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Operação Lava Jato

Lava Jato critica interferência na PF e vê "risco" em ação de Bolsonaro

O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato, e o ex-ministro Sergio Moro em evento em São Paulo em 2017 - HÉLVIO ROMERO - 24.out.2017/ESTADÃO CONTEÚDO
O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato, e o ex-ministro Sergio Moro em evento em São Paulo em 2017 Imagem: HÉLVIO ROMERO - 24.out.2017/ESTADÃO CONTEÚDO

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

24/04/2020 13h41Atualizada em 24/04/2020 14h01

A força-tarefa da Operação Lava Jato no MPF (Ministério Público Federal) do Paraná criticou a possibilidade de interferência do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), na PF (Polícia Federal).

A ação de Bolsonaro foi declarada hoje pelo agora ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que deixou o cargo hoje. Quando juiz, Moro era responsável por julgar processos da Lava Jato.

Segundo o ex-ministro, o presidente pediu a mudança no comando da PF porque Bolsonaro "queria ter alguma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações".

Para os procuradores da Lava Jato, "as investigações devem ser protegidas de qualquer tipo de ingerência político-partidária". "É inconcebível que o presidente da República tenha acesso a informações sigilosas ou que interfira em investigações."

O grupo da Lava Jato diz que "a tentativa de nomeação de autoridades para interferir em determinadas investigações é ato da mais elevada gravidade".

Segundo a força-tarefa, isso "abre espaço para a obstrução do trabalho contra a corrupção e outros crimes praticados por poderosos, colocando em risco todo o sistema anticorrupção brasileiro."

ANPR vê crimes de Bolsonaro

Mais cedo, o presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), Fábio George Cruz da Nóbrega, qualificou como muito "graves as declarações" de Moro porque elas "sinalizam a ocorrência de crime de falsidade ideológica de responsabilidade do presidente da República".

Além da acusação interferência de Bolsonaro, Moro disse que não assinou a exoneração do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o que representaria a falsidade ideológica, já que o nome do ex-ministro consta no documento publicado no Diário Oficial da União. "Ambas as ocorrências precisam ser devidamente apuradas", disse Nóbrega.

Ajufe se diz preocupada

Para o presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), Fernando Mendes, casou "surpresa" a saída de Moro neste momento de crise, em razão da pandemia do novo coronavírus.

"Preocupa, principalmente, que o ministro tenha saído alegando a tentativa de pressões políticas na autonomia da PF, o que é extremamente ruim para o Brasil", disse Mendes em nota.

Delegados do PR se dizem "vigilantes"

Os delegados da PF no Paraná, base da Lava Jato, também demonstraram "insatisfação" com a saída de Moro e a demissão de Valeixo.

O sindicato que os representa diz que seguira "vigilante na observação das futuras decisões dos poderes constituídos, sobretudo com a finalidade de impedir qualquer ingerência na nossa Polícia Federal".

Leia a íntegra da nota da força-tarefa da Lava Jato:

"Os procuradores da República integrantes da força-tarefa da operação Lava Jato do Ministério Público Federal no Paraná vêm a público manifestar repúdio às noticiadas tentativas de interferência do Presidente da República na Polícia Federal em investigações e de acesso a informações sigilosas.

1. A operação Lava Jato demonstra que o trabalho do Estado contra a corrupção exige instituições fortes, que trabalhem de modo técnico e livre de pressões externas nas investigações e processos.

2. Assim, a escolha de pessoas para cargos relevantes na estrutura do Ministério da Justiça e da Polícia Federal deve ser impessoal, guiada por princípios republicanos e jamais pode servir para interferência político-partidária nas investigações e processos.

3. Da mesma forma, as investigações devem ser protegidas de qualquer tipo de ingerência político-partidária. É inconcebível que o Presidente da República tenha acesso a informações sigilosas ou que interfira em investigações.

4. A tentativa de nomeação de autoridades para interferir em determinadas investigações é ato da mais elevada gravidade e abre espaço para a obstrução do trabalho contra a corrupção e outros crimes praticados por poderosos, colocando em risco todo o sistema anticorrupção brasileiro."

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