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"Não interfiro, mas é do coração", diz Bolsonaro ao expor torcida por Trump

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

20/10/2020 12h18

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje, durante assinatura de um acordo entre Brasil e Estados Unidos, que torce pela reeleição de Donald Trump e, caso isso ocorra, que viajará a Washington em janeiro para acompanhar a solenidade de posse.

Trump concorre à reeleição pelo partido republicano e, de acordo com as pesquisas de opinião, está em desvantagem na batalha contra o democrata Joe Biden. A votação será realizada em 3 de novembro.

Ao lado do embaixador Robert O'Brien, conselheiro de Trump para assuntos de segurança nacional, Bolsonaro procurou esclarecer que estava apenas a expor um sentimento, uma torcida "de coração", e ressaltou que o gesto não seria, segundo ele, uma tentativa de interferência.

"Espero, se essa for a vontade de Deus, comparecer à posse do presidente brevemente reeleito nos EUA. Não podia esconder isso. Não interfiro, é do coração, pelo respeito que tenho com americanos e pelo trabalho e consideração que ele teve conosco que me manifesto desta forma neste momento."

Bolsonaro recebeu O'Brien na manhã de hoje no Palácio do Planalto, em Brasília, e depois o acompanhou até o Palácio do Itamaraty, onde ocorreu a solenidade de assinatura de um "memorando de entendimento".

O acordo permitirá ao Brasil contratar empréstimos junto ao Banco de Fomento norte-americano (EximBank) a fim de financiar iniciativas de exportação na área de tecnologia, telecomunicações (o que inclui o 5G), petróleo e gás, indústria, entre outros setores. O valor global estimado é de até R$ 1 bilhão.

De acordo com a presidente do banco, Kimberly Reed, o valor inclui US$ 345 milhões para reformas em Angra 1 pela norte-americana Westinghouse. Também serão investidos recursos para a compra, por produtores brasileiros, de aviões agrícolas produzidos no Texas.

Além do acerto comercial, a missão chefiada por O'Brien no Brasil tem uma outra função: convencer o Brasil a criar barreiras à expansão da gigante chinesa Huawei na implementação da tecnologia 5G. A empresa asiática tem avançado nesse mercado, o que contraria os interesses econômicos do governo americano.

Nos bastidores do Itamaraty, a torcida declarada de Bolsonaro por Trump é vista com ressalva, pois as pesquisas mostram que, se o pleito fosse realizado hoje, provavelmente o candidato à reeleição seria derrotado. Há preocupação em relação ao futuro da relação bilateral em caso de uma vitória de Biden.

Bolsonaro e Trump são aliados estratégicos dentro do contexto geopolítico nas Américas. Por meio de declarações públicas ou compromissos oficiais, eles já trocaram elogios mútuos. Desde que chegou ao poder, o brasileiro nunca escondeu a sua admiração pessoal pelo mandatário norte-americano —tido como um líder global do movimento conservador.

Em fevereiro deste ano, Bolsonaro chegou a fazer uma transmissão ao vivo em suas redes para comemorar a absolvição de Trump no processo de impeachment que se desenhava contra ele no Parlamento americano.

Os dois também trocaram afagos durante a pandemia do novo coronavírus. Quando o primeiro caso de covid-19 foi confirmado no Brasil, por exemplo, Trump chamou o brasileiro de "um grande amigo" e adaptou seu slogan de campanha para "make Brazil great again" (fazer o Brasil grande de novo, em tradução livre) durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca (realizada em fevereiro).

Hoje, na assinatura de um acordo de financiamento bilateral para projetos na área de exportação, Bolsonaro voltou a dizer que essa boa relação entre as partes é fundamental para o interesse do país.

Ingresso na OCDE

O presidente brasileiro conta com o apoio norte-americano na tentativa de conseguir uma vaga na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). "Os Estados Unidos estão na vanguarda da nossa entrada na OCDE", destacou Bolsonaro.

Conhecida como o grupo dos países desenvolvidos, a OCDE tem como principal missão incentivar o progresso econômico e o comércio mundial. Atualmente, a instituição conta com 37 países-membros.

O Brasil vem tentando o ingresso na OCDE desde 2017, quando oficializou o pedido. Na avaliação do governo Bolsonaro, dos países que também querem uma vaga no grupo, o Brasil é o que atende ao maior número de requisitos. Em julho, foram aprovados seis instrumentos legais, todos na área de ciência e tecnologia.

Com isso, o país já cumpriu, até o momento, 90 dos 252 instrumentos exigidos para atingir o objetivo. Ou seja, 35% do total dos requisitos, de acordo com informações divulgadas pela Casa Civil.