Messer delata doleiros e Lava Jato vê potencial para identificar políticos
Procuradores da Lava Jato dizem acreditar que as informações e provas oferecidas por Dario Messer, conhecido como o "Doleiro dos Doleiros", em sua delação tenham potencial para identificar autoridades envolvidas em atos de corrupção. Homologado pela Justiça Federal do Rio, o acordo de colaboração premiada não envolve políticos com mandato e integrantes do Judiciário, que têm foro privilegiado.
Messer revelou ao MPF-RJ (Ministério Público Federal) informações sobre uma rede de doleiros. Isso porque, segundo o procurador Almir Teubl Sanches, da força-tarefa da Lava Jato no Rio, o círculo de relacionamentos desses operadores costuma envolver prioritariamente outros doleiros. Segundo o procurador, as investigações desdobradas a partir disso podem levar a nomes com foro privilegiado.
"Vamos pegar o caso do [ex-governador do Rio] Sérgio Cabral como exemplo. Ele não ligava para o Messer e dizia: 'Preciso mandar dinheiro para o exterior'. Ele tinha pessoas de confiança [os irmãos Marcelo e Renato Chebar] que eram acionadas e passaram a usar o sistema do Dario Messer. Talvez, Messer nem soubesse que aquele dinheiro era do Cabral. Investigaremos para quem essas pessoas [delatadas por Messer] atuavam. Por isso é difícil mensurar o alcance dessa colaboração", afirma o procurador.
Doleiro diz que emprestou US$ 13 mi a ex-presidente paraguaio
Influente, Messer tem entre seus amigos jogadores de futebol, artistas e o ex-presidente do Paraguai Horácio Cartes.
Em sua delação, ele contou detalhes sobre sua relação com Cartes, de quem diz ser amigo há mais de 30 anos. O doleiro afirmou ter emprestado US$ 13 milhões para salvar a família do ex-presidente paraguaio de uma crise financeira e disse ter ouvido de Cartes um pedido para que ele não se entregasse às autoridades brasileiras.
O acordo firmado com a Lava Jato fluminense prevê que Messer cumpra 18 anos e 9 meses de prisão —ele se encontra hoje cumprindo prisão domiciliar e, pela progressão de pena, deve permanecer por mais dois anos em casa, monitorado por tornozeleira. No entanto, se for condenado em algum processo que já respondia, cumprirá pena em regime fechado.
O doleiro também devolverá aos cofres públicos algo em torno de 99,5% do valor estimado da sua fortuna, que deve superar R$ 1 bilhão.
É a primeira vez que a força-tarefa da Lava Jato do Rio fecha acordo com um "chefe de uma organização criminosa". Os juízes federais Alexandre Libonati e Marcelo Bretas foram o responsáveis pela homologação do acordo. Para o procurador, apesar de o acordo não contemplar pessoas com foro privilegiado, trata-se de um marco em homologações deste tipo no país.
"O acordo em si já se justifica pelos termos. O Messer entrega 99,5% do seu patrimônio, que era estimado R$ 967 milhões com a cotação do dólar da época e hoje supera R$ 1 bilhão", afirmou.
"Na maioria das vezes, o colaborador não está na prisão quando assina o acordo. Messer estava em prisão domiciliar quando assinou. Os críticos da colaboração premiada costumam faz uma distorção, dizendo que a prisão pode ser usada como instrumento de pressão. Esse acordo é emblemático para quem tenta emplacar o discurso de que 'quem tem dinheiro paga e fica livre'. Ele pagou quase todo patrimônio, mas vai responder a pena de prisão superior a 18 anos", completa Sanches.
Doleiro admite ser sócio em esquema criminoso
Apesar de afirmar que é difícil precisar o alcance da colaboração de Dario Messer, o procurador diz que pela primeira vez o doleiro admitiu ter sido o principal beneficiário da mesa de câmbio paralelo operada no Uruguai pelos também doleiros Claudio Barboza, o Tony, e Vinicius Claret, o Juca Bala —ambos também são colaboradores da Lava Jato.
"Ele admitiu no interrogatório [na quarta-feira (12)] que era o principal beneficiário de todo câmbio paralelo no Uruguai deflagrado com a Operação 'Câmbio, desligo". É um esquema que envolve 52 países, mais de 3.200 empresas e offshores que receberam ou fizeram transferências. O Messer não não comandava a parte operacional do esquema. Juca e Tony faziam essa parte, mas ele tinha o domínio do esquema, era quem tratava pessoalmente com doleiros maiores. Daí, o apelido 'Doleiro dos Doleiros'", explica.
No auge, Messer movimentou US$ 1,6 bilhão
O nome de Messer ganhou notoriedade com a descoberta de esquemas criminosos liderados por Sérgio Cabral (MDB-RJ), preso pela Lava Jato desde 2016 e condenado a mais de 280 ano de prisão.
O dinheiro de Cabral oriundo de propina e crimes de corrupção teria sido ocultado por Messer no Uruguai.
O banco paralelo liderado por ele movimentou mais de R$ 1,6 bilhão entre 2011 e 2017, de acordo com as investigações.
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