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Operação Lava Jato

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Zanin fala em ligação de Bretas com Bolsonaro e tentativa de intimidação

27.nov.2019 - O advogado Cristiano Zanin Martins - Raul Pereira/Fotoarena/Estadão Conteúdo
27.nov.2019 - O advogado Cristiano Zanin Martins Imagem: Raul Pereira/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

09/09/2020 10h56Atualizada em 09/09/2020 16h04

O advogado Cristiano Zanin Martins, um dos alvos da força-tarefa da Lava Jato do Rio de hoje, afirmou que o juiz federal Marcelo Bretas, que expediu mandados de busca e apreensão contra ele, é ligado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que a operação teve como intuito tentar intimidá-lo.

A força-tarefa da Lava Jato no Rio denunciou hoje os advogados Zanin e Roberto Teixeira, que defendem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por suspeita de liderar esquema de fraudes no Sistema S e na Fecomercio fluminenses. Bretas aceitou a denúncia e os transformou em réus.

Em nota divulgada, Zanin afirmou que houve abuso de autoridade ao autorizar a "invasão" do escritório e da casa de um advogado com mais de 20 anos de carreira.

"O juiz Marcelo Bretas é notoriamente vinculado ao presidente Jair Bolsonaro e sua decisão no caso concreto está vinculada ao trabalho desenvolvido em favor de um delator assistido por advogados ligados ao senador Flávio Bolsonaro. A situação fala por si só", afirmou.

Bretas virou alvo de processo disciplinar por ter comparecido a uma inauguração ao lado de Jair Bolsonaro e outros políticos em fevereiro. De acordo com o TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), o processo administrativo disciplinar contra o magistrado corre em sigilo.

Na nota, Zanin também declarou que a operação de hoje "somente pode ser entendida como mais uma clara tentativa de intimidação do Estado brasileiro pelo meu trabalho como advogado, que há tempos vem expondo as fissuras no Sistema de Justiça e do Estado Democrático de Direito".

O advogado afirmou que todos os serviços prestados à Fecomercio entre 2011 e 2018 foram devidamente documentados em sistema auditável. Ele disse que houve comprovação sobre a "efetiva realização dos serviços que foram contratados". Declarou, também, que todos os pagamentos foram aprovados em assembleia da entidade.

Ele sustentou que a Fecomercio é uma entidade privada, que representa milhares de empresários e comerciantes do Rio. "Bretas é juiz federal e sequer tem competência para tratar de pagamentos realizados por uma entidade privada, como é a Fecomercio", afirmou Zanin.

O advogado relembra que a Lava Jato, em 2016, "tentou transformar honorários sucumbenciais que nosso escritório recebeu da Odebrecht, por haver vencido uma ação contra a empresa, em valores suspeitos —e teve que admitir o erro posteriormente".

Na nota, Zanin também diz que, naquele mesmo ano, a Lava Jato autorizou a interceptação do principal ramal do escritório para ouvir conversas entre os advogados e o ex-presidente Lula.

"[Houve] grave atentado às prerrogativas profissionais e ao direito de defesa. Não bastasse, em 2018 a Lava Jato divulgou valores que o nosso escritório havia recebido a título de honorários em decorrência da prestação de serviços advocatícios", complementou.

Zanin disse ainda que "todas as circunstâncias" da operação "serão levadas aos foros nacionais e internacionais adequados para que os envolvidos sejam punidos e para que seja reparada a violação à minha reputação e à reputação do meu escritório".

Operação

No mesmo conjunto de ações, batizado de Operação E$quema S, o advogado Frederick Wassef, que já defendeu o presidente e seu filho Flávio Bolsonaro, também é alvo de busca e apreensão.

As buscas são feitas em escritórios de advocacia, endereços pessoais e de empresas envolvidas em supostas fraudes, que ocorreram de 2012 a 2018 e desviram pelo menos R$ 151 milhões, segundo as investigações.

Ao todo, a Lava Jato denunciou 26 pessoas ligadas a escritórios de advocacia por organização criminosa, estelionato, corrupção (ativa e passiva), peculato, tráfico de influência e exploração de prestígio.

A investigação apurou que o esquema movimentou cerca de R$ 355 milhões em contratos feitos com a Fecomércio e pagos pelo sistema S, que inclui o Sesc (Serviço Social do Comércio) e o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), para serviços de advocacia que não teriam sido realizados.

O escritório de Zanin e Teixeira recebeu R$ 67,8 milhões no período sob investigação.

Apoio do PT

O PT divulgou uma nota apoiando o advogado e afirmando que a ação de busca e apreensão contra o advogado foi "um ato político desesperado de retaliação e intimidação ao seu trabalho".

Leia a nota na íntegra.

A Bancada do PT na Câmara dos Deputados manifesta seu veemente repúdio frente à ação covarde da Operação Lava Jato do Rio de Janeiro, sob comando do juiz Marcelo Bretas, contra o advogado Cristiano Zanin Martins, responsável pela defesa do ex-presidente Lula e autor de várias denúncias contra a Operação.

Consideramos a ação de busca e apreensão na casa e no escritório de Zanin um ato político desesperado de retaliação e intimidação ao seu trabalho realizado nos últimos anos, o qual tem contribuído para expor as injustiças do Sistema de Justiça brasileiro, bem como os ataques ao Estado Democrático de Direito no País.

Não pode ser considerada uma mera coincidência o fato de a delação contra Zanin ser assinada por advogadas de Flávio Bolsonaro que o representam no caso Fabrício Queiroz.

A ação de hoje reflete as derrotas que a Operação Lava Jato vem sofrendo no último período em consequência dos abusos cometidos por seus procuradores e pelo ex- juiz Sergio Moro.

Que a verdade e a justiça sejam restabelecidas!

Nossa solidariedade a Cristiano Zanin e à sua equipe.

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