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Bebianno afirmou ter 'fora do Brasil' material envolvendo Bolsonaro

Gustavo Bebianno - Walterson Rosa/Folhapress
Gustavo Bebianno Imagem: Walterson Rosa/Folhapress

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

14/03/2020 11h01

O ex-ministro do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Gustavo Bebianno, morto hoje após infarto fulminante, já afirmou ter "fora do Brasil" material com informações relativas ao mandatário e ao governo. A declaração foi dada em entrevista à Rádio Jovem Pan em dezembro de 2019.

"Me sinto, sim, ameaçado. O presidente Jair Bolsonaro é uma pessoa que tem muitos laços com policiais no Rio de Janeiro. Policiais bons e ruins. Me sinto, sim, vulnerável e sob risco constante. [...] Eu tenho material, sim, inclusive fora do Brasil. Porque eles podem achar que, fazendo alguma coisa comigo aqui no Brasil, uma coisa tão terrível que fosse capaz de assustar quem estivesse ao meu redor e, portanto, inibir a divulgação de algum material... Eu tenho muita coisa, sim, inclusive fora do Brasil. Então, não tenho medo", afirmou.

Pouco depois disse não ter medo de morrer. "Morrer para mim faz parte da vida. Não tenho nenhum problema em relação a isso."

Na mesma entrevista, fala de "muitas coisas que vivi, que testemunhei", mas que adotara a postura de preservar o presidente e "de jamais lançar mão de coisas que foram vividas na intimidade, no passado". Bebianno disse que, por mais que o presidente não tenha sido "leal e correto" com ele, não pretendia "devolver na mesma moeda".

Em 2 de março, nos bastidores do programa de televisão Roda Viva, do qual participou, Bebianno relatou ter medo de falar tudo o que sabe sobre os atos que envolvem Jair Bolsonaro. Ao ser pressionado por jornalistas, fora do ar, respondeu: "Está vendo aquele ali [apontando para o seu filho]? É o meu único segurança", disse. O jovem era o único na plateia de convidados de Bebianno.

Bebianno foi um dos principais articuladores da campanha de Bolsonaro em 2018, tendo inclusive sido presidente interino do PSL no período eleitoral. Após sair do Planalto por divergências com a família Bolsonaro, ele falou ter uma "decepção enorme" com o presidente e ressaltou ter feito mais por ele do que os três filhos políticos juntos (Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro).

O ex-ministro contou ter estreitado o relacionamento com Bolsonaro em meados de 2017 e enxergou a facada sofrida pelo presidente como um divisor de águas no "grau de loucura" e no aumento de teorias de conspiração dentro do Planalto.

Bebianno afirmou que Bolsonaro é mau caráter e que o considera como traidor todos os que tentam lhe fazer críticas construtivas.

Pacotes de documentos e cartas

Ao UOL, o deputado federal Julian Lemos (PSL-PB), um dos amigos mais próximos de Bebianno, confirmou a existência de dois pacotes de documentos e cartas guardados pelo ex-ministro. Um no Brasil e outro no exterior, revelou o parlamentar.

Deputado federal Julian Lemos (PSL-PB) ao lado de Bebianno  - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Deputado federal Julian Lemos (PSL-PB) ao lado de Gustavo Bebianno
Imagem: Arquivo Pessoal

Segundo ele, Bebianno como ex-advogado e coordenador da campanha de Bolsonaro, guardou variados documentos e registros de quando era amigo de Bolsonaro e trabalharam juntos. O deputado disse não saber se há conteúdo que possa vir a incriminar o presidente por algum motivo e quem teria a posse dos pacotes.

"É sobre tudo [o que viveu com Bolsonaro]. Tudo, tudo, tudo. Ele tem a história. Tudo é tudo. Ele era advogado do presidente", falou.

Julian Lemos afirmou ter conversado com Bebianno nesta semana em Brasília, quando o ex-ministro viajou para a capital federal.

"Era um homem de bem. Quando falo de Bebianno, falo em honra, generosidade, coragem, lealdade, mas, sobretudo, de tristeza. Bebianno vivia muito triste pela forma como foram levianos com ele, caluniadores, como atingiram sua honra", afirmou, acrescentando, porém, que o amigo morreu leal ao presidente.

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