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Decotelli evita defesa, mas admite cotas como meio de reduzir desigualdades

Carlos Alberto Decotelli era presidente do FNDE, autarquia do ministério da Educação - Luis Fortes/Ministério da Educação
Carlos Alberto Decotelli era presidente do FNDE, autarquia do ministério da Educação Imagem: Luis Fortes/Ministério da Educação

DO UOL, em São Paulo

26/06/2020 10h42Atualizada em 26/06/2020 14h07

O ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, evitou hoje defender abertamente a política de cotas sociais, mas admitiu que elas são um mecanismo para tentar diminuir diferenças no acesso à educação.

"Não podemos exigir resultados iguais para aqueles que não têm igualdade no acesso. Cotas dependerão sempre de reflexão de toda a sociedade", disse ele em entrevista à Rádio Bandeirantes.

Decotelli adotou um discurso neutro ao se referir à questão, mas reconheceu estruturas que mantêm o racismo na sociedade brasileira.

"Passamos mais de 300 anos com esse conceito de escravocrata. Hoje, ainda temos muitas contaminações de metodologias, subjetividades. Eu nunca, como negro, fui um George Floyd [americano negro morto por um policial branco]. Nunca sofri o racismo de tomar dois tiros nas costas. Mas [sim de] perceber olhares, de eugenia de ambientação, ou seja, criar um ambiente que não seja para negros", afirmou.

Ele ainda citou que os Estados Unidos criaram uma "pandemia racial" com os protestos antirracistas, evidenciando que o país "não aprendeu a conviver com a diferença".

O economista reforçou sua visão de que as cotas — adotadas por universidades públicas para garantir um maior número de negros e indígenas nos cursos acadêmicos — refletem uma autocrítica da sociedade. Ele mesmo disse que é bisneto de um ex-escravo liberto através da Lei do Sexagenários.

"Vamos dar oportunidades para os desiguais, vamos igualar oportunidades. Está muito fora de moda pensar sistemas de diferenças entre seres humanos. Esse negócio de cor da pele, de origem, deixe de lado. Mas neste momento, precisa de reflexão".

Assumindo a pasta

Decotelli foi anunciado como ministro da Educação ontem pelo presidente Jair Bolsonaro. Antes, ele era presidente do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), autarquia que fica dentro da pasta.

O ministro é militar da reserva da Marinha e especialista em finanças. Ele não é considerado um "olavista", mas estaria alinhado ao pensamento ideológico do presidente.

Segundo negro no cargo de ministro da Educação - o primeiro foi José Henrique Paim, no governo de Dilma Rousseff (PT) -, Decotelli assumiu a vaga deixada com a saída de Abraham Weintraub, após uma gestão de 14 meses com muitas polêmicas e dois inquéritos em curso no STF (Supremo Tribunal Federal).

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.