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Panelaço contra 'algumas autoridades' seria 'ensurdecedor', diz Bolsonaro

ADRIANO MACHADO
Imagem: ADRIANO MACHADO

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

20/03/2020 14h04

Em meio às crises de saúde e de economia geradas pela pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenta se livrar da crise política, criada por ele mesmo e sua família. Em entrevista na manhã desta sexta-feira (20), o presidente afirmou que, se fossem feitos panelaços conta "algumas autoridades" e a TV Globo, o som seria "ensurdecedor".

Bolsonaro foi alvo de três dias de panelaços depois que desrespeitou medidas de combate à covid-19 para ir abraçar militantes políticos em um protesto contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) no domingo. Até apoiadores das pautas do governo e setores da elite passaram a bater panelas nas varandas e janelas.

Hoje, o presidente foi questionado sobre o tema novamente e disse "não estar preocupado" com os movimentos. No entanto, aproveitou para criticar adversários. "A minha preocupação é se marcarem contra a Globo ou contra algumas autoridades que temos por aí, tá certo? Vai ter um som ensurdecedor", afirmou.

Na conversa com os repórteres, ele evitou comentar a crise gerada por um de seus filhos mais polêmicos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que acusou a China e o Partido Comunista que comanda o país de serem culpados pela pandemia do coronavírus. Jair Bolsonaro se negou a pedir desculpas e não quis comentar a atitude de seu adversário, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que condenaram a atitude do deputado.

"Pergunta para os deputados", despistou. E, na sequência, alfinetou a dupla de parlamentares. "Vocês sabem o que está em jogo, não é China nem Brasil. Vocês sabem o que está em jogo. Outra pergunta. Esse assunto é página virada."

Numa entrevista em que defendeu seus ministros, fez comparações com o presidencialismo de coalização e criticou governadores, Bolsonaro tentou arrefecer as críticas que vem recebendo desde domingo passado.

'Não é hora de disputa política, de fazer grupo para lá e para cá, de me acusar de tudo o que acontece"
Jair Bolsonaro, presidente

Na conversa com os jornalistas, Bolsonaro atacou seu ex-aliado e adversário Wilson Witzel (PSC), governador do Rio de Janeiro. "Eu vi ontem o decreto do governador do Rio que, confesso, fiquei preocupado. Parece que o Rio de Janeiro é outro país. Não é outro país." Witzel decretou o fechamento dos aeroportos, mas o presidente afirmou que só a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) poderia fazer isso.

O presidente ainda alfinetou governadores que ordenaram o fechamento de estabelecimentos comerciais, como o de São Paulo, seu outro ex-aliado João Doria (PSDB). No entanto, a medida foi tomada até por aliados fieis ao presidente, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM).

"Tem certos governadores que estão tomando medidas extremas. Não compete a eles fechar aeroporto, fechar rodovias, shopping, feiras dos Nordestinos", disse Bolsonaro.

O presidente ainda criticou governos anteriores, que faziam uma composição com partidos políticos e congressistas para montar os ministérios e governar, o chamado "presidencialismo de coalizão".

"O que cabe a mim, eu estou fazendo com os meus ministros. Vai manter os ministros ou vai botar ministros como antigamente no Executivo?", afirmou Bolsonaro.

Lula quer prioridade à saúde; Bolsonaro teme economia

Na véspera, outro adversário do presidente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu que é preciso cuidar primeiro da saúde das pessoas, e só depois verificar déficit fiscal e problemas econômicos.

Mas, hoje, Bolsonaro se disse preocupado com a economia, cujas possíveis perdas já são analisadas pela Fundação Getúlio Vargas. "Vocês vão querer jogar a responsabilidade em cima de mim. A economia está parando", disse o presidente.

Crítica a Mandetta é "fofoca", diz presidente

O presidente defendeu a competência de seu ministro da Saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta (DEM). Ele disse que trata-se de um ministro "normal" que "apareceu" repentinamente. "O Mandetta, por exemplo, estava um ministro normal. De repente, por que ele apareceu? Precisou, e está mostrando sua competência. Já vem fofoca de que eu estou preocupado com a competência dele."

Bolsonaro voltou a mencionar o contra-almirante e médico Antônio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O chefe do órgão se alinhou a Bolsonaro e participou dos protestos anti-Congresso e anti-STF, que detonaram a crise política no colo do Executivo. O militar estaria em contato com estrangeiros que estudam vacina para o coronavírus, destacou o presidente hoje.

Bolsonaro reclamou da ausência de seu principal conselho político, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno. O militar está isolado pois contrariou coronavírus. "Tô chateado, maior conselheiro meu está em casa, o general Heleno, espero que ele supere isso daí. É melhor estar do meu lado do que falar por telefone."