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"Sempre fomos tolerantes com o caixa dois", diz Marcelo Odebrecht

1º.set.2015 - Marcelo Bahia Odebrecht - Giuliano Gomes/Estadão Conteúdo
1º.set.2015 - Marcelo Bahia Odebrecht Imagem: Giuliano Gomes/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

17/12/2019 11h24

Preso durante mais de dois anos em Curitiba pela Operação Lava Jato, o engenheiro Marcelo Odebrecht diz que sempre houve tolerância com o caixa dois e classificou, em entrevista ao jornal O Globo, a crença de que os fins justificam os meios como "um grande pecado" cometido pela empresa.

Um dos maiores conglomerados empresariais do Brasil, a Odebrecht precisou protocolar em junho um pedido de recuperação judicial, o maior da história brasileira. Questionado sobre o que quebrou a empresa, Marcelo afirmou que "é fácil dizer que o que quebrou a Odebrecht foi a Lava Jato". No entanto, o empresário ele considera que a operação foi apenas "o gatilho".

"Sim, a Lava Jato foi o gatilho para nossa derrocada, mas a Odebrecht poderia ter saído dessa crise menor, mas mais bem preparada para um novo ciclo de crescimento sobre bases até mais sustentáveis. Só que nós não soubemos conduzir o processo da Lava Jato. A Odebrecht quebrou por manipulações internas, não apenas pela Lava Jato", disse.

Marcelo admitiu ainda que tem responsabilidade pelo que aconteceu com a empresa. "Nem eu, nem outros líderes da empresa nos eximimos. Muitos de nós tivemos a coragem de assumir nossos erros, e estamos pagando por isto."

Perguntado se o caixa dois era necessário, ele disse que estaria mentindo se dissesse que sim. "Havia empresas que corretamente não aceitavam fazer. Nós, porém, sempre fomos tolerantes com o caixa dois. E não faltavam motivos para justificá-lo. Seja porque o político tinha uma referência de orçamento oficial de campanha que não queria ultrapassar, seja porque o político não queria aparecer recebendo muito dinheiro de uma empresa com interesses na região, ou cujos projetos ele defendia", explicou.

Marcelo negou ter conhecimento de esquema de corrupção na liberação dos financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). "Que eu tenha conhecimento, nunca houve esquema de corrupção no BNDES. Apenas no contexto de uma negociação bilateral para ampliar uma linha de crédito entre o governo de Lula e de outro país, negociação da qual a Odebrecht nem era parte, houve um pedido de apoio financeiro ao PT, e que é objeto de uma ação penal em andamento."

Sobre o setor de operações estruturadas da empresa, conhecido como o "departamento da propina", Marcelo afirmou se tratar de "folclore" e disse que o departamento nunca existiu.

"A verdade é menos espetaculosa. Desde os anos 1980, bem antes de meu ingresso na empresa como estagiário, havia pessoas na Odebrecht que apoiavam os executivos na realização de pagamentos não contabilizados (...) Não estou negando o fato de que houve pagamento de propinas, só estou dizendo que não era nem de longe na dimensão que foi divulgada", argumentou.

Questionado sobre as investigações da Lava Jato, que apontaram que ele administrava uma conta usada exclusivamente para o PT, ele disse que não poderia entrar em casos específicos que fazem parte de processos em andamento.

"De maneira geral, era um registro de um lado dos valores de contribuição que eu e meu pai acertávamos com os governos do PT, e de outro dos pagamentos que eles pediam. Era uma conta fictícia na qual debitávamos os pagamentos que nos eram solicitados primeiro por Antonio Palocci e depois por Guido Mantega para atender os interesses do PT e, dentro dos interesses do PT, do Instituto Lula", respondeu.

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