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Barroso: 'É preciso que o Estado pare de enfrentar a pobreza com a polícia'

Do UOL, em São Paulo

15/06/2020 23h13

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, analisou hoje em entrevista ao Roda Viva que o Estado precisa parar de enfrentar a pobreza com violência.

Para ele, é preciso enfrentar a pobreza com educação e cultura. Ao utilizar a violência policial, o Brasil segue com uma "guerra impossível de ganhar" e não pode ser protagonista, acredita Barroso.

"A polícia entra nessa equação numa relação em que nas comunidades pobres a maioria dos moradores são negros e a polícia, muitas vezes equivocadamente, é utilizada como remédio para enfrentar a pobreza", analisou no programa da TV Cultura.

"A polícia não só é a que mata mais, mas a que morre mais, são vítimas das vítimas. Por isso acho que, para enfrentar a questão da violência policial, é preciso que o Estado pare de enfrentar a pobreza com a polícia. A polícia tem um papel numa sociedade civilizada, mas tem que ser um papel residual. Não pode ser o protagonista de uma política de segurança pública", salientou.

Racismo estrutural

Barroso apontou que há duas décadas o Brasil superou o discurso do humanismo racial, para reconhecer que há, sim, preconceito, discriminação e dívidas histórias com o povo negro.

"Acho que em matéria de racismo nós evoluímos porque o movimento negro se apresentou forte, o diagnóstico foi feito, as políticas de ação afirmativa tiveram início [...] E enfrentamos o que foi chamado de racismo recreativo, essa desconstrução racial, que é uma forma de dominação, sob a forma de humor, como se fosse uma manifestação de simpatia, quando no fundo é um ódio com o sinal trocado", comentou.

O ministro do STF ainda disse que a comparação do racismo no Brasil com o que acontece nos Estados Unidos precisa ser diferenciada — já que Mineápolis, onde George Floyd foi assassinado, não é uma cidade "marcada pela pobreza".

"Acho que aqui é mais complexo, embora pudesse ser mais fácil porque se você ocupasse as comunidades com outro tipo de atitude produziríamos resultados muito melhores", afirmou.