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Queiroz foi exonerado para se aposentar na PM, diz advogado de Flávio

Chico Alves, Diego Henrique de Carvalho e Tales Faria

Do UOL, no Rio, São Paulo e Brasília

20/05/2020 17h28Atualizada em 20/05/2020 19h03

O advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Frederick Wassef, rebateu as acusações feitas por Paulo Marinho em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, de que seu cliente tenha recebido de antemão informações sobre uma operação da Polícia Federal.

Questionado sobre a razão de Fabrício Queiroz, então funcionário do gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), ter sido exonerado dias antes da operação Furna da Onça, Wassef afirmou que Queiroz deixou o cargo para se aposentar como policial militar.

A filha de Queiroz, Natália, foi exonerada na mesma data do gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

"'O funcionário [Queiroz] saiu no dia tal'... É pura ilação. Vários outros saíram em vários dias, isso não quer dizer nada. Era fim de mandato, ele iria sair de qualquer jeito e ia voltar para a Polícia Militar, iria para a reserva e teria direito a sua aposentadoria", justificou o advogado em entrevista ao UOL.

Wassef ainda reforçou que esse tipo de exoneração é normal e que tirar conclusões a partir disso é irresponsável. "Várias pessoas saíram de lá porque era fim de mandato", reiterou. "Estamos fazendo uma ilação imaginária aqui. Não podemos fazer isso, é muita irresponsabilidade".

"Era fim de mandato, o pai ia ser presidente e o filho, senador. Estamos tirando essas informações de que essas pessoas saíram do gabinete e fazendo ilação de que o motivo é o que está acusando Paulo Marinho. Posso querer citar mil outras coisas. O nome disso é ilação irresponsável", diz.

O advogado ressaltou que Queiroz não era objeto da investigação. Porém, estava inserido nos documentos da operação o relatório do então Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), revelando movimentações atípicas do assessor de Flávio, que deu origem à investigação de um esquema de "rachadinha" de salários de servidores da Alerj.

Segundo Wassef, "se o Queiroz continuasse trabalhando até hoje para o Flávio, em nada iria implicar, nem ajudar ou atrapalhar porque a relação de amizade não tem nada a ver com o ilícito penal".

"Bolsonaro queria proteger equipe"

Em outro trecho de sua entrevista, Frederick Wassef afirmou que o presidente Jair Bolsonaro se referia à sua equipe quando disse que queria "proteger seus familiares e amigos" durante a reunião ministerial do dia 22 de abril.

A transcrição feita pela AGU (Advocacia-Geral da União) da fala do presidente é o primeiro registro documental de que o Bolsonaro teria tratado de interferência na Polícia Federal durante o encontro dos ministros, acusação feita pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

O caso está sendo investigado pela própria PF, em inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal).

"Quando Bolsonaro trata de amigos, se refere à sua equipe. É característica do presidente, é a forma de ele se expressar. Qualquer parente próximo que frequenta a casa, não é o que ele quis dizer. Não posso falar em nome do presidente sobre esse fato, o próprio presidente vai ser ouvido e vai dar sua declaração", diz Wassef.

"O que posso afirmar é: jamais o presidente Bolsonaro interferiu na Polícia Federal. E nesses atos em que ele externa insatisfação da pauta segurança ao entorno dele, família, amigos. Bolsonaro é um homem traumatizado —e com todo o direito de ser, porque foi para a morte e voltou. Teve informações seguras que Adélio Bispo, assassino profissional de uma organização criminosa perseguia seus filhos. Agora, pensa, um homem que passou por tudo isso e estamos falando de Rio de Janeiro, questão de segurança pública que vai além do Brasil e do mundo?", afirma.

Depoimento de Sergio Moro

Wassef começou a entrevista citando o ex-ministro Sergio Moro. Segundo ele, o que o ex-juiz federal falou sobre o presidente Jair Bolsonaro não é verdade.

Posso te afirmar que Jair Bolsonaro está falando a verdade. No depoimento, está escrito 'que o declarante diz que o presidente não quis nomear o diretor da Polícia Federal'. Que Moro entende que isso seja uma interferência, mas sem uma causa apontada. Ele diz, na primeira página de seu depoimento, que entende que o presidente querer nomear um diretor na PF é ingerência política, mas ele está equivocado.

E garante que quem quis fazer ingerência política foi o ex-ministro: "Toda vida o Coaf esteve no Ministério da Fazenda. Quem entrou e quis fazer uma ingerência política e ir além de seu cargo foi nosso ministro Sergio Moro. Ele quer nomear diretor geral da PF, ele quer trazer o Coaf para dentro. Agora, acusar o presidente Bolsonaro de ingerência quando quem que fez ingerência é o outro lado é uma inversão da verdade real", diz.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.