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Após encontro com Aras, senadores se dizem preocupados com Lava Jato

Procurador-geral da República, Augusto Aras - Adriano Machado/Reuters
Procurador-geral da República, Augusto Aras Imagem: Adriano Machado/Reuters

Guilherme Mazieiro

Do UOL, em Brasília

29/07/2020 19h00Atualizada em 29/07/2020 19h00

Após duas horas de reunião por videoconfêrencia nesta tarde com o procurador-geral da República, Augusto Aras, senadores da bancada pró-Lava Jato no Senado se disseram preocupados com a força-tarefa. Os parlamentares afirmam que, apesar da conversa "amistosa", não ficaram satisfeitos com as posições do PGR.

"As manifestações e ações do PGR militam contra o combate à corrupção, enfraquecem a credibilidade do próprio MPF e foram objeto de críticas por parte dos senadores que questionaram diretamente ao procurador-geral sobre o conteúdo de várias ilações que ele vem ventilando na imprensa e em reuniões reservadas", disse Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

Segundo Major Olimpio (PSL-SP), a reunião teve tom amigável, mas com críticas às posições de Aras. O senador disse qter pedido ao PGR que tornasse o encontro público, mas que ele preferiu manter a conversa reservada.

Segundo relatos dos participantes da reunião, Aras tentou minimizar as declarações feitas ontem contra a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e em São Paulo e disse que é preciso ter atenção "ao que diz Aras e não ao que dizem que Aras disse". Na versão dos senadores, o PGR tentou justificar que as ações sobre os procuradores da operação é uma maneira de garantir autonomia para todos procuradores combaterem a corrupção.

O encontro foi solicitado pelos senadores do grupo autointitulado Muda Senado, que defende a Lava Jato. Entre os participaram estavam Alvaro Dias (Podemos-PR), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Marcos do Val, Major Olimpio (PSL-SP), Marcos do Val (Podemos-ES), Oriovisto Guimarães (Podemos-PR).

"Ficou absolutamente claro o nosso papel vigilante em relação a isso e vamos conseguir, com essas ações de senadores, vamos continuar esse processo [de cobrança]", disse Olimpio.

Em tom mais ameno, o senador Álvaro Dias, que é amigo de Sergio Moro, disse que "[houve compromisso da] preservação dos objetivos da operação Lava Jato, que é patrimônio nacional. E ampliação dos esforços e estrutura para o combate à corrupção em todas as frentes".

Antes da reunião, Olimpio postou um vídeo com críticas a Aras. "Me parece que quer acabar de vez com a operação Lava Jato", disse.

Nas últimas semanas, o PGR aumentou o tom das críticas à Lava Jato. O procurador disse, ontem à noite, que a operação tem mais dados armazenados do que todo sistema único do MPF. Segundo ele, esses dados da força-tarefa contêm informações sobre 38 mil pessoas.

Em junho, a PGR tentou acessar dados de investigações da Lava Jato nas procuradorias do Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Os membros de Curitiba receberam Lindôra Araújo, coordenadora do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR e uma das principais auxiliares de Aras, mas se recusaram a entregar os dados e acusaram o ato de "manobra ilegal" da PGR.

Conflitos internos

Procuradores e sub procuradores-gerais, e procuradores dos MPs estaduais ouvidos pelo UOL entendem que está em campanha para centralizar poder na Procuradoria-Geral da República e reduzir a independência do Ministério Público.

Em entrevista ao vivo ao grupo de advogados Prerrogativas, o chefe da Procuradoria-Geral da República disse que há um "MPF do B" e argumentou que 50 mil documentos estão "invisíveis à Corregedoria-Geral" do MPF. O PGR não disse quem estaria ocultando os documentos. A entrevista durou mais de duas horas e a transmissão terminou às 21h11.

As declarações de Aras motivaram reações de membros da Lava Jato e do ex-juiz da operação, Sergio Moro.