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Vereador bolsonarista liderou motim em quartel onde Cid Gomes foi baleado

Sargento Ailton posa com camisa de Bolsonaro durante ato de campanha em 2018 - Reprodução/ Facebook
Sargento Ailton posa com camisa de Bolsonaro durante ato de campanha em 2018 Imagem: Reprodução/ Facebook

Igor Mello

Do UOL, no Rio

20/02/2020 18h07

Um vereador bolsonarista está entre as lideranças do motim no quartel da Polícia Militar do Ceará onde o senador Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado na quarta-feira (19). Filiado ao Solidariedade, Sargento Ailton é ligado a movimentos de direita e se engajou na campanha do presidente Jair Bolsonaro e participa de atos de apoio a ele no estado ao menos desde 2017.

Sargento Ailton estava na espécie de trincheira improvisada pelos policiais no batalhão da cidade no momento em que o senador foi baleado. À frente da manifestação, era um dos poucos presentes que não estavam encapuzados. Instantes antes de os tiros serem disparados, o vereador —que é sargento da Polícia Militar do Ceará— bateu boca com Cid, que chegou a tentar agarrá-lo pela camisa.

Sargento Ailton afirma em seu perfil no Facebook ter atuado como uma das lideranças da última greve de policiais militares no Ceará, entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012. Na ocasião, Cid Gomes era governador do estado e decretou estado de emergência em razão da paralisação. Homens das Forças Armadas e da Força Nacional foram deslocados pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para patrulhar as ruas do Ceará. Ele foi dirigente da Aspra-CE (Associação dos Praças do Estado do Ceará).

Ao menos desde meados de 2017, ele demonstra estar integrado à liderança da militância bolsonarista no estado. Ligado a grupos de direita da região, ele participou em novembro daquele ano de uma carreata e da inauguração de um outdoor em homenagem a Bolsonaro na cidade. Ao lado dele estava o hoje deputado federal Heitor Freire, presidente do PSL no Ceará e responsável pela organização da campanha de Bolsonaro no estado.

Sargento Ailton e Arthur Freire voltaram a estar juntos em um evento bolsonarista em Sobral em dezembro de 2017. Na ocasião, também estava presente o youtuber André Fernandes, eleito o deputado estadual mais votado do Ceará pelo PSL.

Em 2018, Sargento Ailton lançou-se candidato a deputado estadual pelo Solidariedade, em dobradinha com o ex-deputado federal Cabo Sabino —apontado como líder do motim em todo o estado. Apesar de seu partido formalmente ter feito parte da coligação de Geraldo Alckmin (PSDB), ele fez campanha abertamente para Bolsonaro, deixando-se fotografar constantemente com camisas em homenagem ao presidente. Mesmo assim, obteve apenas 7.387 votos e não conseguiu se eleger. No ano passado, o vereador também participou de manifestações de rua em apoio ao governo Bolsonaro em Sobral.

Em transmissão no Facebook após o tumulto, Sargento Ailton negou que tenha mobilizado policiais para a greve.

"Quando me viram, muitos me ameaçaram de morte. Atribuindo culpas que eu não tenho. Vim como qualquer outro servidor, não instiguei ninguém. Quem está aqui, está porque quer", disse.

O UOL tentou contato com o gabinete do vereador na Câmara Municipal de Sobral, mas ninguém respondeu às chamadas.

Vereador filmou momento em que Cid foi baleado

Ativo nas redes sociais, Sargento Ailton fez transmissões ao vivo no Facebook durante o ato de ontem. Em uma das transmissões, gravava a retroescavadeira usada por Cid Gomes quando o senador foi baleado. Imagens obtidas pelo jornal Diário do Nordeste, do Ceará, mostram que ao menos três homens atiraram contra o senador. Dois deles estavam próximos a Sargento Ailton, na primeira fileira de manifestantes.

Antes do tumulto, o vereador havia gravado outra live onde ironizou Cid Gomes, que já havia anunciado sua ida ao local. Ele disse que não havia policiais armados no piquete.

"Estão todos desarmados, ninguém quer confronto. Sei que ele quer tirar a nossa situação de ânimo para que a gente possa revidar, mas ele não vai encontrar isso", afirmou.

Cid Gomes é baleado durante ato da PM