Topo

Por centrão e desconfianças, 'namoro' de Bolsonaro e Maia não deve vingar

O presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, no Palácio do Planalto, na quinta-feira (14) Imagem: Isac Nóbrega/PR

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

19/05/2020 04h00

Em meio a desconfianças mútuas e conversas do Planalto com o centrão que afetam o poder dentro da Câmara, o "namoro" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem poucas chances de vingar e virar "casamento".

A estratégia de morde e assopra adotada por Bolsonaro se tornou rotineira e, por isso, não é possível vislumbrar uma aliança mais firme para o futuro, avaliaram parlamentares e interlocutores ouvidos pelo UOL.

Nas palavras do próprio Bolsonaro, ele e Maia voltaram a "namorar", após uma série de divergências públicas quanto à economia e à condução de políticas de saúde pública, durante a pandemia do novo coronavírus.

Entretanto, horas antes da declaração sobre esse "namoro", na semana passada, o presidente criticou Maia (sem citar seu nome) por entregar a relatoria da MP (Medida Provisória) da redução de salários e jornadas para o deputado oposicionista Orlando Silva (PCdoB-SP).

Disse a empresários que o presidente da Câmara "parece que quer afundar a economia para ferrar o governo e para talvez tirar um proveito político lá na frente. Maia se recusou a comentar a declaração de forma direta.

O "namoro" anunciado por Bolsonaro é só para inglês ver. Na prática, vão manter apenas uma relação institucional necessária entre os Poderes e que sirva às ambições de ambos, apontam interlocutores.

Segundo Maia, em visita ao Planalto de última hora, a convite de ministros militares na semana passada, Bolsonaro teria sido persuadido a convidá-lo para um café, quando ele já estava no palácio.

O desconforto de Maia era visível em vídeo obtido pelo UOL. Sem máscara, descumprindo lei do Distrito Federal, Bolsonaro cumprimentou Maia lhe dando as mãos. O presidente da Câmara, com a proteção facial, ofereceu o cotovelo. Bolsonaro estava mais sorridente, e Maia, com semblante mais sério.

Ambos buscam apoio do centrão para comandar Câmara

O pano de fundo mais recente nas divergências entre os dois é a disputa de poder pelo comando da Câmara nos próximos dois anos. Ambos querem, e precisam, do centrão ao seu lado. As eleições internas da Casa estão previstas para fevereiro de 2021.

O grupo informal é composto por Republicanos, PL, PP (Progressistas), PSD, Solidariedade, PTB, Pros e Avante, enquanto DEM e MDB resistem em ser denominados como do centrão. Juntos, contabilizam 220 dos 513 deputados federais.

A não ser que consiga aprovar uma mudança na Constituição, o que hoje parece pouco provável, Rodrigo Maia não pode mais se reeleger à Presidência da Câmara. No entanto, quer fazer seu sucessor e tem o centrão como base de sustentação. A preferência dele vai para um dos líderes do grupo, o líder da maioria Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Nas últimas semanas, Bolsonaro estreitou negociações com o centrão, na tentativa de construir uma base aliada no Congresso Nacional. Os partidos emplacam nomes para cargos no governo federal, segundo parlamentares e interlocutores do Planalto, já que o presidente da República busca apoio na Câmara e no Senado para aprovar projetos de seu interesse e barrar um eventual pedido de impeachment.

O responsável pelo aceite do início do processo de impeachment é justamente o presidente da Câmara, que, por enquanto, pede "paciência". Um presidente precisa de 172 votos contrários ao processo de impedimento, para barrá-lo e arquivá-lo.

Essa movimentação de Bolsonaro junto ao centrão dificulta os planos de Maia na Câmara, pois o presidente tem demonstrado preferência por outros integrantes do grupo: Arthur Lira (PP-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

A disputa já apareceu até mesmo em plenário, quando da votação da Medida Provisória que amplia a regularização fundiária por autodeclaração. Maia defendeu o adiamento da pauta. Lira queria a análise imediata, assim como o governo. O atual presidente da Câmara acabou levando a melhor, mas considera-se que ganhou somente a primeira batalha da guerra.

As conversas de Bolsonaro com o centrão também dividem a base com a qual Maia se reelegeu à presidência da Câmara. A maioria dos partidos provavelmente verá maior vantagem em ficar ao lado do Planalto, a depender das propostas palacianas de cargos e da liberação de emendas.

Para continuar no páreo, Maia minimizou falas de Bolsonaro e aceitou ir ao Planalto. Ao mesmo tempo, não pode se aproximar demais do Planalto, para não perder o eventual apoio dos cerca de 130 deputados da oposição. Tê-los ao seu lado pode ser crucial para eleger seu sucessor no comando da Casa. Portanto, esse cálculo precisa ser feito para equilibrar a balança.

Incômodo de Maia com ataques de bolsonaristas

Nos bastidores, o presidente da Câmara critica Bolsonaro por ir a manifestações que pedem o fechamento do Congresso Nacional, o que atenta contra a Constituição, e ser instável em decisões governamentais que afetam votações no Parlamento.

Maia também desconfia que o presidente autoriza ataques a quem considera adversário político nas redes sociais. Ele já foi alvo do fogo de blogueiros e apoiadores mais ferozes de Bolsonaro no Twitter, como os próprios filhos do presidente.

Embora não passe despercebido em ataques de bolsonaristas, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), mantém uma melhor relação com Bolsonaro do que Maia e, publicamente, evita se colocar nas brigas dos dois. Por isso, não foi ao Planalto junto com Maia na semana passada.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Por centrão e desconfianças, 'namoro' de Bolsonaro e Maia não deve vingar - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Política