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Servidores de Flávio Bolsonaro repassavam 40% do salário a Queiroz, diz MP

Fabrício Queiroz, de boné, foi preso na última quinta-feira (18) - Nelson Almeida/AFP - 18.jun.2020
Fabrício Queiroz, de boné, foi preso na última quinta-feira (18) Imagem: Nelson Almeida/AFP - 18.jun.2020

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

21/06/2020 13h26Atualizada em 23/06/2020 17h47

Resumo da notícia

  • UOL fez levantamento com base na soma dos salários e repasses
  • Ex-assessor de Flávio Bolsonaro recolhia cerca de R$ 15 mil por mês
  • Recolhimentos eram feitos em datas próximas aos pagamentos de salários
  • Flávio e Queiroz negam as acusações

Os repasses de servidores do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) para Fabrício Queiroz equivalem, em pouco mais de dez anos, a 40% dos seus salários.

O levantamento foi feito pelo UOL com base nos dados do documento encaminhado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) à Justiça para pedir a prisão provisória de Queiroz, acusado de ser o operador financeiro de um suposto esquema de rachadinha. De acordo com a investigação, Queiroz recolheu R$ 2 milhões repassados por 11 ex-assessores entre abril de 2007 e dezembro de 2018.

Os recolhimentos eram feitos próximos às datas dos pagamentos dos salários dos servidores da Alerj. Eles eram ligados a Queiroz por relações de parentesco, vizinhança ou amizade, aponta o MP-RJ.

Entre os funcionários, estão as suas duas filhas e a sua esposa, Márcia Oliveira de Aguiar, que também teve prisão preventiva decretada pela Justiça e está foragida. As filhas não foram localizadas para comentar o assunto. Segundo as investigações, elas eram funcionárias fantasmas.

Os repasses mensais eram de cerca de R$ 15 mil, segundo levantamento do UOL com base no período do recolhimento apontado pela investigação.

O cálculo considerou as operações em que Queiroz foi nominalmente identificado como beneficiário das transações pelas instituições financeiras. O MP-RJ também considerou dados obtidos com o cruzamento de débitos nas contas dos assessores e créditos lançados na conta do investigado.

18.jun.2020 - Fabrício Queiroz, no momento da prisão em Atibaia-SP - Reprodução/Band - Reprodução/Band
18.jun.2020 - Fabrício Queiroz, no momento da prisão em Atibaia-SP
Imagem: Reprodução/Band

Segundo o MP-RJ, 70% dos repasses eram feitos com dinheiro vivo, para dificultar o rastreamento das transações. No mesmo período dos recolhimentos, os promotores identificaram saques feitos por Queiroz que chegaram a R$ 2,9 milhões —R$ 900 mil a mais na comparação com o valor recolhido com os 11 ex-assessores.

Para o MP-RJ, isso revela um indício de que a prática de rachadinha não se limitou ao levantamento feito pela própria investigação. Os investigadores ainda não rastrearam a origem desse valor.

"Grande parte pode ter sido repassada ao operador financeiro [Queiroz] em mãos, sem deixar rastros diretos no sistema financeiro", aponta o documento emitido à Justiça pelo MP-RJ.

"Os valores acima indicados representam apenas uma parte dos recursos desviados da Alerj e arrecadados por um dos operadores financeiros da organização criminosa investigada, mas já suficientes para comprovar (...) a materialidade e a autoria dos desvios de recursos públicos", diz o MP-RJ, em outro trecho.

Flávio Bolsonaro em foto ao lado do então assessor Fabrício Queiroz - Reprodução - Reprodução
Flávio Bolsonaro em foto ao lado do então assessor Fabrício Queiroz
Imagem: Reprodução

Flávio Bolsonaro diz ser vítima de campanha de difamação

A assessoria de imprensa de Flávio se posicionou ontem (20) por meio de nota. O texto diz que o político é vítima de uma campanha de difamação orquestrada por um grupo político. Ele alega inocência, garante que o patrimônio dele é compatível com os seus rendimentos e diz acreditar na Justiça.

Na sexta-feira (19), parlamentares da oposição entregaram uma representação no Conselho de Ética do Senado, em Brasília, pedindo a cassação de Flávio por quebra de decoro parlamentar.

Entre os motivos alegados pela oposição para o pedido estão o suposto envolvimento de Flávio com as milícias, a rachadinha, lavagem de dinheiro e emprego de funcionários fantasmas.

Sou um cara de negócios, disse Queiroz

O advogado Paulo Emílio Catta Preta contesta a prisão preventiva. Segundo ele, Queiroz estava colaborando com as investigações. Entretanto, ele faltou a depoimentos em 2018. Segundo o MP-RJ, forneceu endereço falso e ocultou o seu paradeiro, para obstruir as investigações.

A defesa de Queiroz entrou com pedido de substituição de prisão preventiva por prisão domiciliar, citando o tratamento a um câncer no intestino. Mas o pedido foi negado pela Justiça.

Em entrevista ao SBT em 2019, Queiroz negou ser "laranja" de Flávio. Segundo ele, parte da movimentação atípica de dinheiro vinha de negócios com a compra e venda de automóveis. "Sou um cara de negócios, eu faço dinheiro... Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim", afirmou na ocasião.

* Colaborou Vinicius Konchinski