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Quem é quem na operação que levou ao afastamento de Witzel

Carros da PF no Palácio das Laranjeiras; no destaque, Wilson Witzel - Letícia Lopes/Agência O Globo; Ana Branco em 20/01/2020/Agência O Globo
Carros da PF no Palácio das Laranjeiras; no destaque, Wilson Witzel Imagem: Letícia Lopes/Agência O Globo; Ana Branco em 20/01/2020/Agência O Globo

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

28/08/2020 10h33

Uma operação da PF busca na manhã de hoje políticos e empresários envolvidos em um suposto esquema de desvios na saúde pública do Rio de Janeiro, que seria liderado por Wilson Witzel (PSC) e que, por isso, levou o STJ (Superior Tribunal de Justiça) a determinar o afastamento imediato do governador.

Entre os alvos da operação da PF, estão a mulher de Witzel; o presidente do PSC, Pastor Everaldo; o advogado Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Witzel; e o médico e ex-prefeito de Volta Redonda Gothardo Lopes Netto.

Também há mandados de prisão, segundo a PF, contra os empresários Mário Peixoto e os sócios Alessandro Duarte e Cassiano Luz, mas eles já estão presos desde maio deste ano. Saiba quem é quem, segundo as investigações da operação que levou ao afastamento de Witzel:

Wilson Witzel

Governador do RJ, Wilson Witzel - Adriano Machado - Adriano Machado
Imagem: Adriano Machado

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o governador do Rio de Janeiro era o líder de um esquema de propinas abastecidas por organizações sociais e seus fornecedores. A denúncia diz que, desde sua eleição, em 2018, o governador estruturou uma organização criminosa, dividida em três grupos, que disputavam o poder mediante pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos.

Helena Witzel

O governador do Rio, Wilson Witzel e a esposa Helena Witzel no Camarote Quem - Graça Paes/AgNews - Graça Paes/AgNews
Imagem: Graça Paes/AgNews

A primeira-dama do Rio de Janeiro costuma participar das reuniões do marido. A denúncia sustenta que Witzel utilizou o escritório da mulher para receber propina em um valor que chega a R$ 500 mil, ao todo. Um e-mail escrito por Witzel orientava interessados em contratos a redigir os documentos no escritório de sua mulher.

Pastor Everaldo

Policiais conduzem Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, na chegada à sede da Polícia Federal - 28.ago.2020 - Alexandre Brum/Enquadrar/Estadão Conteúdo - 28.ago.2020 - Alexandre Brum/Enquadrar/Estadão Conteúdo
Imagem: 28.ago.2020 - Alexandre Brum/Enquadrar/Estadão Conteúdo

Presidente do PSC, disputou a Presidência da República em 2014, ficando em quinto lugar, com 780 mil votos. Pastor da Assembleia de Deus em Madureira e com mais de 30 anos de atuação na política, Everaldo transitou por governos de esquerda e de direita. Ele e Witzel, porém, vinham se distanciando nos últimos meses.

Ele foi preso depois de mandado também expedido pelo STJ. Era esperado pela Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), na próxima semana, onde iria prestar depoimento à Comissão Especial que apura irregularidades durante a pandemia do coronavírus.

Gothardo Lopes Netto

Gothardo Lopes Netto - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Segundo as investigações, negociações paralelas, envolvendo créditos de organizações sociais da área de saúde, foram conduzidas por Gothardo Lopes Netto, médico, ex-prefeito de Volta Redonda e ex-deputado estadual. Gothardo estaria por trás da Apmim (Associação de Proteção à Maternidade e a Infância de Mutuípe), a organização social que opera o Hospital Regional Zilda Arns, em Volta Redonda.

Neste ano, o governo do Rio de Janeiro lançou edital, com dispensa de licitação, para aumentar os leitos da unidade na adaptação do hospital Zilda Arns para virar referência para o tratamento do novo coronavírus. A própria Apmim foi selecionada para esse novo contrato de seis meses, no valor de R$ 58 milhões, o que está sendo questionado pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado).

Lucas Tristão

Lucas Tristão, secretário de desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro - Caio Blois/UOL - Caio Blois/UOL
Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio
Imagem: Caio Blois/UOL

Lucas Tristão foi secretário do Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro até junho deste ano.

Antes disso, a investigação indicou que Witzel recebeu R$ 284 mil do escritório do advogado Lucas Tristão, em 2018, período de disputa eleitoral para governador, para analisar uma petição de 14 páginas, ajuizada pela empresa Atrio Rio que tinha interesse de tentar anular uma licitação da Secretaria Estadual de Educação.

Na campanha, Witzel negava relações com o empresário Mário Peixoto, mas recebeu o pagamento de R$ 284 mil apesar de a Átrio ter atribuído à causa no Tribunal de Justiça do Rio apenas R$ 1 mil. Tristão também é ligado ao médico Gothardo Lopes Netto, de acordo com as investigações.

Mário Peixoto

Cinco pessoas foram presas em ação de PF (Polícia Federal) que levou o empresário Mário Peixoto para a prisão na manhã de hoje - Dirkan Junior/Futura Press/Estadão Conteúdo - Dirkan Junior/Futura Press/Estadão Conteúdo
Imagem: Dirkan Junior/Futura Press/Estadão Conteúdo

O empresário Mário Peixoto foi o elo entre os esquemas Witzel e Cabral, segundo as investigações. Ele teria não apenas mantido o esquema de corrupção do governo anterior como o ampliou, montando uma rede de empresas de fachada.

Alessandro de Araújo Duarte é apontado como operador do esquema de Peixoto. Em junho, foi encontrado um contrato entre o escritório de advocacia da primeira-dama e a DPAD Serviços Diagnósticos Limitada, que tem Alessandro como sócio, mas seria de fato uma empresa-satélite de Peixoto.

Alessandro Duarte

É apontado como um dos procuradores de uma conta bancária com movimentações suspeitas e já estava preso, desde maio. O MPF diz que interceptações telefônicas demonstraram que ele exerce contato com agentes públicos, o que foi corroborado pelas mensagens identificadas em seu telefone celular apreendido.

Juan Elias Neves de Paula

Assim como Alessandro de Araújo Duarte, Juan Elias Neves de Paula teria contrato de advocacia com a empresa DPAD Serviços Diagnósticos Limitada.

Cassiano Luiz da Silva

Cassiano Luiz da Silva, sócio de Mário Peixoto, teria rasgado documentos que poderiam ser usados como provas de suas relações com o governo Witzel.

José Carlos de Melo

José Carlos de Melo ocupou o cargo de pró-reitor administrativo da Unig (Universidade Iguaçu), instituição privada na Baixada Fluminense, até junho deste ano. Foi apresentado a Wilson Witzel pelo Pastor Everaldo nas eleições de 2018, por indicação do ex-prefeito de Nova Iguaçu Nelson Bornier. Ele é citado em delação e teria reivindicado oferta de ensino a distância por meio do esquema.

O que dizem as defesas

Em nota, a defesa de Witzel disse que "recebe com grande surpresa a decisão de afastamento do cargo, tomada de forma monocrática e com tamanha gravidade". Não há mandado de prisão expedido contra o governador.

Já a defesa de Pastor Everaldo disse que o presidente do PSC "sempre esteve à disposição das autoridades e reitera a sua confiança na Justiça".

As defesas dos demais envolvidos ainda não foram localizadas.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que informou a reportagem, José Carlos de Melo não é mais pró-reitor da UNIG. Ele deixou a universidade em junho. A informação foi corrigida.