Topo

CPI das fake news mira whatsapp de laranjas, Moro e filhos de Bolsonaro

Constança Rezende, Eduardo Militão e Luís Adorno*

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

29/04/2020 12h10

O presidente da CPI mista das fake news, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), afirmou que técnicos da comissão de inquérito identificaram telefones de laranjas, inclusive com CPFs de pessoas mortas, para abrir contas de WhatsApp e fazer disparos de mensagens em massa. Além disso, ele afirmou que há pressão dos filhos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para barrar as investigações e disse que isso causa "curiosidade" e vontade de investigar.

Além disso, ele afirmou, em entrevista à colunista do UOL Constança Rezende nesta quarta-feira (29), que o ex-ministro Sergio Moro e o presidente da República praticaram corrupção ativa e passiva no episódio da promessa de pensão do ex-juiz da Lava Jato. A comissão do Congresso é a que mais irrita o presidente Jair Bolsonaro e sua família no momento — e o incômodo é motivo de "curiosidade" para o presidente da CPMI.

Whatsapps de laranjas

O senador disse que assessores da comissão trabalham apesar de as reuniões com parlamentares estarem suspensas por causa da pandemia de coronavírus. "Os técnicos estão pegando perfis que foram detectados após denúncia como falsos, de CPFs até de pessoas mortas que foram usadas para abrir conta no Whatsapp, para disparo em massa", revelou Coronel.

"Estão tentando detectar a origem, quando você pega o chip de uma pessoa que morreu e habilita esse chip numa companhia telefônica, você abre uma conta no Whatsapp você tem que saber quem foi o autor, quem conseguiu fazer esse crime."

Segundo ele, são "CPFs de laranjas, de pessoas que não têm nenhum conhecimento" e que "também foram utilizados para abrirem conta no Whatsapp e perfis no Instagram e no Facebook". "Temos que chegar nessas pessoas. Quando eles usam caricaturas, se escondem por trás. Você não consegue descobrir quem são essas pessoas. Eles conseguem atacar anonimamente."

Como mostrou o UOL, dados em poder da CPI mostram que os endereços de internet das contas de WhatsApp que mais dispararam mensagens em massa durante as eleições de 2018 ficavam no Brasil apesar de os telefones celulares terem chips do exterior. Uma quebra de sigilo desses IPs poderia mostrar pessoas reais e eventuais financiadores de campanha ocultos, apostam os parlamentares.

Além disso, o UOL revelou que uma conta de rede social que fazia ataques virtuais é ligada ao gabinete de um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do presidente. "Foi uma infantilidade", comentou Coronel. "Só os fatos vão mostrar se houve uma infantilidade ou se não há nada comprometedor."

Temor de filhos de Bolsonaro aumenta interesse em investigar

A CPI foi prorrogada apesar das pressões do governo. Eduardo Bolsonaro foi ao Supremo Tribunal Federal tentar barrar a continuidade das apurações. Segundo Coronel, o deputado " fez um desserviço à nação" porque as investigações não se voltam apenas para o núcleo bolsonarista.

"Eu quero que a CPI, independentemente da linha política... nós estamos em quatro linhas de investigações. Se está incomodando a questão das eleições 2018 o clã bolsonarista, temos outras frentes que precisam ser protegidas. Uma mulher foi morta no Guarujá porque diziam que ela fazia magia negra. Era fake news. A partir do momento em que o Eduardo (Bolsonaro) entra na Justiça para suspender os trabalhos da CPI, é um desserviço à nação."

No mês passado, o UOL revelou que uma quebra de sigilo determinada pela CPMI mostrou que umas páginas utilizadas para ataques virtuais e para estimular o ódio. A CPMI identificou que a ação era movida contra supostos adversários do presidente registrada a partir de um telefone e um email utilizados pelo secretário parlamentar do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Eduardo Guimarães.

Eduardo Bolsonaro entrou com um pedido no STF (Supremo Tribunal Federal) para suspender a comissão. O processo está sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes. Para o senador Angelo Coronel, a preocupação de Eduardo Bolsonaro em barrar a investigação no Senado sugere algo de errado.

"No provérbio popular, quem não deve, não teme. Esta com algum receio de chegar a algo e comprometer. A partir do momento que ele entra com esse pedido, está com medo de alguma coisa. A CPMI não é para investigar pessoas, mas um fato que está acontecendo no Brasil em geral", afirmou o senador sobre o filho do presidente Eduardo Bolsonaro.

Fake news orquestradas

Para o presidente da CPMI, "há uma coisa literalmente orquestrada para fazer" disparos de fake news em massa, mas ainda não se chegou aos mentores, financiadores e operadores. "Detectamos que, no mesmo instante, as mesmas redes sociais recebem o mesmo ataque. Está caracterizado claro que existe uma organização por isso. Alguém está pagando. Porque os operadores devem receber salário para isso", disse.

Ninguém trabalha de graça. Acredito que exista uma rede no Brasil, talvez até gente utilizada fora do Brasil.

Na quebra dos sigilos das máquinas feitas até o momento, foram identificados telefones de outros países, como Uruguai e Estados Unidos, segundo o senador. "Chips brasileiros e internacionais. As contas que foram banidas do Whatsapp, tbm estamos requerindo ao Whatsapp quem fez aquelas contas", afirmou.

O UOL revelou em janeiro que os dados em poder da CPI mostravam chips também da Inglaterra e Vietnã, apesar de eles serem operados dentro do Brasil.

Além de Eduardo, a CPMI está com tom "aguçado" após posicionamentos contrários ao trabalho do grupo de Carlos Bolsonaro. "Carlos até a semana passada não atacava a CPMI, sábado descarregou veneno, me chamando de vagabundo, depreciou a CPMI. Me deixa curioso: por que esse pessoal está tão nervoso? Me deixa curioso", disse Angelo Coronel.

"Não acredito que vá comprometer a eleição de 2018, porque acho que é um problema do TSE, mas quero que as próximas eleições sejam feitas com tranquilidade. Vete mensagens em massa, disparos em massa para depreciar candidatos. Não é a CPMI que vai cassar o presidente", complementou.

Apesar disso, o senador entende que a CPI não vai resultar em cassação de políticos por causa das últimas eleições. "Essa é um problema do TSE. Não é a CPI que vai cassar o presidente."

Moro cometeu corrupção e prevaricação, diz senador

A CPI tem 165 requerimentos de convocação de pessoas, incluindo de Sergio Moro, e cerca de 60 de quebras de sigilo bancário e de comunicações.

Segundo Coronel, Moro disse que pediu uma pensão à sua família para assumir o cargo, mesmo não havendo previsão para isso. E Bolsonaro nada disse a respeito disso. O ex-ministro teria cometido corrupção e prevaricação.

"A partir do momento que ele diz que o presidente pedia informações de inquéritos sigilosos, não fornecia, mas não denunciou o presidente, ele cometeu o crime de prevaricação", iniciou o senador.

"A partir do momento que ele manter uma pensão em caso de morte, corrupção passiva. A partir do momento que o presidente não negou, é corrupção ativa do presidente da República. Nesse depoimento houve vários crimes cometidos de menor e maior monte, que precisam ser esclarecidos, dele e do presidente."

Colaboraram Stella Borges e Fabio Regula, do UOL em São Paulo