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Nem lembro qual o partido dele, diz Bolsonaro após dar ministério a centrão

Do UOL, em São Paulo*

10/06/2020 23h52Atualizada em 11/06/2020 12h00

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou que haja um acordo com o centrão após ter convidado o deputado federal Fabio Faria (PSD-RN) para o Ministério das Comunicações. A decisão de recriar a pasta e escalar o parlamentar foi publicada hoje à noite no Diário Oficial da União.

Após vencer as eleições de 2018, Bolsonaro adotou o discurso do corte de ministérios. Assumiu o governo com 22 pastas, embora tivesse falado em 15 durante a campanha e que "não chegaria a 20" já como presidente eleito. Agora, são 23, e ele estuda a possibilidade de recriar a pasta da Segurança Pública, que hoje fica junto com a Justiça.

"Não houve nenhuma resistência [na nomeação] dele. O pessoal está atacando, [falam que é do] centrão, nem lembro qual é o partido dele. É um deputado federal que tem um bom relacionamento, não teve acordo com ninguém. A aceitação foi excepcional e acho que vai dar conta do recado", disse Bolsonaro em conversa com jornalistas, após a recriação do ministério, por volta das 23h40.

O presidente anunciou hoje em sua página no Facebook que recriaria o Ministério das Comunicações e nomearia como titular da pasta Fabio Faria, que é casado com a apresentadora Patrícia Abravanel, filha de Silvio Santos, dono do SBT.

"Ele não é um profissional do setor, mas tem conhecimento até pela vida que ele tem junto à família do Silvio Santos. A função é essa: otimizar e botar o ministério para funcionar nesta área, que estamos devendo há muito tempo uma melhor informação", acrescentou o presidente na conversa com a imprensa.

Segundo Bolsonaro, será publicada uma MP (Medida Provisória) para desmembrar o atual Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, que atualmente é chefiado por Marcos Pontes.

Fábio Faria é deputado federal desde 2007 e está no PSD desde 2011. O partido é considerado como parte do chamado "Centrão" no Congresso Nacional, embora um dos líderes da legenda, o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, tenha negado esse rótulo em entrevista ao UOL.

No Twitter, Pontes desejou sucesso a Faria na organização do novo ministério. "Recriado o Ministério das Comunicações pelo presidente Bolsonaro. Continuamos juntos a compor a equipe do governo no comando da Ciência, Tecnologia e Inovações. Desejo sucesso ao ministro Fábio, que conta com meu apoio para organizar o novo ministério."

"Sem nenhum aumento de despesa, utilizando apenas de cargos de estruturas já existentes, o Presidente da República recriou o Ministério das Comunicações. A Secretaria Especial de Comunicação Social, hoje na Secretaria de Governo da Presidência da República, foi extinta e suas competências incorporadas ao novo Ministério", diz nota do governo federal.

Pasta não existia desde 2016

O Ministério das Comunicações existiu até 2016, quando a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi afastada pelo Senado após a Câmara aprovar a abertura do pedido de impeachment que mais tarde terminaria com a cassação definitiva de seu mandato. Os governos petistas eram criticados pela quantidade de ministérios. Em 2015, eram 39.

O então presidente interino Michel Temer (MDB) foi o responsável pela extinção da Pasta, que foi criada ainda na ditadura militar pelo presidente Humberto de Alencar Castello Branco, em 1967. Nos últimos quatro anos as funções sempre estiveram com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Proximidade com Bolsonaro e centrão

A avaliação de fontes no PSD é de que Faria é muito próximo ao presidente Bolsonaro. Nas últimas semanas passou a monitorar, para o presidente, redes sociais para ver quem era fiel ou não ao bolsonarismo.

Faria ocupa a 3ª Secretaria da Mesa Diretora da Câmara, e um novo nome deve ser indicado pelo PSD. Dentro da bancada há um entendimento de que a nomeação é por apelo pessoal de Bolsonaro e proximidade de Silvio Santos.

No entanto, o PSD faz parte do grupo chamado centrão e recentemente nomeou um cargo para Funasa.

Sobre o cargo de Faria, há um entendimento no partido de que deve se fazer uma nova eleição para a 3ª Secretaria na Mesa Diretora. O partido deve escolher, por acordo, um candidato para mandato tampão para a 3ª Secretaria da Câmara.

O cargo é responsável por autorizar o reembolso das despesas com passagens aéreas, no interesse do mandato parlamentar.

Faria, desde o ano passado trabalhou para aproximar o sogro Silvio Santos de Bolsonaro, onde o presidente criou uma ponta junto à mídia tradicional. Ele ajudou na participação do presidente em programas do SBT, por exemplo.

Há o entendimento de que o novo ministro, por ser próximo a Bolsonaro passa imagem de uma indicação pessoal de Bolsonaro, mas ao mesmo tempo contempla o PSD, ligado à área. O número 2 da pasta de Marcos Pontes é o ex-deputado federal Júlio Semeghini, que presidiu a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara e é próximo de Kassab.

A divisão do ministério passou o sinal, na visão de alguns parlamentares, de que o governo iniciou um movimento embrionário para recriar outros ministérios como o das Cidades e Desenvolvimento Econômico. Além de fragilizar Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), cujo cargo virou alvo de cobiça do centrão.

*Com reportagem de Guilherme Mazieiro, do UOL, em Brasília