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Heleno defende trocas de Bolsonaro no GSI e recebe resposta da Globo

General Augusto Heleno - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
General Augusto Heleno Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Do UOL*, em São Paulo

16/05/2020 22h51

A revelação de trocas de cargos feitas no Gabinete de Segurança Institucional gerou reação do ministro general Augusto Heleno, comandante da pasta, que chamou de maldosa a reportagem feita pela Rede Globo. O ministro enviou uma nota ao "Jornal Nacional", que foi lida e respondida ao vivo pelo âncora William Bonner.

A reportagem do jornal, veiculada ontem, mostrou que, em 26 de março, quase um mês antes da reunião ministerial, o general André Laranja Sá Correa —então diretor do Departamento de Segurança Presidencial do GSI— foi promovido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para exercer o cargo de Comandante da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada.

A direção do Departamento de Segurança Presidencial acabou ficando com o então adjunto, Gustavo Suarez, promovido ao cargo titular da repartição. Uma terceira troca envolvendo a segurança pessoal do presidente ocorreu no Rio de Janeiro. Uma portaria de 28 de fevereiro, dois meses antes da reunião ministerial de abril, colocou o tenente coronel Rodrigo Garcia Otto para exercer a função de chefe no escritório de representação no Rio de Janeiro da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI.

A reportagem contestou a versão do presidente de que ele tentou fazer substituições na segurança do Rio, mas não conseguiu. Ao vivo, Bonner respondeu que a reportagem mostra não só que Bolsonaro fez trocas, como também que não encontrou obstáculos para realizá-las. "Não houve dificuldade para o presidente trocar ninguém da área realmente responsável pela segurança dele. E Bolsonaro não fez nenhuma reclamação quanto ao serviço. Ao contrário, promoveu o maior responsável por ele", disse o âncora.

Nota do GSI

O general Augusto Heleno, então, enviou uma nota ao telejornal, afirmando que a matéria foi "mal elaborada e uma tentativa de fazer uma reportagem maldosa contra o presidente da República", conforme leu William Bonner hoje, no "Jornal Nacional".

A nota continua, dizendo que o "coronel Sá Corrêa foi selecionado pelo Alto Comando do Exército por seus méritos, para integrar a lista de escolha que seria levada ao presidente da República. Afirmou, ainda, que o presidente não participa das reuniões de promoção de oficiais generais que acontecem no Alto Comando das três Forças". Completou, ainda, esclarecendo que "o coronel Suarez assumiu a chefia do Departamento de Segurança porque era o mais antigo, depois do coronel Sá Corrêa".

Heleno ainda teria dito que, "na reunião ministerial, falando para os seus ministros, e não em público, o presidente citou, apenas como exemplo, uma troca que desejasse realizar, na segurança pessoal dele. E que, caso houvesse qualquer oposição a essa troca, na ponta da linha, ele poderia chegar até a demitir o ministro para que sua decisão fosse cumprida". E conclui dizendo que o presidente não se referia a um caso real.

Resposta da Globo

Bonner, então, declarou que a nota de Augusto Heleno não só reforça a revelação da reportagem, como traz uma nova versão da fala do presidente. O âncora leu a nota assinada pela emissora e que se encontra disponível em seu site.

"A nota do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, confirma integralmente o que o 'Jornal Nacional' publicou. Que o antigo titular da direção de Segurança Pessoal da Presidência, o então coronel Sá Corrêa, foi promovido a general de brigada por escolha do presidente Bolsonaro. E que o substituto escolhido foi o número dois do departamento", disse.

"Em nenhum momento, o 'Jornal Nacional' questionou os méritos do general Sá Corrêa. Quis apenas mostrar que a versão do presidente sobre o que disse na reunião ministerial de 22 de abril não encontra respaldo na realidade. O presidente reiteradas vezes afirmou que se referia à segurança dele, de sua família e de seus amigos, quando disse que tentou fazer mudanças na segurança do Rio e não conseguiu", continuou.

"Como mostrou o 'Jornal Nacional', o presidente não teve dificuldades em fazer trocas no departamento responsável por sua segurança. Promoveu o titular, substituiu-o pelo seu adjunto e também trocou a chefia do escritório no Rio. Sem dificuldades."

"Por fim, é de se destacar que a frase do presidente Jair Bolsonaro na reunião ministerial de 22 abril ganha agora mais uma versão. Segundo o ministro Augusto Heleno, o presidente, ao mencionar a segurança no Rio, quis dar apenas um exemplo sobre o que faria caso quisesse realizar uma troca no setor e encontrasse oposição. Poderia chegar até a demitir o ministro para ver a sua decisão cumprida, não tendo o presidente se referido a nenhum caso real que houvesse ocorrido. Registre-se também que o ministro Augusto Heleno não esclareceu por que motivo o presidente se viu compelido a dar esse exemplo", finaliza a nota da emissora.

Defesa de Sergio Moro

Mais cedo, o advogado do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, Rodrigo Sánchez Rios, também divulgou uma nota na qual diz que a troca no GSI reforça tese de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Moro foi quem fez a acusação de interferência durante o seu discurso de demissão do cargo de ministro. A denúncia o levou, no dia 2 de maio, a prestar um depoimento de oito horas à PF.

Segundo o advogado, os "fatos levam à inevitável conclusão" de que a manifestação de Bolsonaro na reunião ministerial de 22 de abril, sobre a troca na "segurança do Rio", refere-se à Superintendência da Polícia Federal fluminense.

E acrescenta que "aguarda respeitosamente" a divulgação do vídeo da reunião no Palácio do Planalto —peça-chave do inquérito Moro contra Bolsonaro— no qual, segundo ele, "as intenções das alterações na Polícia Federal ficarão ainda mais evidenciadas".

Ao Supremo, Moro pediu que fosse divulgada a íntegra do vídeo, "como verdadeira lição cívica". A decisão final pelo levantamento do sigilo será tomada na próxima semana, pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello.

A defesa de Moro argumenta que a revelação sobre as trocas no GSI demonstra que "nunca houve por parte do presidente da República qualquer insatisfação com o serviço de segurança pessoal que lhe era prestado ou a seus familiares no Rio de Janeiro, tampouco qualquer dificuldade para realizar substituições na área, já que os responsáveis foram, logo antes da reunião ministerial do dia 22/4/2020, promovidos ou substituídos".

"Os fatos levam à inevitável conclusão de que a manifestação do Sr. Presidente na referida reunião ministerial, de que precisaria interferir na 'segurança do RJ' e se necessário trocar o 'chefe' ou o 'ministro' para evitar prejuízos a 'familiares e amigos', dizia mesmo respeito à Superintendência da Polícia Federal no RJ, ao Diretor-Geral da PF, e ao Ministro da Justiça, aliás todos substituídos nos dias seguintes à reunião", registra o texto assinado pelo advogado Rodrigo Sánchez Rios, que defende o ex-ministro.

Rios destaca ainda que as declarações do presidente devem ser associadas à mensagem enviada por Bolsonaro a Moro às vésperas da demissão do ex-ministro. Imagens de diálogo no WhastApp mostram que, no dia 23 de abril, Bolsonaro envia a Moro o link de uma notícia do portal O Antagonista, com a manchete: "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas". "Mais um motivo para a troca", diz o presidente. A reportagem faz referência ao inquérito das fake news, conduzido no STF.

*Com Estadão Conteúdo