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Vice-governador é alvo de operação no AM, e ex-secretário da Saúde é preso

Policias realizam buscas na sede do governo do Amazonas - Edmar Barros/Futura Press/Estadão Conteúdo
Policias realizam buscas na sede do governo do Amazonas Imagem: Edmar Barros/Futura Press/Estadão Conteúdo

Rosiene Carvalho*

Colaboração para o UOL, em Manaus

08/10/2020 15h36Atualizada em 08/10/2020 16h06

O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (PTB), foi alvo da segunda fase da Operação Sangria, realizada pela PF (Polícia Federal), na manhã de hoje. Na sede do governo, os agentes realizaram buscas no gabinete do vice-governador e também na casa dele.

De acordo com a PGR (Procuradoria Geral da República), ele e o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), tinham conhecimento e autorizaram desvios de dinheiro público na saúde durante a pandemia do novo coronavírus. Na primeira fase, Wilson Lima teve sua casa e gabinete revistados pela PF.

As ações de hoje cumpriram cinco mandados de prisões temporárias e 11 mandados de busca e apreensão em endereços de seis investigados. Os cinco presos na operação de hoje foram:

  • Dayana Priscila Mejia de Sousa, ex-subsecretária de Atenção à Saúde em Manaus
  • Gutemberg Alencar, empresário e ex-militar, apontado pela PGR como "homem de confiança" do governador
  • Luiz Carlos Avelino Júnior, empresário, médico e marido da secretária de comunicação do Amazonas, Daniella Assayag
  • Rodrigo Tobias, ex-secretário estadual de Saúde
  • Ronald Gonçalo de Caldas Santos, engenheiro clinico

As ordens foram requeridas pela subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo e expedidas pelo ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça, que determinou ainda o sequestro de bens e valores dos investigados.

Durante o pico da pandemia, o estado do Amazonas comprou respiradores inadequados para covid-19 em uma loja de vinhos por valores com 133.67% de sobrepreço, conforme noticiou o UOL com exclusividade em abril. Na época, pessoas morreram sem acesso à UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo).

Segundo a PF, Gutemberg Alencar foi o elo entre as irregularidades e a cúpula do governo. "Há vários indícios de participação do empresário que funcionava como articulador e elo do governo, da cúpula do governo e a empresa contratada", declarou o delegado Henrique Albergaria em entrevista nesta manhã.

Em 25 de julho, o UOL publicou com exclusividade o depoimento da ex-gerente de compras da Susam (Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas) Alcineide Figueiredo apontando Alencar como operador da compra superfaturada de respiradores a mando do governador do estado.

A PGR (Procuradoria Geral da República) informou que "provas reunidas na primeira fase mostram que o governador Wilson Lima exercia domínio completo dos atos relativos à aquisição dos respiradores e dos atos ilícitos".

De acordo com o delegado regional de combate ao crime organizado da Superintendência da PF no Amazonas, Henrique Albergaria, o vice-governador tinha "ingerência" nas decisões tomadas pelo comando da secretaria de Saúde que efetuou as compras irregulares.

A PGR afirma que o vice-governador tinha "grande influência" na Susam e que "provas" apontam que a cúpula da secretaria de saúde se reportava a ele com frequência para tratar dos contratos do setor.

"Ao longo da investigação foi possível extrair indícios que o vice tinha ingerência e influência direta nas decisões da pasta da Susam", afirmou o delegado.

Envolvimento da cúpula do governo

Presa na primeira fase da operação, a ex-gerente de compras da Susam declarou, em depoimento à PF, que a fraude ocorreu com o conhecimento de Rodrigo Tobias, então secretário estadual de Saúde, e da Casa Civil, na ocasião chefiada pelo vice-governador Carlos Almeida Filho.

A investigação aponta que o governo do Amazonas ignorou uma proposta mais barata dos respiradores da empresa Sonoar. Depois, descobriu-se que a Sonoar comprou os respiradores de fornecedores em outros estados a um total de R$ 1 milhão e os vendeu por R$ 2,4 milhões num intervalo de seis dias para a loja de vinhos que, por sua vez, negociou com valores superfaturados para o governo.

A Sonar é a empresa que mais lucrou na transação e vendeu os respiradores à Vineria Adega 2h30 antes da mesma vender os aparelhos ao governo do Amazonas. A suspeita é que a loja de vinhos tenha entrado na compra para não ficar evidente que o negócio envolvia uma pessoa da família de uma secretária de Estado.

O delegado afirmou que o empresário, com o lucro dos respiradores, comprou cerca de 10 mil testes rápidos de covid-19 para "possivelmente" revendê-los ao governo do Amazonas. O negócio não se efetivou.

A operação investiga a suspeita de irregularidades na compra de 28 respiradores envolvendo um contrato de R$ 2,4 milhões. A subprocuradora-geral da República Lindora Araújo sustenta que uma organização criminosa se instalou no Amazonas com o objetivo de desviar recursos públicos que deveriam ser destinados a atender ás necessidades da pandemia.

Outro lado

O governo do Amazonas emitiu nota informando que está contribuindo com a apuração da Polícia Federal e órgãos de controle. Destacou que nesta fase a PF teve como alvo pessoas que já não fazem mais parte da "estrutura do governo". A investigação tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça) porque o governador do Amazonas é um dos investigados e tem foro privilegiado.

A reportagem tentou ouvir advogados do vice-governador, do empresário Gutemberg Alencar e do médico Luiz Avelino, mas não houve resposta. Já as defesas do ex-secretário Rodrigo Tobias, da ex-subsecretária Dayana Priscila e do engenheiro clínico Ronald Santos não foram localizadas.

* Com informações do Estadão Conteúdo