Topo

Por apoio no Congresso, Bolsonaro abre torneira de cargos ao centrão

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) Imagem: Marcos Corrêa/PR

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

07/05/2020 15h34

Na esteira de 30 pedidos de impeachment "em análise" na Câmara, abertura de inquérito pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e corrida por apoio a CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) abriu a torneira de cargos ao centrão.

Somente entre ontem (6) e hoje (7), pelo menos três posições relevantes dentro da estrutura governamental foram entregues a pessoas ligadas ao grupo. Mais tratativas estão em andamento.

Segundo parlamentares ouvidos pelo UOL, a expectativa é que dezenas de nomeações políticas se intensifiquem nos próximos dias, principalmente em setores com orçamentos polpudos e maleáveis.

Na mira do centrão estão diretorias de bancos públicos e de estatais, secretarias de ministérios, fundações e outras estruturas estratégicas.

Devem ocorrer mudanças, por exemplo, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Banco do Nordeste, Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e na Funasa (Fundação Nacional de Saúde).

O centrão é um bloco informal de partidos sem orientação ideológica, que tem se juntado de maneira mais ou menos unificada para melhor negociar espaço com os governos. Bolsonaro quer atraí-lo para compor sua base parlamentar — o que nunca conseguiu em quase um ano e meio de mandato.

Legendas como Republicanos, PL, PP (Progressistas), PSD, Solidariedade, PTB, Pros e Avante estreitaram as conversas com o Planalto. Juntas com parlamentares de outros partidos de centro-direita à centro-esquerda, agregam cerca de 220 dos 513 deputados federais.

MDB e DEM também estão na mira, embora já tenham cargos importantes no governo, como ministérios e lideranças no Congresso Nacional. Como seus líderes têm demonstrado mais resistência em assumir a participação no governo, o Planalto planeja atrair individualmente seus deputados, rachando as duas bancadas.

Mudanças já promovidas

A maioria das mudanças feitas até o momento concentra-se em Pernambuco ou em pessoas ligadas ao estado. Fernando Marcondes de Araújo Leão foi nomeado diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) após costuras do PP e Avante com o governo.

O órgão é vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Regional e tem como objetivo atuar na região do semiárido por meio de programas de saneamento básico e construção de barragens, além de promover outras ações que atingem pessoas de baixa renda, no Nordeste e no norte de Minas Gerais.

Antes de assumir o Dnocs, Leão era gerente-geral do Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) em Pernambuco.

O Dnocs não foi a única área do Ministério do Desenvolvimento Regional a sofrer alterações. A secretaria nacional de Mobilidade da pasta agora é comandada pelo advogado pernambucano Tiago Pontes Queiroz.

Antes, ele estava como superintendente da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) em Recife há menos de dois meses após indicação do Republicanos. Com o aval de partidos do centrão, passou para a secretaria, e a CBTU na capital pernambucana trocou mais uma vez de mãos, contemplando o PSC.

No Congresso, Bolsonaro indicou hoje o deputado federal Evair Vieira de Melo (PP-ES) como vice-líder do governo na Câmara. Ele ficará no lugar do colega Herculano Passos (MDB-SP).

Centrão de olho na área de segurança

Nesta semana, o novo ministro da Justiça, André Mendonça, promoveu uma troca na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), um dos órgãos da pasta. O general do Exército Guilherme Teóphilo deixou o cargo na segunda-feira (4). Para o seu lugar, deve assumir o coronel da Polícia Militar de Santa Catarina Araújo Gomes. Ele era o comandante geral da PM no estado.

A mudança não é vista como resultado da articulação do centrão, mas a possibilidade de indicações para o ministério e a Polícia Federal não é descartada dada a conexão de policiais com o Congresso.

O atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, delegado Anderson Torres, por exemplo, é sempre lembrado por integrantes do centrão para assumir a Polícia Federal e até mesmo um eventual Ministério da Segurança Pública, se recriado. Trata-se de uma indicação do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

Em depoimento à Polícia Federal depois de pedir demissão, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro disse que o nome de Anderson Torres chegou a ser sugerido por Bolsonaro para comandar a corporação.

Ao sair do governo, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir na PF. O presidente nega quaisquer ilegalidades.

Diversos integrantes do centrão têm problemas com a Justiça, como o líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL) e o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), implicados na Lava Jato.

Outros saíram do Parlamento, mas continuam influenciando as decisões políticas, como o ex-deputado Valdemar Costa Neto, que continua controlando o PL, e o presidente nacional do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson. Ambos foram condenados e presos no escândalo do mensalão.