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Bolsonaro critica ação do STF e diz que tudo tem limite: "acabou, porra"

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

28/05/2020 10h03Atualizada em 28/05/2020 13h55

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) subiu o tom e, em pronunciamento em frente ao Palácio do Alvorada na manhã de hoje, disse que a operação de ontem autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e realizada pela PF (Polícia Federal) no inquérito das fake news é inadmissível, e que tudo tem um limite. Ele chegou a falar um palavrão para dizer que a situação vai acabar.

Bolsonaro questionou especialmente as decisões monocráticas de ministros da Corte, como ocorreu ontem - a autorização para a operação foi dada por Alexandre de Moraes.

"As coisas têm limite. Ontem foi o último dia e peço a Deus que ilumine as poucas pessoas que ousam se julgar mais poderosas que outros que se coloquem no seu devido lugar, que respeitamos. E dizer mais: não podemos falar em democracia sem Judiciário independente, Legislativo independente para que possam tomar decisões. Não monocraticamente, mas de modo que seja ouvido o colegiado. Acabou, porra!", disse, em discurso transmitido pela CNN Brasil.

Incomodado com o fato de o inquérito do STF mirar a sua rede de apoiadores nas redes sociais, Bolsonaro classificou a investigação como um atentado à democracia e, por várias vezes, exaltou o princípio de "liberdade", que deve ser defendido "mesmo com o sacrifício da vida".

"Me desculpem o desabafo, mas não dá para assistir atitudes individuais de certas pessoas, tomando de forma quase pessoal certas ações. Somos um país livre, e vamos continuar mesmo com sacrifício da vida. Peço a todos meus colegas que vamos buscar entendimento. Não vamos permitir que uma pessoa tome decisões no nome de todos", afirmou.

Na visão do mandatário, "ordens absurdas não se cumprem".

Nunca tive a intenção de controlar a Polícia Federal, pelo menos isso serviu para mostrar ontem". Mas obviamente, ordens absurdas não se cumprem. E nós temos que botar um limite nessas questões
Jair Bolsonaro

"Mais um dia triste na nossa história. O povo tenha certeza, foi o último dia triste. Queremos paz, harmonia, independência e respeito e democracia acima de tudo. A liberdade de expressão é sagrada entre vocês e mídia alternativa. Os dois lados vão conviver", disse, se referindo à operação de ontem.

Decisões do STF

As declarações de Jair Bolsonaro vêm na esteira de decisões do Supremo que contrariavam o seu entendimento. Ontem, o ministro Alexandre de Moraes autorizou o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra aliados do presidente no âmbito do inquérito das fake news aberto na corte.

A ação investiga ofensas e ameaças contra integrantes da corte e a suposta participação de parlamentares na divulgação de notícias falsas e na organização de atos antidemocráticos, que pedem o fechamento do STF e do Congresso.

Recentemente, o próprio Alexandre de Moraes, também em decisão monocrática, barrou a indicação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da PF.

Já na última sexta-feira, o ministro Celso de Mello levantou o sigilo do vídeo da reunião ministerial que faz parte do inquérito que apura uma possível tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.

Acusação de abuso de autoridade

No discurso de hoje, Bolsonaro não se referiu nominalmente a Alexandre de Moraes, mas citou Celso de Mello e acusou o ministro de abuso de autoridade.

"Pelo amor de Deus, peço que reflitam. Lá nessas reuniões cada um pode falar o que bem entende porque eram reservadas. Poderia ter destruído a fita, respeitei a decisão do decano Celso de Mello e entreguei. E ele levantou o sigilo secreto de uma sessão. A responsabilidade do que se tornou público não é de nenhum ministro, é do ministro Celso de Mello. Ele é o responsável", disse.

"Peço pelo amor de Deus que não prossiga esse tipo de inquérito a não ser que seja pela lei do abuso de autoridade, na qual está bem claro sobre quem divulga vídeos, imagens, áudios, do que não interessa ao inquérito. Está lá, um a quatro anos de detenção. O criminoso não é o [ministro da Educação, Abraham] Weintraub, não é o [ministro do Meio Ambiente, Ricardo] Salles, não é de nenhum de nós. A responsabilidade de tornar público aquilo é de quem suspendeu o sigilo de uma sessão cujo vídeo foi chancelado como secreto", afirmou.