volta ao time. Medeiros destacou a importância de fortalecer uma agenda de esquerda mais ampla que a questão econômica.

"Falar de emprego, salário, é um dos temas. Mas acho que a gente tem que falar também de democracia, de soberania. A agenda do governo Bolsonaro ataca as liberdades democráticas, persegue minorias, tem muitas frentes. A oposição tem que ser capaz de dar conta de todas as agendas. Nós não estamos em condição de escolher que batalhas vamos combater

Lideranças de partidos de esquerda estiveram com Lula no ABC entre a manhã e a tarde de hoje. Nenhuma, no entanto, do PDT de Ciro. Do PSOL, havia, entre outros, Guilherme Boulos e Marcelo Freixo. Do PCdoB, Jandira Feghali e a presidente do partido e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, marcaram presença.

Lula solto

O ex-presidente Lula foi beneficiado com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que derrubou prisões em segunda instância. Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), menos de 5.000 presos serão beneficiados. Condenados com o trânsito em julgado, ou seja, sem mais oportunidades de recorrer, e aqueles com prisão preventiva, continuarão em cárcere.

Um dia depois da decisão do STF, a defesa de Lula pediu urgência na soltura do ex-presidente e coube ao juiz Danilo Pereira Júnior, que substitui Carolina Lebbos, da 12ª Vara Federal em Curitiba, assinar o alvará de soltura. Lebbos, que está em férias, é a responsável pela execução da pena de Lula. O petista deixou a PF em Curitiba no fim da tarde de ontem. Apesar da soltura, Lula não foi considerado inocente pela Justiça.

Lula estava preso em razão da sentença que recebeu no processo do tríplex do Guarujá, no litoral de São Paulo. A condenação ocorreu enquanto Lula era o pré-candidato do PT à Presidência da República e liderava a preferência nas pesquisas eleitorais.

O processo foi derivado da Operação Lava Jato, que tinha à frente o juiz federal Sergio Moro, atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, que venceu o segundo turno na disputa com Fernando Haddad (PT).