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'Há lealdades maiores do que as pessoais', diz Sergio Moro

Ex-ministro da Justiça Sergio Moro e Jair Bolsonaro, presidente da República                              - EVARISTO SA/AFP
Ex-ministro da Justiça Sergio Moro e Jair Bolsonaro, presidente da República Imagem: EVARISTO SA/AFP

Flávio Costa*

Do UOL, em São Paulo

03/05/2020 10h48Atualizada em 03/05/2020 13h52

O ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro afirmou hoje que "há lealdades maiores do que as pessoais". O post no Twitter foi publicado um dia depois de Moro ter prestado depoimento à Polícia Federal no inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cometeu crimes ao tentar interferir na corporação.

Ontem, antes do começo do depoimento, Bolsonaro chamou Moro de "Judas", em referência ao apóstolo que traiu Jesus Cristo.

Já hoje, também pelo Twitter, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), afirmou que Moro "não era ministro, era espião".

Depoimento de Moro

O depoimento de Moro durou oito horas na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

O ex-juiz da Lava Jato foi ouvido sobre suas acusações de tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na corporação. Ele deixou a sede da Polícia Federal por volta das 23h e disse estar 'cansado'.

O ex-juiz da Lava Jato apresentou conversas, áudios e e-mails trocados com o presidente Jair Bolsonaro durante o período que ocupou o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Durante o depoimento de Moro, grupos de manifestantes pró-governo chamavam o ex-ministro de 'rato' e 'Judas', xingamento utilizado por Bolsonaro nas redes sociais antes da oitiva. "Com tantos crimes maiores, porque ele quis se voltar contra o presidente e sua família?", gritavam do carro de som.

Um grupo de apoiadores de Moro também esteve no local, com faixas de suporte ao ex-juiz e a Operação Lava Jato.

Moro acusou Bolsonaro de trocar o comando da PF para obter informações e relatórios sigilosos de investigações ao anunciar demissão, na semana passada.

O Planalto se preocupa com o andamento de inquéritos que apuram esquemas de divulgação de 'fake news' e financiamento de atos antidemocráticos realizados em abril, em Brasília.

"O presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência, seja diretor, superintendente, e realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm de ser preservadas. Imagina se na Lava Jato, um ministro ou então a presidente Dilma ou o ex-presidente (Lula) ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações", disse Moro, ao comentar as pressões de Bolsonaro para a troca no comando da PF.

A troca de comando na PF foi barrada por liminar do ministro Alexandre de Moraes, que viu indícios de desvio de poder na nomeação de Alexandre Ramagem, diretor da Abin, para a chefia da PF. Ramagem é próximo de Bolsonaro e amigo dos filhos do presidente. A indicação foi anulada pelo Planalto e o presidente ainda estuda recursos contra a decisão judicial.

O ex-juiz da Lava Jato prestou depoimento acompanhado de advogado e não falou com a imprensa ao chegar e deixar a sede da PF em Curitiba.

O inquérito aberto a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, mira tanto o presidente quanto Moro. O ex-ministro é investigado por suposta denunciação caluniosa e crime contra a honra.

A PGR foi representada pelos procuradores João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita - este último integrou o grupo de trabalho da Lava Jato dentro da Procuradoria-Geral desde a gestão Raquel Dodge.

Ao autorizar na última segunda-feira (27), a abertura do inquérito, em uma decisão de 17 páginas, o ministro Celso de Mello observou que o presidente da República 'também é súdito das leis', apesar de ocupar uma 'posição hegemônica' na estrutura política brasileira, 'ainda mais acentuada pela expressividade das elevadas funções de Estado que exerce'.

Durante a manhã, ao deixar o Palácio do Alvorada, o presidente não quis falar com a imprensa, mas disse a apoiadores que não será alvo de nenhum 'golpe' em seu governo.

"Ninguém vai fazer nada ao arrepio da Constituição. Ninguém vai querer dar o golpe para cima de mim, não", disse.

Com Estadão Conteúdo*