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Marco Aurélio: Ato de Moraes foi "nefasto" para Ramagem e gerou "desgaste"

Do UOL, em São Paulo

06/05/2020 11h15Atualizada em 06/05/2020 14h34

No UOL Entrevista desta quarta-feira, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello disse que a Corte deveria ter agido, se houvesse necessidade, apenas após a posse de Alexandre Ramagem, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a diretoria-geral da Polícia Federal. A conversa foi conduzida pelo colunista do UOL Josias de Souza.

O ministro Alexandre de Moraes suspendeu a nomeação em decisão monocrática na semana passada, atendendo a um mandado de segurança apresentado por parlamentares. Marco Aurélio declarou ainda que a liminar do colega foi ruim apenas para o próprio Ramagem e acabou causando desgaste entre os poderes Executivo e Judiciário.

Marco Aurélio avaliou que a atuação do STF não deve estar ligada ao ato de nomeação e que deveria agir apenas se houvesse um desvio de conduta por parte do diretor, por exemplo. Ele disse que a decisão de Moraes foi vista com "perplexidade".

Atuação do Supremo não deve estar ligada ao ato de nomeação. E se houver desvio de conduta do diretor da Polícia Federal, aí ok o Supremo atuar, mas ele sequer seria competente para julgar uma impugnação a respeito. Por isso vejo com certas reservas.

No início da semana, Marco Aurélio encaminhou uma proposta ao colega Dias Toffoli, presidente da Corte, em que sugere que ações contra atos do Legislativo e do Executivo sejam julgados pelo plenário do STF, não pelos ministros individualmente.

A sugestão será avaliada por uma comissão de três ministros presidida por Luiz Fux, que já pediu manifestações da PGR (Procuradoria-Geral da República) e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) sobre o tema.

Decisão "nefasta" para Ramagem

Para Marco Aurélio, a decisão de Alexandre de Moraes foi "nefasta" para a carreira de Ramagem. Atual chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), ele era delegado da PF e conheceu Bolsonaro em 2018, quando assumiu a segurança do recém-eleito presidente.

"Quem fica mal é o delegado da PF que não tomou posse do cargo e, ao que tudo indica, tem perfil de vida profissional elogiável. Para ele, foi algo nefasto", disse Marco Aurélio. "Agora, o desgaste institucional se mostrou muito grande, não só do presidente como do próprio Supremo."

Bolsonaro deveria ter respondido diferente, avalia ministro

Apesar de discordar da decisão liminar do colega Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Mello avaliou que Bolsonaro não respondeu da melhor maneira ao ato do STF. Para o ministro, o presidente deveria ter recorrido da decisão.

"Estivesse eu na cadeira de Bolsonaro, teria adiado a posse e impugnado [recorrido] da decisão de Alexandre de Moraes para ouvir o Supremo propriamente dito, reunido no colegiado maior no plenário", disse ele, lembrando que Bolsonaro acabou cancelando o decreto de nomeação de Ramagem no mesmo dia.