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Quatro recomendações contra o covid-19 que Bolsonaro desrespeitou hoje

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

29/03/2020 15h31

Na contramão de todas as orientações das autoridades de saúde, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu fazer hoje um tour por Brasília e pelas populosas regiões administrativas do Distrito Federal, como Ceilândia, Taguatinga e Sobradinho.

O passeio contrariou ao menos quatro recomendações sanitárias em meio à pandemia de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

1 - É preciso reduzir, e não estimular, interação social

O cálculo é do ministério da Saúde: se contato social não for reduzido no Brasil, as infecções de coronavírus, que já são ao menos 3.904 e já mataram pelo menos 111 brasileiros, dobraram a cada três dias no país.

Por isso, o apelo da pasta é para que os brasileiros restrinjam os contatos sociais — por isso shows, aulas, manifestações, jogos de futebol e toda situação desnecessária que reúna pessoas foram canceladas no Brasil e no mundo.

Mas Bolsonaro pareceu não se importar com a determinação e, ao sair em áreas populosas do Distrito Federal, reuniu em torno de si pessoas que queriam vê-lo.

2 - Em grupo, é preciso manter distância

Infectologistas recomendam ao menos um metro de distância entre as pessoas, quando houver grupos.

Mas nesta manhã, Bolsonaro tirou fotos com frentistas em um posto de gasolina no Plano Piloto e não respeitou esse espaço de segurança.

Também parou para conversar com um vendedor e viu, ao seu redor, nova aglomeração surgir.

3 - Cuidado redobrado com maiores de 60 anos

Segundo especialistas, como ainda não há vacina para o covid-19, o isolamento é a única forme de evitar que a doença se espalhe ainda mais e afete, sobretudo, os chamados grupos de risco (idosos e pessoas com complicações preexistentes).

Durante a passagem pelas cidades satélites do DF, Bolsonaro caminhou entre idosos, isto é, indivíduos que fazem parte de um grupo de risco. O próprio presidente pertence ao estrato mais vulnerável, pois tem 65 anos —qualquer pessoa acima de 60 anos corre mais riscos do que as demais.

Apesar da gravidade do problema e dos riscos para a população, Bolsonaro se lançou em uma empreitada pública para desconstruir a importância do isolamento. A situação tem gerado atritos entre ele o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM). Especula-se, inclusive, que o chefe da pasta estaria sob ameaça de demissão por contrariar a postura do presidente.

4 - Não compartilhar objetos

O coronavírus sobrevive por até 3 dias em plástico e até 24 horas em papelão.

Por isso, a recomendação é também redobrar hábitos de higiene ao compartilhar objetos — pegá-los com luva ou limpá-los com desinfetante ou álcool gel antes se for preciso passar de uma pessoa ou outra.

Hoje, ao retornar para o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, Bolsonaro parou na portaria para conversar com os jornalistas e cumprimentar apoiadores. Nesse momento, sem luvas ou qualquer proteção, ele pegou uma pulseira dada por uma criança e colocou em seu punho. A atitude não é recomendada pelos médicos.

"Agenda pessoal"

Bolsonaro saiu de casa hoje para visitar uma farmácia, uma padaria e um supermercado. Depois disso, dirigiu-se ao Hospital das Forças Armadas.

A ida à unidade de saúde ocorre em um momento onde Bolsonaro é cobrado a mostrar o resultado dos exames que fez para detectar se há contaminação pelo coronavírus. O governo não esclareceu se ele realizou algum exame ou se fez apenas uma visita social ao HFA.

O Planalto informou apenas que o mandatário esteve em "agenda pessoal".

Bolsonaro diz que está bem e não foi infectado. No entanto, mais de 20 pessoas que estiveram com ele na viagem aos Estados Unidos, no início de março, já testaram positivo. Entre os contaminados está o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, e o chefe da Secretaria Especial de Comunicação, Fábio Wajngarten.