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Moro parcial e 'defesa' de Lula e Pimentel: a mudança de discurso de Witzel

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

28/08/2020 16h45

Wilson Witzel (PSC), afastado do cargo de governador do Rio por determinação do STJ (Superior Tribunal de Justiça), fez hoje pronunciamento em que mudou o discurso, descolando-se de bandeiras defendidas desde a campanha eleitoral.

Ele criticou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acusou Sergio Moro de parcialidade na Operação Lava Jato. Antes de embarcar na onda bolsonarista que o elegeu em 2018, o ex-juiz federal adotou como marca da campanha a Lava Jato —entre suas propostas, estava a adoção de uma força-tarefa aos moldes da operação para administrar o Rio de Janeiro.

Quando sua campanha ganhou a adesão do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), Witzel reforçou os ataques aos governos petistas.

Após seu afastamento —que a princípio pode durar seis meses—, Witzel também criticou investigações conduzidas pela PGR contra Fernando Pimentel (PT).

Eu não sou a favor de Lula e nem contra Lula. Mas o STF está chegando à conclusão de que infelizmente o ex-ministro Sergio Moro foi parcial. E, com essa decisão, evitou-se que o ex-presidente Lula disputasse a Presidência da República. Eu estou extremamente preocupado com os caminhos pelos quais o nosso país está seguindo. Como morrem as democracias? Aniquilando os adversários com o uso da máquina pública e cooptando as instituições

Wilson Witzel, em pronunciamento no Palácio das Laranjeiras

"Medidas precisam ser tomadas para que afastamento de governador, de presidente e de prefeitos tenham algumas balizas um pouco mais rigorosas."

Em julho, a Justiça Federal decidiu arquivar inquérito contra o ex-governador de MG a pedido do MPF alegando falta de provas na acusação de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. A investigação da PF —um desdobramento da Operação Acrônimo —apurava suposto esquema de financiamento ilegal de campanhas eleitorais em 2012.

Na época, Pimentel era ministro do Desenvolvimento no governo Dilma —ele foi investigado por suspeita de favorecer empresas e receber vantagens indevidas.

Witzel ainda falou sobre a investigação contra o ex-presidente Michel Temer (MDB) para atacar o que cita como "uso de delações mentirosas usadas politicamente".

"A delação desse canalha do Edmar [Edmar Santos, ex-secretário de Saúde do RJ] é uma delação mentirosa. O governador Pimentel (...) esperaram cinco anos para dizer que não tinham provas contra ele. O processo contra o ex-presidente Temer. A decisão foi de absolvição. O processo penal brasileiro está se transformando num circo", atacou.

Witzel sugere interferência da família Bolsonaro

Witzel voltou a pregar o discurso de combate à corrupção e sugeriu interferência da família Bolsonaro nas investigações. Ele falou que uma suposta proximidade da subprocuradora Lindora Araújo com a família Bolsonaro teria, no seu entendimento, induzido o STJ.

"[Ela] está se especializando em perseguir governadores, desestabilizar os estados com investigações rasas e buscas e apreensões preocupantes. Estamos sendo vítimas do possível uso político da instituição", acusou.

"Bolsonaro já declarou que quer o Rio de Janeiro. Já me acusou de perseguir a família dele. Mas, diferentemente do que ele imagina, aqui, a Polícia Civil é independente. O Ministério Público é independente".

'Questão agora é pessoal'

O governador afastado do Rio desafiou a subprocuradora a apresentar provas que o incriminem.

"A questão agora é pessoal. Ela me adjetivou como chefe de organização criminosa. Quero que ela apresente um único e-mail, um único telefonema, uma prova testemunhal, um pedaço de papel em que eu tenha pedido qualquer tipo de vantagem ilícita", disse.