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Dilma diz que apoio a golpe seria "suicídio" e "destruição" para militares

Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil - Celso Junior/Estadão Conteúdo
Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil Imagem: Celso Junior/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

08/05/2020 20h14

A ex-presidente Dilma Rousseff disse hoje que "espera que não" ocorra uma participação das Forças Armadas do Brasil em um golpe militar. Para a petista, o apoio seria um "suicídio" e o resultado seria a "destruição" das instituições no país.

Durante live promovida pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, Dilma disse que a "alta oficialidade dificilmente embarca numa aventura desse tipo", mas mostrou preocupação com o apoio que a "baixa oficialidade" poderia dar a Bolsonaro.

"Acredito que do ponto de vista da ordem, que é basicamente a grande preocupação dos militares, tem um lado disruptivo, de violência. Estado é Justiça e violência. A violência com Bolsonaro seria privatizada. Se os oficiais generais e o resto da oficialidade aceitarem isso, seria um suicídio, uma destruição da instituição. E toda instituição tem um nível alto de preservação, a não ser quando vira Bolívia. O que acontece na Bolívia? Aconteceu uma rebelião dos policiais, assistida tranquilamente, pacificamente, pelas Forças Armadas. Mas o grau de institucionalização na Bolívia não era baixo, mas cada país tem sua história, mas num país como o Brasil seria arriscado uma opção dessas. Você não segura um país desses sem um grau de hegemonia", disse a ex-presidente.

Dilma ainda questionou os motivos pelos quais os militares participariam de um golpe tendo presença em diversos cargos na administração federal com Jair Bolsonaro. A petista citou ainda o cenário internacional como um motivo que, na opinião dela, inviabilizaria uma ditadura militar como a vivida pelo Brasil entre 1964 e 1985.

"Para que intervenção militar com a quantidade de integrantes das Forças Armadas dentro governo? Para fazer o quê? Tem limite para as loucuras ao nível das relações externas. A relação do Bolsonaro com o Trump é uma relação no mínimo esquizofrênica, e acho que chamar assim é um elogio, porque é de submissão total. Nós sairemos dessa pandemia numa situação de multipolarização. Não acho que ela vai ensejar um fortalecimento dos EUA como uma potência única e hegemônica. A saída da OMS e a forma como relacionou com outros países mostra claramente um fraco no soft power, que é muito característico de perda de hegemonia no cenário internacional. Os militares têm que levar isso em consideração, porque ditadura foi na Guerra Fria, querido. Vai ter um processo ditatorial num quadro de relações democráticas ou abertas internacionalmente? Muito difícil", afirmou.

A ex-presidente ainda citou o programa Pró-Brasil, anunciado recentemente pelo governo e tido como um ponto de discordância entre os militares e a equipe econômica comandada pelo ministro Paulo Guedes.

"É algo fora do marco neoliberal. Porque (para os liberais) o estado tem que ser um estado frágil. Esse é um país tão interessante que... como as Forças Armadas vão defender um estado fraco?", questionou Dilma.