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Centrão: Bolsonaro atendia índios, agora quer caciques, diz Delegado Waldir

21.nov.2018 - Delegado Waldir participa de reunião do PSL, no Hotel Melia em Brasília - FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
21.nov.2018 - Delegado Waldir participa de reunião do PSL, no Hotel Melia em Brasília Imagem: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Gabriela Sá Pessoa

Do UOL, em São Paulo

03/05/2020 04h01

Ex-líder do PSL na Câmara, o deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO), crítico de Jair Bolsonaro (sem partido), afirma que em vez de índios, o presidente quer caciques. Refere-se à aproximação recente do chefe dos Poderes com o centrão, grupo de partidos do Congresso conhecido por trocar votos por cargos.

Ao UOL, o parlamentar conta que, segundo ele, a oferta do governo Bolsonaro ao centrão ocorre já desde o início do mandato. A novidade, diz, é que o presidente passa a negociar com os chefes dos partidos desse grupo, ganhando apoio amplo, em vez de tratar diretamente com inúmeros parlamentares.

Ontem, Waldir publicou em suas redes um vídeo em que bolsonaristas discutem com defensores de Sergio Moro, na frente da sede da Polícia Federal em Curitiba, enquanto o ex-juiz e ex-ministro prestava depoimento sobre as acusações que fez ao presidente. "Centrão assistindo de camarote? Comemorando com champanhe? Os cargos e Bolsonaro de joellhos? Voltando às origens", escreveu na publicação.

Waldir tem usado a expressão "gado" para se referir a apoiadores do presidente, para quem fez campanha em 2018 e com quem rompeu em outubro de 2019, numa briga que rachou o PSL na Câmara dos Deputados.

"Eu fui 'gado', mas não tenho como defender, hoje, Queiroz, Valdemar da Costa Neto, rachadinha", disse o parlamentar em entrevista ao UOL, na noite deste sábado.

"Agora, na verdade, a aliança é com partidos políticos do centrão. Ele está dando cargos para os presidentes dos partidos. Ele está dando cargo não é para os índios, não — os deputados são índio — ele está dando cargos para os caciques. Agora que está distribuindo o filé mignon", afirmou, citando posições no Fundeb e no Banco do Nordeste.

Para Waldir, Bolsonaro sempre esteve ligado à sua origem, justamente este bloco partidário. O presidente, hoje sem partido, já foi membro de oito partidos antes do PSL, incluindo PP e PTB, sigla com a qual negocia apoio, segundo relatos em Brasília.

Vou pegar Goiás [como exemplo]. O Professor Alcides [deputado federal, PP-GO], qual cargo que ele tem? O indicado dele comanda o Iphan em Goiás. Quem comanda cada superintendência? DNIT, Ibama, Incra. Se pegar no Brasil todo, desde o início da gestão, ele fez aliança com partidos do centrão. Dependia do relacionamento que você tinha com o Flávio [Bolsonaro], ou com o presidente ou com o ministro.

"Não vou sucumbir às loucuras"

Waldir critica as ações do presidente em maio à pandemia do novo coronavírus e diz que ele debocha das famílias vítimas da doença.

"Não vou sucumbir às loucuras que [os bolsonaristas] estão fazendo. Diferente do PT lá atrás, quando senadores e deputados petistas mesmo vendo toda a corrupção, nunca fizeram um mea culpa. Eu tô fazendo a minha mea culpa. Minha 'meia', não — minha inteira culpa", diz.

Bolsonaro, para o deputado, vestiu um personagem de combate à corrupção para as eleições de 2018, o que convenceu o eleitor de direita favorável à Lava Jato.

Qual valor que o Bolsonaro tinha? Adotou um personagem, pegou o que a sociedade precisava e se apropriou do combate a corrupção, de oposição ao PT. Todos os outros candidatos ficaram em cima do muro.

Huck e Moro

Waldir já tem dois candidatos à Presidência para 2022: Sergio Moro ou Luciano Huck, que considera "pessoas mais sensatas".

Nenhum dos dois citados é filiado a partido ou declara a intenção de concorrer. "Ainda bem. Isso mantém a independência deles, vão construir projetos próprios."

Uma condição, porém, faria o ex-aliado votar novamente em Jair Bolsonaro: o embate entre o presidente e Lula (ou outro candidato do PT).

Os petistas são radicais iguais aos bolsonaristas. Entre o mal de esquerda e o mal de direita, eu prefiro o mal de direita. Sou de direita, conservador, defensor da família e membro da bancada da segurança pública.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.