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Reação de Bolsonaro pós-operação contra fake news eleva tensão política

28.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro fala com simpatizantes e imprensa em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília - EDU ANDRADE/FATOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
28.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro fala com simpatizantes e imprensa em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília Imagem: EDU ANDRADE/FATOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Guilherme Mazieiro*

Do UOL, em Brasília

28/05/2020 14h46

A reação de Jair Bolsonaro (sem partido) hoje contra o STF (Supremo Tribunal Federal), em frente ao Palácio da Alvorada, aumentou a tensão política. Pela manhã de hoje (28), o presidente criticou a decisão da corte que autorizou ontem busca e apreensão contra empresários e apoiadores do presidente. O pedido foi feito ela PF (Polícia Federal), que investiga um esquema de fake News.

Nos bastidores, aliados dos presidentes de Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), cobram reações mais enérgicas.

O DEM, partido dos dois presidentes do Parlamento, condenou intimidações às instituições. O partido soltou nota nesta tarde.

"O Democratas acompanha, com apreensão, o momento atual e acredita que a única saída está no diálogo e na união de todos. O país precisa de equilíbrio e responsabilidade, não de radicalizações ou ameaças", pontuou a nota assinada pelo presidente da sigla, ACM Neto.

Um aliado do presidente do Senado disse que algumas lideranças do Congresso tentam avançar com um projeto sobre fake News.

"Hora de paralisar a pauta por uma semana. Baixar a bandeira a meio mastro e colocar na agenda do Congresso Nacional o que é emergente: defesa da democracia. Ela, pela 1ª vez em muito tempo, está ameaçada. E claramente arqueada", relatou um aliado do presidente do Senado.

Sob reserva, um dos principais líderes do governo Bolsonaro no Congresso afirmou que integrantes do Planalto ficaram um pouco mais aliviados hoje, pois esperavam que a avaliação do presidente como "ruim/péssimo" fosse maior do que os 43% divulgados pelo DataFolha.

"Não dá para entender. Esperávamos que fosse maior a rejeição", falou.

O parlamentar ainda classificou a ideia de paralisar os trabalhos por uma semana como "devaneio" e defendeu que não tem força da maioria para ser implementada.

"Não faz sentido quererem isso. Não tem cabimento", disse.

Pela manhã Bolsonaro xingou e disse que tudo tem limite e que "ontem foi o último dia".

"Peço a Deus que ilumine as poucas pessoas que ousam se julgar mais poderosas que outros que se coloquem no seu devido lugar, que respeitamos. E dizer mais: não podemos falar em democracia sem Judiciário independente, Legislativo independente para que possam tomar decisões. Não monocraticamente, mas de modo que seja ouvido o colegiado. Acabou, porra!", gritou.

O presidente da Câmara disse hoje que "algumas coisas mais duras como hoje de manhã, não foi bom, mas o Supremo tem tomado suas decisões, que estão sendo respeitadas".

Ontem, a PF cumpriu 29 mandados de busca e apreensão com foco em empresários bolsonaristas e aliados da militância do presidente. Entre eles o dono da Havan, Luciano Hang, o blogueiro Alan dos Santos e a ativista Sara Winter. O aliado de Bolsonaro e presidente do PTB, Roberto Jefferson, também foi alvo.

Em reação à operação da Polícia Federal, autorizada pelo STF, o ministro da Justiça, André Mendonça, ingressou com um pedido de habeas corpus para evitar o depoimento e prisão do ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Ontem, Maia condenou ataques feitos por apoiadores de Bolsonaro a jornalistas que acompanham as entrevistas do presidente no Alvorada. Veículos ligados ao Grupo Globo e a Folha de S. Paulo retiraram repórteres que faziam a cobertura com a justificativa de falta de segurança.

Líder governista diz que não é hora para fake news

O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), disse ao UOL que o momento é para baixar a temperatura em vez de criar projeto de fake news.

"Qualquer projeto nesse momento, apresentado de forma açodado não vai ter muito efeito. Fake news é desafio mundial, em todas as democracias. Ninguém no mundo tem um projeto definido sobre o tema. Porque usam uma plataforma muito aberta, muito genérica. Muito livre que é a internet", disse.

O senador considerou que um projeto sobre fake news precisa de debates e audiências públicas com diferentes setores da sociedade.

"O que devemos é fazer esforço por ambiente propositivo nesse momento. Achar que tem ambiente de processamento com segurança é um pouco de arrogância. Não conseguimos nos reunir pessoalmente, ter o debate correto", disse.

"Direito à liberdade e proteção da honra. O debate tem que passar por essas questões. Quem achar que tem a solução debaixo do braço nesse momento está chutando na Lua. Tem que debater um marco regulatório sério antes de fake news", considerou.

O senador defendeu a votação de uma PEC que trata de proteção de dados pessoais, que tramita na Câmara.

*Colaborou Luciana Amaral, do UOL, em Brasília