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Prefeito cita 'colapso funerário' em Manaus e ataca Bolsonaro por covid-19

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto - Reprodução/Twitter/@Arthurvneto
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto Imagem: Reprodução/Twitter/@Arthurvneto

Do UOL, em São Paulo

10/04/2020 17h18

Arthur Virgílio Neto (PSDB), prefeito de Manaus, disse hoje que a cidade já vive um "colapso funerário" com as mortes causadas pela covid-19 e atacou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por "desmobilizar" a população sobre a importância do isolamento social. A cidade já registrou 42 vítimas fatais.

"Está havendo um colapso funerário, os enterros estão crescendo de maneira exponencial, as mortes. É uma situação que deixa as pessoas nervosas, estressadas. Atitudes como a do presidente, que sai tranquilamente às ruas e mostra que para ele não há perigo em nada, fazem com que hoje muitas ruas em Manaus estejam cheias de carros", disse ele à CNN Brasil.

Em sua crítica ao presidente da República, Arthur Virgílio mencionou um "passeio" feito por Bolsonaro por Brasília para cumprimentar apoiadores. "Os principais líderes do Congresso precisam se manifestar com clareza e dar um basta nisso. É fundamental que um poder não atrapalhe o outro. Para desmobilizar, basta um passeio em uma feira", afirmou.

"Os dados chegam a mim todos os dias. Manaus está entrando em caos funerário, não tem mais espaço. Eu não me referia ao governador [Wilson Miranda Lima (PSC)], entendo que é hora de juntar as forças. Eu estava me referindo ao presidente da República. É uma luta tão grande que prefeitos e governadores têm de ser liderados pelo presidente. Ele tem de se alçar à altura de quem tem todo este peso nas costas. Afinal de contas, são vidas", disse Arthur.

A situação do sistema de saúde do Amazonas ameaça entrar em colapso, conforme nota enviada pela Secretaria estadual de Saúde. O hospital Delphina Aziz, referência ao coronavírus, está prestes a entrar em colapso. Ele tem 69 leitos de UTI e 60 estão ocupados. Ocorre que por falta de enfermeiros e técnicos de enfermagem os nove leitos restantes estão inoperantes. O governo estadual tenta contratações, mas não informou em qual prazo.

O prefeito de Manaus anunciou a criação de um hospital de campanha. Arthur Virgílio trabalha para aumentar a capacidade de atendimento da cidade e reclama que a postura do presidente, em insistir no fim do isolamento social, não ajuda no enfrentamento da pandemia.

"Tomara que eu esteja errado e que o presidente Bolsonaro esteja certo. Tomara que as pessoas possam ir às ruas como querem e que eu esteja errado, porque elas pagam duas vezes o preço: de pegar a doença e de ir a uma unidade de saúde que pode não ter como atendê-las. É um momento sério, em que se cobra seriedade, amor e respeito do homem público", pediu.

"As pessoas estão fingindo que há uma vida normal. Isso não ativa a economia coisa alguma, pelo contrário. Dá a impressão de ativar a economia, mas vai causar mais doentes e o colapso em cima do colapso no sistema, e o pior, com mais atraso no crescimento econômico. Nós teríamos de fazer o contrário: isolamento ao máximo para ter mão de obra saudável para enfrentar o que vem pela frente", alertou Arthur Virgílio.

Por fim, ele elogiou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem tido atritos com Jair Bolsonaro - ontem, o presidente disse que "médico não abandona paciente, mas paciente pode trocar de médico", frase que foi vista como um recado. O prefeito de Manaus manifestou apoio à abordagem do ministro contra o coronavírus.

"Eu dou todo apoio às medidas que o ministro Mandetta toma, sou solidário ao trabalho dele. Todos os países que seguiram esta receita começaram a se livrar mais cedo do 'corona'. Os que não seguiram tiveram de fazer mea culpa e entrar no caminho recomendado pela OMS [Organização Mundial da Saúde]. Não foi inventado pelo Mandetta", comentou.

"Eu poderia muito bem me esconder, mas não é do meu caráter me esconder. (...) O ex-presidente Obama [dos EUA] disse que a pior coisa que um governante pode fazer é desinformar seus governados. Tenho uma sensação de pena quando vejo as pessoas, inocentemente, tentando se convencer de que não há nada de mais, de que incêndio só acontece na casa do vizinho", lamentou Arthur Virgílio.