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Forças Armadas estão com a Constituição, não com Bolsonaro, diz Jungmann

Do UOL, em São Paulo*

01/06/2020 11h44Atualizada em 01/06/2020 13h02

Ao contrário do que disse o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-ministro Raul Jungmann avalia que as Forças Armadas não estão com o mandatário, mas, sim, ao lado da Constituição.

"Quando o presidente da República diz: 'as forças Armadas estão comigo', as Forças Armadas não estão com ele, estão com a Constituição", afirmou Jungmann, que chefiou os ministérios da Defesa e da Segurança Pública no governo de Michel Temer, durante debate promovido hoje pelo UOL. O ex-ministro petista Tarso Genro também participou do evento, mediado pelo colunista do UOL Leonardo Sakamoto.

Na avaliação de Jungmann, é preciso fazer uma diferenciação entre os militares que integram o governo e a instituição.

"Isso gera muitas dúvidas. Quando um general da reserva como Augusto Heleno [ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional] faz aquele manifesto para a nação, com termos impróprios, inadequados, as pessoas fazem o raciocínio: 'os militares estão apoiando isso'. Não estão", declarou.

Jungmann se referia a nota emitida por Heleno atacando pedido de apreensão de celular de Bolsonaro e falando em "consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional".

Para o ex-ministro, é melhor que os comandantes militares permaneçam em silêncio, já que há diferentes pontos de vista dentro das Forças Armadas.

"Se eles se pronunciassem, estaríamos criando um precedente. Amanhã poderemos ter outros presidentes e conviver com outras crises. Poderia gerar uma perspectiva tutelar da Forças Armadas. E um aspecto fundamental de uma democracia de fato é que não existe tutela e muito menos capacidade de veto das Forças Armadas", disse.

Tarso: Forças Armadas não dariam golpe para colocar Bolsonaro

Para Tarso Genro, ministro da Educação e da Justiça no governo Lula, "a maioria dos oficiais que tem alguma formação histórica, mais aprofundada, não tem uma referência na postura do Bolsonaro quanto líder de uma nação".

"Portanto, acho que não há essa perspectiva [de golpe por Bolsonaro]."

"Se a crise se aprofundar a um tal ponto que as Forças Armadas se coesionem para unir forças, não vai ser o Bolsonaro que vai ficar no poder. Teriam pessoas mais preparadas do ponto de vista deles."

Em sua avaliação, as Forças Armadas podem ter "grupos fascistas", mas não tem uma tradição nessa linha. Para eles, elas "nunca assumiram uma tipologia de militarismo fascista".

Tarso comentou ainda as manifestações ocorridas ontem e avaliou que o Estado está sob "agressão fascista".

"Temos que dar nome a esse tipo de manifestação. Não é a palavra de nenhum radical, mas do próprio Celso de Mello [ministro do Supremo Tribunal Federal] que flagrou isso nos inquéritos. As pessoas ameaçam de assassinato, repetindo uma cena politica que é conhecida na crise de valores da modernidade", afirmou.

Para ele, os partidos brasileiros estão "defasados" e as manifestações são uma resposta — que classificou como desorganizada — da sociedade. "Vimos uma resposta que veio da sociedade, desorganizada, mas com a fé democrática para enfrentar o fascismo", disse.

* Texto de Fábio de Mello Castanho, Nathan Lopes e Stella Borges. Produção de Diego Henrique de Carvalho.