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Governo critica mídia após dados de CPMI e diz que não escolhe onde anuncia

Do UOL, em São Paulo

03/06/2020 18h41Atualizada em 03/06/2020 22h33

O chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República), Fabio Wajngarten, e o secretário de Publicidade, Glen Valente, criticaram hoje a divulgação pela imprensa de um levantamento da CPMI das Fake News sobre propaganda federal em veículos de conteúdo inadequado, e afirmaram que o governo, assim como empresas, não escolhe onde anuncia.

O relatório feito pela CPMI no Congresso identificou 2 milhões de reproduções de anúncios do governo de Jair Bolsonaro em canais de conteúdo inadequado, entre 6 de junho e 13 de julho de 2019. O número representa 4,37% das 47.188.047 impressões de anúncios avaliadas, que é o resultado para contar quantas vezes um anúncio foi exibido em campanhas patrocinadas pela gestão federal.

Durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto, realizada no lugar da agendada apresentação de dados do coronavírus, Wajngarten disse que "impressões são as peças publicitárias publicadas nos inventários em que foram selecionados pelo próprio Adsense", em referência ao serviço do Google que direciona os anúncios em veículos de comunicação.

Depois, questionado novamente sobre o que são "2 milhões de impressões", o chefe da Secom afirmou que "não são 2 milhões de cliques, são 2 milhões de vezes que apareceu a publicidade, e o Google só remunera o portal ou o veículo no momento em que a publicidade é clicada. É no momento em que a publicidade é servida, veiculada".

De acordo com o Google, impressões são "a frequência com que seu anúncio é exibido. Uma impressão é contabilizada sempre que seu anúncio aparece em uma página de resultados de pesquisa ou em outro site da rede do Google".

O secretário de Publicidade afirmou que o governo não escolhe onde anuncia. "Primeiro a gente define o target [o público-alvo], ao mesmo tempo a gente faz a exclusão desses termos. A Secom não compra site, ela vai atrás do indivíduo. Se o cara está fazendo uma navegação e está interessado na Nova Previdência, ele vai ser atingido. Até quando a gente tiver identidade exatamente do que estiver sendo apresentado ou não. Se a gente identifica que existe um site impróprio, ele não vai ser remunerado", disse Valente.

"Quando a gente fala em 400 milhões de impressões, são 400 milhões de linhas. Então, existe um processo recorrente de ficar revisando, e na hora do pagamento à agência, a gente glosa, e mesmo assim a agência, se identificar, ela glosa e não paga o Google", complementou o secretário.

Questionado por um repórter sobre a falta de controle do governo em relação aos espaços onde os conteúdos são veiculados, Wajngarten afirmou que "a Secom tem o mesmo controle que a TV Cultura tem". "Eu venho da escola do [José Roberto] Maluf, presidente [da Fundação Padre Anchieta, que mantém o canal]", disse.

Na apresentação, Wajngarten e Valente afirmaram que "não compete à Secom julgar conteúdos publicados na internet a fim de classificá-los como fake news" e que "não há, nem é possível, qualquer direcionamento para sites/blogs específicos. A programação segue estritamente os algorítimos da ferramenta Google para encontrar a audiência que dê relevância ao conteúdo publicitário.

No início da entrevista, os representantes da Secom criticaram a participação do Grupo Globo no mercado publicitário brasileiro e o que chamaram de "concentração de verbas".

Entenda o caso

O levantamento feito pela CPMI das Fake News no Congresso concluiu que o governo federal exibiu 653.378 vezes anúncios em 47 canais de notícias falsas em 38 dias. A análise abrange canais que mais veicularam inserções da campanha "Nova Previdência" do governo.

O documento foi produzido por consultores legislativos da Casa, com base em informações enviadas pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), por meio do Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC).

Segundo os consultores, foi possível comprovar a existência de inserção de publicidade em sites de notícias falsas, incluindo diversos que já vêm sendo monitorados pela CPMI.

O que diz o Google

Sobre a revelação do relatório da CPMI, o Google respondeu que tem ajudado parceiros do setor privado e do setor público a usar a publicidade digital para levar suas mensagens a milhões de brasileiros de modo eficiente, com escala e alcance. Também afirmou que tem políticas contra conteúdo enganoso em suas plataformas e que trabalha para destacar conteúdo de fontes confiáveis.

"Agimos rapidamente quando identificamos ou recebemos denúncia de que um site ou vídeo viola nossas políticas. Entendemos que os anunciantes podem não desejar seus anúncios atrelados a determinados conteúdos, mesmo quando eles não violam nossas políticas, e nossas plataformas oferecem controles robustos que permitem o bloqueio de categorias de assuntos e sites específicos, além de gerarem relatórios em tempo real sobre onde os anúncios foram exibidos", afirmou.

O Google acrescentou que também trabalha no aperfeiçoamento de suas plataformas para oferecer os melhores resultados possíveis para seus parceiros. "Preservar a confiança no ambiente de publicidade digital é uma prioridade. Agimos diariamente para minimizar conteúdos que violam nossas políticas e impedir a ação de pessoas mal-intencionadas em nossa rede", disse.